Começou por ser construído em 2021 e foi revelado ao mundo em outubro de 2022. O Icon of the the Seas (Ícone dos Mares) é o maior navio de sempre, cinco vezes maior que o Titanic e com capacidade para quase 10.000 pessoas.
Com preços que começavam desde cerca de 1800 euros, o Icon of the Seas já conseguiu vender quase todos os bilhetes para a viagem inaugural.
De acordo com o blogue oficial da Royal Caribbean (RC), empresa que detém o cruzeiro, a primeira semana de venda de bilhetes para o novo cruzeiro estabeleceu-se como a semana de maior volume de reservas da história da empresa. Citado pela CNN, um porta-voz da empresa afirma que desde o primeiro anúncio do navio até à data, tem existido uma “reação incrível”. No entanto, nem todos estão convencidos.
Ícone ou “monstruosidade” dos mares?
Gigante e colorido, o maior cruzeiro do mundo não está a deixar ninguém indiferente. Se a venda de bilhetes revela boa aceitação por parte dos amantes de cruzeiros, uma imagem partilhada, no passado mês de julho, deste gigante do mar gerou uma onda de críticas nas redes sociais.
Nas redes sociais, nem todos viram o navio como espaço de diversão e luxo em alto-mar, mas sim como uma “monstruosidade” e “monte de decadência”. Um utilizador chegou mesmo a sugerir que a embarcação se chamasse “Icon of Disease (Ícone da Doença)".
As cores vibrantes do navio e a sua oferta também não agradaram a todos. A imagem, que destaca o grande parque aquático, tornou-se viral na rede social X (antigo Twitter).
Procurando transmitir o espírito do navio, a imagem acabou por ser considerada “pirosa e vulgar”. Ao observarem o navio sob aquela perspetiva, muitos compararam a experiência de estar a bordo no Icon of the Seas com “estar preso num [centro comercial] Walmart flutuante”.
E como nunca falta criatividade nas redes sociais, houve quem, ao olhar para a imagem, comparasse o cruzeiro a “uma pilha mal equilibrada de pratos cheios de comida; caótica, desarrumada, possivelmente precária”. Através de colagens, outros utilizadores compararam o Icon a uma obra de Hieronymus Bosch, artista holandês do Renascimento e a uma versão Candy Crush do mundo “underground” distópico de “Silo”, série de televisão norte-americana, baseada na trilogia homónima do autor Hugh Howey, em que a humanidade sobrevive ao apocalipse numa cidade subterrânea.
Preocupações ambientais e visão pós-pandémica justificam críticas
A pegada ecológica do navio é uma das razões pelas quais muitos consideram a construção uma monstruosidade, mas, ainda que bastante válidas, as questões ambientais não são as únicas razões pelas quais o Icon está a gerar tantas reações.
Citado pela CNN, um professor de psicologia norte-americano, Tom Davis, considerou a imagem do cruzeiro que se tornou viral “estranhamente invulgar”. Para este professor da Universidade do Alabama, as reações resultam da combinação da “perspetiva artística escolhida e do treino pós-pandémico de espaço pessoal/distância social que nos foi incutido a todos”.
Ainda em declarações à publicação, o professor afirma que o facto da imagem se tratar de uma representação (e não de uma fotografia real) ter um papel crucial. É que ao olharmos para a imagem, podemos ficar com a ideia que o navio é quatro ou três vezes mais curto do que na realidade. Outras imagens da embarcação dão uma noção das suas dimensões.
Para além da perceção dada pelo ângulo do navio na imagem, outras variáveis podem influenciar as reações ao Icon of the Seas como ansiedade, fobias e experiências pessoais noutros cruzeiros ou resorts. Se para uns a dimensão e oferta do navio significa diversão sem parar, para outros, especialmente sem experiência em cruzeiros, pode ser “demasiado” para uma primeira vez.
Já segundo as explicações da psicóloga Elisabeth Morray ao Insider, “existem muitas ameaças identificáveis à nossa segurança que podem ser desencadeadas por esta imagem” e nós, como seres humanos, “estamos programados a prestar atenção à nossa segurança”. Exemplo disso, são as cores do navio. Os seus tons doces fazem com que se pareça com um brinquedo, como referido pelo psicólogo e especialista em fobias, Adam Cox, à CNN.
