Não queria contar para que não fossem todos lá, mas temos de partilhar o que nos muda para melhor. Certo? A massificação será inevitável em poucos anos, como já se vê em Siem Reap. A poluição ainda está contida, assim como o cuidado dos ‘vigilantes’ que nos vão seguindo para assegurarem que os turistas não cometem sacrilégios aos templos como, por exemplo, deitar no chão de um templo para obter aquela super foto. Sim, eu fiz isso porque inundo o meu Instagram quando viajo e gosto de conteúdos criativos, mas fui chamada à atenção. Contudo, o vigilante vinha acompanhado de um sorriso cúmplice.

No centro da cidade confusa e amistosa de Siem Reap, onde australianos e americanos são os principais visitantes, quando algumas nativas me perguntaram de onde era, não perceberam a localização de Portugal. Generalizei, numa troca de sorrisos: "Europa". Gostava eu de ter a altura de sorriso daquela gente. Uma delas, muito assertiva: “Ah, tu vives no sítio do Mundo onde faz gelo!” Não era uma criança, era uma mulher jovem (e mãe) muito simpática e não consegui retirar-lhe o sol daquele sorriso. Ela ainda acrescentou que ali, em Siem Reap, era onde nascia o sol.

Não fui capaz, mesmo, de retirar-lhe essa herança tão dela. E quando forem ao Camboja, sobretudo a Siem Reap e às ilhas paradisíacas de Koh Rong que quase ninguém explorou perceberão que não é possível contrariar aquele sorriso cambojano. As pessoas dali, por si só, são ‘a viagem’. Além dos gigantes sorrisos, muito similares aos do Vietname, o Camboja oferece o que mais se conhece deste reino: Angkor Wat, em Siem Reap. Mas há tanto mais e que nem nos hashtags do Instagram é popular. Que bom que assim é!

Não vá ao Camboja... a não ser que procure uma das melhores viagens de sempre
Não vá ao Camboja... a não ser que procure uma das melhores viagens de sempre créditos: Unsplash

Fui três vezes ao Camboja e os templos colossais fascinaram-me a mente e fizeram-me sentar, quase consternada, a olhar para os mistérios de Angkor Wat. Sim, sentar. Sim, consternada. Tem de se tomar fôlego entre o calor intenso e a energia silenciosa que, ali, podem sentir ao longo de quilómetros de estradas polvilhadas de templos. A consternação é um termo inusitado num texto alegre de viagens. De facto, é consternação pois provavelmente irão experienciar esta sensação: como é que ainda ninguém me tinha contado histórias sobre esta energia do Camboja? Os cambojanos sofreram um ‘recente’ genocídio hediondo, no entanto nunca lhes roubaram o sorriso ingénuo e recebem os turistas sem medo.

É de aproveitar os preços muito económicos de viagem para lá. Uma dica: ir através da Tailândia como destino principal e depois voar, ou ir por terra de forma risivelmente económica, até ao reino do Camboja. Contudo aconselho a passagem aérea.

Portugueses não precisam de visto, mas levem algumas fotos de passe e moeda norte-americana. Não usem euro. Na entrada, que costuma ter um fila morosa, preparem 30 dólares e as fotos. Depois, comecem a aventura.

Quanto a Angkor Wat, podem fazer tudo de tuk-tuk e será cerca de trinta dólares americanos. Mais o valor da entrada na área do Património Angkor, mas é um valor baixíssimo dado aquilo que vos espera. Podem também ir de carro, em tour privado ou em grupo. Eu preferi sentir o vento quente no rosto, o pó vermelho da terra Khmer que se acumulava na minha pele. E acenar às crianças que vinham da escola nas suas fardas escrupulosamente cuidadas, alheadas do calor e da escassez que por ali se vê. Conto-vos mais sobre o que escassez pode ser abundância num próximo artigo.

Mas não se trata apenas de templos Khmer e de árvores que parecem fábulas petrificadas. Árvores que são alvo das melhores fotos que pode encontrar no Instagram, sobretudo a árvore do templo (Ta Prohm) onde se gravou um dos filmes da saga “Tomb Raider”. E sim, é verdade, saem borboletas da boca de um dos templos. Não se percebe de onde e não vale a pena perguntar.

Templo no Camboja
Templo no Camboja Na fronteira com a Tailândia

Sinta, guarde a energia. Ah, mas essas árvores são mais bonitas se fizer cerca de 100 quilómetros (com motorista e não é de tuk-tuk) até à fronteira com a Tailândia (perto dos Montes Dângrêk). E lá encontra mais templos e ruínas… vai ficar literalmente a sentir-se noutra dimensão. Ali o silêncio é enorme, consegue visitar e tirar as suas fotografias sem as enchentes de Angkor. O calor é o mesmo, mas vale tanto a pena.

O Camboja guarda também as ilhas e praias mais bonitas que já vivenciei. Chega-se a Sihanoukville por meio de voos muito económicos e dali pode fazer a travessia de barco (há vários horários, mas basta lá pedir a informação).

Sihanoukville
Sihanoukville Sihanoukville, um paraíso de praias e ilhas créditos: Unsplash

Pode explorar, em tours de mergulho e com outras atividades incluídas, as ilhas que estão pertinho. São inacessíveis de outra forma, são paraísos de camas de rede e, por vezes, sem eletricidade.

Quase impossíveis de narrar são as praias de Koh Rong. Chega lá através de barcos bem guarnecidos, saindo de Sihanoukville. Há tuk-tuks a sair de todos os hotéis e hostels. Os gerentes agendam tudo.

Os hotéis são, aqui, praticamente dominados por americanos, holandeses, alemães. Pessoas que me disseram que nunca mais querem voltar a casa. Estão e vivem ali felizes, porque por acaso encontraram as ilhas do Camboja. Vai ouvir isto em várias das praias deste reino de águas e pessoas inigualáveis.

Atreva-se de alma, pois de corpo é seguro. Fogueiras na praia, baloiços pendendo das árvores, hotéis económicos e muito pitorescos, corridas a cavalo no mar, mergulhos sôfregos onde, de noite, a flora e fauna ficam luminescentes. Tours seguras e de valores atrativos, onde conhece várias nacionalidades e consegue fazer várias atividades num dia só.

Não vá ao Camboja... a não ser que procure uma das melhores viagens de sempre
Não vá ao Camboja... a não ser que procure uma das melhores viagens de sempre Passeio a cavalo

A comida é variada até porque os estrangeiros que regulam a hotelaria, as festas e as tours fazem questão de incluir a gastronomia dos seus países também. Cuidado com a água, nem sempre potável.

Depois de explorar as tours, as festas ou momentos mais românticos, como jantar à luz das velas mas com os pés na espuma do mar, então descanse num hotel ou num bungalow. No dia seguinte, já tem a força toda, de novo, para mais uma tour ou estenda-se na praia e tente pensar se está a sobreviver à transformação bonita que vai sentir. É como uma meditação induzida ir a estas ilhas.