Por Tânia Neves, líder de viagens The Wanderlust e autora do blog travelling with tania
Das tantas vezes que volto à Mongólia, apresento aqui o que ainda me continua a impressionar. Sugestões que servem de convite para visitarem o país, ou pelo menos dar a conhecer sugestões de livros e filmes. Acho que todas as pessoas deviam visitar um destino como a Mongólia, pelo menos uma vez na vida. Somos completamente despidos da nossa zona de conforto, em vários aspetos: do alojamento à alimentação, dos transportes ao vestuário, passando por religiões e crenças. É um regresso às raízes humanas: o nosso lugar no mundo; o desligar do materialismo e sentimento de posse; as regras de sobrevivência.
O maior céu do Mundo
Sem dúvida que o motivo que me deixa infinitamente apaixonada pela Mongólia, é o “maior céu do Mundo”. As estepes prolongam-se até se perderem de vista, alongando o horizonte. O facto de a Mongólia ter uma densidade populacional tão baixa e pouquíssimas cidades separadas por várias dezenas de quilómetros, faz com que as estrelas brilhem com mais força e o céu tenha maior amplitude. As noites mongóis são dos espetáculos mais bonitos que a natureza nos proporciona. A Via Láctea pincela o céu e faz-nos finalmente perceber o nosso ínfimo lugar no Universo. As estrelas cadentes, tantas na Mongólia, deixam de ser símbolo para pedir desejos, pois aqui cada estrela cadente representa uma alma que acaba de deixar a vida do corpo em terra e viaja para o céu.
Amplitudes térmicas extremas
O maior céu do mundo traz-nos vistas incríveis e amplitudes térmicas extremas: do dia para a noite as temperaturas podem variar até 30ºC! Os invernos são extremos e UlaanBaatar é a capital mais fria do mundo, atingindo temperaturas na casa dos -50ºC. Já o Verão, é abrasador e atinge os 40ºC. Se no inverno as estradas desaparecem por completo cobertas por neve, no Verão as chuvas intensas fazem com que as paisagens também mudem. No Inverno, as cascatas e Khovsgol, o maior lago da Mongólia e o segundo maior da Ásia, congelam. Acho que todas estas oscilações fazem com que este local pareça outro planeta. A noite é diferente do dia, os meses distintos uns dos outros e há uma mutação constante que nos desperta sempre o instinto de exploração e de quase sobrevivência.
Desdobrando matérias primas
Na Mongólia não há agricultura. Há séculos que a população mongol aprendeu a desenvencilhar-se com aquilo que a região mais lhes dá: animais. É incrível ver a quantidade de produtos, texturas e sabores que conseguem criar com apenas uma matéria prima. Apesar de ser um destino/cultura complicados para vegans e vegetarianos, o certo é que é admirável o espírito de sobrevivência dos povos que habitam estas terras completamente hostis, e a forma como conseguem extrair tantos produtos do pouco que têm. No que toca aos sabores, do mesmo leite, fazem cerca de oito tipos de queijos diferentes, por exemplo. Doces e salgados, crocantes ou amanteigados.
A Rota da Seda
Foi o maior império do mundo, mas após a queda do Império Mongol manteve-se a cultura da Rota da Seda e o corredor de transações comerciais entre Ocidente e Oriente. O Império Mongol fez-se, em grande parte, a partir de cidades-chave mongóis que serviam de pontos-chave para taxar os produtos transacionados nesta rota. Após a queda do império, outras culturas e civilizações surgiram devido à rota, e por vezes criadas a partir desses pedágios comerciais. A Rota da Seda original sofreu grandes mudanças após Vasco da Gama abrir caminho para o Oriente por via marítima, mas a rota terrestre ficou para sempre no imaginário de todos os viajantes.
Transiberiano
Após séculos no esquecimento, a União Soviética trouxe a Rota Transmongoliana para a Mongólia em 1947. Anos depois, já na década de 50, a rota ficava completa com acesso à China. Mais conhecida como Transiberiano, esta tornou-se assim a mais popular rota ferroviária do mundo, com 7356kms (distância atual) de linha, ligando Moscovo a Pequim, cruzando três países por sete noites. Mais do que carga, a importância desta linha traduziu-se nos viajantes e exploradores que entraram na Mongólia, puxados por uma locomotiva a diesel, para depois explorarem as estepes nas populares carrinhas russas UAZ ou a cavalo, ao estilo do próprio Genghis Khan. Não escondo que esta continua a ser a minha viagem favorita, e a Mongólia engrandece a razão de o ser.
Mongólia na cultura pop
Apesar de ainda ser um destino-incógnito, a Mongólia tem sido amplamente explorada na literatura e no cinema. Em 2005 chegou aos Oscars, com aquele que é até à data a mais popular produção mongol, “The Cave of The Yellow Dog”. Em 2007, também chegou a Hollywood a história de Genghis Khan contada no filme “Mongol”. Mais recentemente, a série “Marco Polo”, produzida pela Netflix, mostrou ao mundo a Mongólia do Kublai Khan. Também o documentário “The Eagle Huntress”, de 2016, fez com que as pessoas se apaixonassem pela história de uma etnia diferente, que se pensava fazer parte apenas de um imaginário literário e não de uma história real.
Na literatura, além do óbvio “As Viagens de Marco Polo”, “The Lost Country”, mais recentemente publicado como “Mongolia: Travels in the Untamed Land”, de Jasper Becker, é provavelmente o meu livro favorito sobre a Mongólia - um espetacular contexto histórico-cultural relatado em jeito de contos de viagem. “The Blue Sky”, de Galsan Tschinag, também é bastante interessante, pois relata o impacto da civilização nas tribos étnicas mongóis (neste caso na zona do Tuva, conhecida pelas tribos das renas brancas).
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