Adam Cox, que salienta igualmente que os vários andares podem criar uma sensação de claustrofobia em algumas pessoas, acrescenta que a muito utilizada descrição da embarcação como “cinco vezes maior” do que o Titanic pode não abonar a seu favor, uma vez que pode dar a ideia de um desastre potencialmente maior, especialmente, devido à recente tragédia com o submersível Titan.
Navio ou cidade flutuante?
Em 2024, após ser inaugurado, o Icon of the Seas terá o título de maior barco cruzeiro do mundo ao destronar o Wonders of the Sea por alguns metros.
Com 365 metros de comprimentos, 20 andares e mais de 250 mil toneladas, a nova embarcação da Royal Caribbean contará com 2.805 quartos, sete piscinas, parque aquático, minigolfe, simulador de surf, dezenas de restaurantes, bares, casino, entre outras atrações.
Para facilitar a orientação dos passageiros no interior do espaço, a empresa dividiu o navio em oito bairros. No total, existem seis escorregas de água, sete piscinas, nove piscinas com remoinhos, um campo de minigolfe, paredes para trepar e muitas outras diversões na área batizada de Chill Island, composta por três decks dedicados. Existem ainda 20 bares, restaurantes e não faltarão espaços verdes, que contarão com plantas reais.
O Icon of the Seas conta com 2805 quartos, dos quais 179 são suites, 1.815 têm balcões, 276 vista para o oceano e 535 são quartos de interior.
Dinheiro, dinheiro e dinheiro
"Os navios de cruzeiro ficaram maiores na última década", afirma, à AFP, Alexis Papathanassis, professor de gestão de cruzeiros na Universidade de Ciências Aplicadas em Bremerhaven, Alemanha.
Para Papathanassis, "há benefícios económicos óbvios" para os grandes navios, pois reduzem o custo de cada passageiro, ao fazerem economias de escala.
Com várias atrações, o Icon of the Seas oferece mais lugares para se gastar dinheiro a bordo do que qualquer outro navio. Isto "permite, por sua vez, que as empresas de cruzeiros sejam mais lucrativas", explica Alexis Papathanassis.
O professor acredita que a tendência de construir grandes navios vai continuar ainda que num ritmo mais lento, tendo em conta que o sector ainda está a recuperar da pandemia da COVID-19.
A nível do ambiente, alguns argumentam que a eficiência energética de um navio grande é mais importante do que a de vários navios pequenos. Mas esta opinião não é partilhada por todos.
"Se seguíssemos esta lógica, certamente construiríamos navios de cruzeiro maiores, mas em menor número", argumenta Constance Dijkstra, especialista em navegação da ONG Transport & Environment (T&E), citada pela AFP. "Mas não é o que acontece. Vemos cada vez mais navios, e estão maiores do que nunca", diz.
E, embora os navios modernos estejam a tomar medidas para mitigar as emissões graças à tecnologia - o "Ícone dos Mares" funciona com gás natural liquefeito (GNL) -, os ambientalistas não estão convencidos.
O GNL emite menos do que os combustíveis marítimos tradicionais, mas "tem consequências dramáticas no clima, devido aos vazamentos de metano" que provoca, alerta Dijkstra.
Essencialmente composto de metano, o GNL é um potente gás de efeito estufa que pode ter um impacto muito pior no clima do que o dióxido de carbono.
"O problema é que, ao usar o GNL como combustível marítimo, incentivamos o desenvolvimento da indústria do gás", acrescentou Constance.
Miami será o ponto de partida do Icon of the Seas
O Icon of the Seas vai zarpar, pela primeira vez de Miami, nos Estados Unidos, e seguirá pelas Caraíbas, sem esquecer a ilha privada da empresa: a Cococay, nas Bahamas.
Miami será o ponto de partida do cruzeiro até, pelo menos, 2025.
A embarcação está a ser construída no estaleiro Meyer Turku, que fica na costa sudoeste da Finlândia. Segundo o blogue oficial da RC, a embarcação concluiu o primeiro conjunto de testes no mar no passado mês de junho. Agora, no estaleiro fazem-se mais intervenções. O barco ainda deverá sair mais uma vez ao mar para testes este ano.
A partida da primeira viagem do navio está prevista para o dia 27 de janeiro de 2024.
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