A visita a este parque dos monstros inicia-se passando por um arco de pedra com cerca de 500 anos que levam a uma encruzilhada de escadarias envoltas em árvores e folhas que transmitem uma sensação pouco confortável para os menos aventureiros.
A pouco mais de 90 quilómetros do norte da cidade de Roma está o Sacro Bosco, ou como é conhecido o "parque dos monstros". Mandado construir pelo Pier Francesco 'Vicino' Orsini, um grande líder militar da altura e patrono das artes.
O jardim foi projetado ignorando a tradicional linha renascentista italiana. Em vez de fontes ornamentadas, cercadas de sebes e de deuses e deusas romanas esculpidas, Orsini deixou as árvores e os arbustos crescerem sem orientação e encheu o seu jardim de criaturas incomuns e grotescas.
Depois da morte de Orsini, o Sacro Bosco foi abandonado à sua sorte e à da natureza. Só vários séculos depois suscitou interesse por parte do público, tendo sido impulsionado pelas visitas do artista Salvador Dalí. O próprio Dalí inspirou-se nas criaturas gigantes cobertas de musgo e produziu uma curta-metragem em 1948 sobre este tema. Além disso, há também pinturas da década de 60 sobre o Sacro Bosco.
Este renovado interesse pelo Sacro Bosco estimulou o debate entre os estudiosos da história de arte, que continua até hoje: o que Orsini tentou comunicar através da sua criação bizarra?
Há quem acredite que os monstros foram inspirados por Arcadia, a representação de Utopia descrita em Aeneid de Virgil e Orlando Furioso de Ludovico Ariosto - um lugar onde a arte e a natureza estão entrelaçadas. Outros argumentam que Orsini construiu o Sacro Bosco para combater o jardim do seu amigo, Cristoforo Madruzzo. O jardim de Madruzzo, nas proximidades de Soriano di Cimino, representava tudo o que era bom e leve no mundo, enquanto Orsini, construído em oposição direta a Madruzzo, representa os seus elementos escuros e discordantes.
Há ainda uma terceira visão em que as criaturas malvadas representam os demónios pessoais de Orsini nascidos das tragédias da sua vida. Um general no exército do papa durante a Reforma, Orsini passou vários anos como prisioneiro de guerra na Alemanha após uma campanha militar em 1553.
De acordo com Melinda Schlitt, professora de história da arte e humanidades no Dickinson College, no centro da Pensilvânia, EUA, a resposta para entender o propósito do jardim reside nas inscrições que Orsini deixou para trás.
Escondido perto do coração do jardim está o belvedere, uma pequena perspetiva que lembra a torre de um castelo. Uma pequena escada serpenteia ao seu lado, acompanhada da inscrição: "E todas as outras maravilhas antes apreciadas pelo mundo cederam ao Sacro Bosco que se assemelha apenas a si mesmo e nada mais".
Em outras palavras, em vez de procurar o significado por trás da criação de Orsini, devemos apreciar o jardim pela maravilha que ele é.
Muitos dos monstros agora descansam pacificamente atrás de pequenas barreiras onde as suas características macabras podem ser protegidas dos turistas.
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