Por Cau Costa, líder de viagens The Wanderlust
De seguida apresentamos algumas das idiossincrasias mais visíveis aos olhos do visitante, que ajudam a tornar este país de 50 milhões de habitantes num lugar único e inesquecível para quem o visita.
1. Thanaka, o creme de beleza da Birmânia
Este cosmético de cor branco-amarelada é parte importante da cultura e quotidiano dos habitantes da Birmânia, mas que já se estendeu a regiões vizinhas, nomeadamente na Tailândia.
Tem uma fragrância semelhante à do sândalo e é semelhante ao bindi e tilaka, que se encontram na Índia, ou ao masonjoany, de Madagáscar. É feito a partir da madeira com o mesmo nome, proveniente de árvores da família da árvore-do-caril (ambas Rutáceas), sobretudo das regiões de Sagaing, Magway e de Taunggyi, no estado Shan.
Acredita-se que o creme é utilizado já há mais de dois milénios, sendo mencionado na literatura Birmanesa pelo menos desde o séc. XIV. Aplica-se na cara e por vezes nos braços de homens, mulheres e crianças de todas as idades (mas mais popular junto do sexo feminino), frequentemente com um padrão circular nas bochechas e/ou a cobrir a testa e nariz. Por vezes encontramos padrões e desenhos mais elegantes, por exemplo sob a forma de folhas.
Além do carácter estético, também dá uma sensação de frescura e hidratação à pele, ajudando a proteger das queimaduras solares. Acredita-se que ajuda a eliminar o acne e que serve também como antifúngico.
2. Longyi, a moda que se veste
O longyi é uma peça de vestuário que consiste num pedaço de tecido com aproximadamente 2 metros de comprimento e 80 centímetros de largura, com as extremidades unidas de forma cilíndrica. Não sendo uma peça unissexo, este nome aplica-se tanto ao ãpaso (utilizado pelos homens) como ao htamein (popular entre as mulheres) neo; o que os distingue são sobretudo os padrões do tecido e a forma de utilização.
Mesmo com a chegada dos jeans e da roupa ocidental ao país, esta continua a ser uma das peças de vestuário mais populares entre os Birmaneses. Tal como o sarong e outras peças de vestuário populares anos países vizinhoso, o longyi usa-se à volta da cintura e até à altura dos pés.
A versatilidade desta peça de roupa é lendária, sendo utilizada como fato de banho, toalha, cinto, almofada ou até mesmo chapéu. Além disso existe um longyi para cada ocasião: desde o mais simples em algodão, com padrões e cores básicas para o dia-a-dia até ao mais elaborado, utilizado em cerimónias e feito de seda e padrões complexos, também conhecido por cheik. Amarapura é reconhecida pela sua produção de qualidade.
3. Kwun-ya, o “tabaco” de mascar
Kwun-ya é o nome que se dá na Birmânia ao paan, palavra do sânscrito que significa “folha”, e que mais não é que um preparado que combina a folha de bétel com a noz de areca (ou pinangue) e mascado, como se de simples tabaco se tratasse.
Por vezes junta-se folhas de tabaco e/ou uma pasta de cal hidratada (hidróxido de cálcio, diferente da cal viva – óxido de cálcio) para unir as folhas. De seguida o preparado é mascado e depois engolido ou cuspido fora, deixando nódoas vermelhas, o que causa um problema de poluição e incómodo do espaço público – o que já levou algumas localidades a proibir a sua venda e uso.
É popular pelo seu efeito estimulante e psicoativo, causando dependência e alguns efeitos de saúde adversos. De acordo com a medicina ayurvédica, o uso do paan pode ajudar com a cura do cancro de boca e ajuda a lutar contra o mau hálito, mas alguns estudos mais recentes vêm pôr em causa esta crença.
Um estudo realizado entre 2002 e 2007 nos hospitais gerais de Rangum e Mandalay (os maiores do país) indica que, entre os pacientes com cancro na boca (o 6º mais comum entre os homens e 10º entre as mulheres), 36% eram utilizadores habituais da folha de bétel (registos da universidade de medicina dentária dos anos 80 indicavam uma taxa de 59%).
4. Nats, os espíritos folclóricos da crença popular
Os Nats são espíritos da crença popular birmanesa, adorados paralelamente à corrente dominante do Budismo Theravada, numa relação de sincretismo. Têm características, desejos e necessidades humanos, bem como alguns dos seus defeitos, considerado depreciativos e até mesmo imorais pelo Budismo; por exemplo, são facilmente corrompidos com dinheiro, álcool e tabaco.
Estes espíritos estão divididos em duas categorias: a inferior (auk nats), que vivem no mundo terreno; e a superior (ahtet nats), que vive nos seis céus, e cujos 37 espíritos são olhados como divindades.
Acredita-se que têm a capacidade de ajudar as pessoas (com problemas de dinheiro, saúde e amor) ou complicar a sua vida, caso estes espíritos não estejam apaziguados. Para tal é comum a realização de festivais Nat Pwe em sua homenagem, onde um médium dança até entrar em transe e incorporar o espírito do nat.
Embora mais populares nos meios rurais e junto a algumas minorias étnicas, o seu culto encontra-se espalhado um pouco por todo o país, com diferentes formas de cerimónia e rituais. É comum encontrar, na proximidade das aldeias, um pequeno santuário para o seu nat guardião.
O local mais importante de peregrinação para os crentes é o Monte Popa, uma agulha vulcânica perto de Bagan, onde é necessário subir 777 degraus para chegar ao santuário no topo.
5. Chinlone, o futebol à Birmanesa
Este desporto tradicional (o mais popular da Birmânia) é feito com uma equipa apenas – tipicamente de seis pessoas, constituída por homens e mulheres de todas as idades – e não tem um carácter competitivo, pelo que não há vencedores nem vencidos.
O objetivo é manter uma pequena bola (feita a partir de uma cana, soando como se estivesse a bater num pequeno cesto) no ar, com toques entre cada jogador, sem usar as mãos. Se a bola cair ao chão, o jogo recomeça.
Apesar de jogado de forma rápida, mais do que um desporto, o chinlone acaba por ser um momento de entretenimento, uma espécie de dança fluída ou de meditação zen. O jogo tem muitas variantes, incluindo cerca de 200 diferentes movimentos ou formas de controlar a bola.
Tem um papel importante na cultura do país, com uma história de mais de 1500 anos, influenciado pelas danças e artes marciais tradicionais birmanesas. Embora considerado pelos europeus mais como uma diversão de povos indígenas do que propriamente um jogo ou desporto, o interesse pelo chinlone foi crescendo ao longo do tempo, e em 1911 várias equipas partiram em digressão na Europa e Ásia.
Em 1953, por ordem do governo, foi escrito um livro de regras do jogo, onde se afirma Myanmar como o seu país de origem e único país praticante. Ainda assim, no sudeste Asiático existem outros desportos similares: cau (Vietname), kator (Laos), sepak raga (Malásia, Singapura, Brunei e Indonésia), sipa (Filipinas), e takraw (Tailândia).
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