Custódio Issa é médico e conhece, de forma ‘íntima’, 188 países e apenas faltam cinco nações para fechar o mundo. Faz parte do grupo Most Traveled People (MTP): aqui pode verificar as 193 nações do mundo, segundo o critério da ONU. Portanto desta contagem, Issa viajou por 188. Falta-lhe: Nauru, Quiribati, Tuvalu, Burundi e Nigéria. Esta é a lista organizada que prevê para 2021, pois a pandemia, este ano, impediu-o do objetivo de "mundo visitado". O que se segue? Revisitar! Aliás, veja como o Issa vai marcando as suas viagens aqui.
Vamos tentar acompanhar o ritmo de alguém que tem histórias acutilantes em duas perspetivas: viaja como viajante livre e viajou como anterior Coordenador do Departamento Médico/Internacional da AMI.
Deixou tudo para trás e seguiu rumo ao continente africano, com a AMI (Assistência Médica Internacional). Entre trabalho e humanidade deste médico e viajante, viu o mundo todo, “apagando fogos”, como o próprio diz. Natais ocupados, expatriado em montanhas e em missões que relembra “marcantes”. Tudo são viagens que dão um livro dividido em vários volumes! Ou um livro por continente. Por agora, alguns artigos que vos trago estes dias. Saboreando quem de facto soube pisar continentes, desde o mais óbvio ao mais remoto.
Se não tivesse deixado Portugal para trás, nunca teria vivido o que viveu. E nunca teria percebido como Portugal é dos melhores países do mundo. E olhem que referir ‘mundo’ junto de Issa… já me parece tão pequenino pois ele já quase o sorveu de forma inteira.
Apareceu uma posição para a AMI, na qualidade médica, e concorreu. Era um médico de família num pequenino centro de saúde na margem sul do nosso Tejo. Tudo mudou quando foi aceite e embarcou, sem olhar para trás. Refere que a AMI sempre teve uma abrangência muito expandida e uma louvável veia humanitária e voluntária. Não é para todos terem de ‘saltar’, de repente, para outros mundos que precisam tanto da mão ocidental.
Ao longo da entrevista com Issa, reparei que ele utilizava muito a expressão “é preciso”, em todos os momentos das viagens, aplicando-se aos cenários de necessidade e também de lazer. As viagens, na verdade, são precisas. As pessoas precisam de ser ‘vistas’.
O que se destaca nos países que viu? As pessoas, mais do que a arquitetura e as paisagens. As pessoas nas suas maiores necessidades e as pessoas no seu esplendor, tudo num leque galáctico. Por exemplo, é extremamente direto quando refere o Sri Lanka como sendo o pior país que não quer revisitar: só problemas que tornam impossível um verdadeiro viajante se sentir bem. Até refere “más energias… apesar do conceito dos elefantes e das praias idílicas” com que todos se encantam. Gostei desta sinceridade e gostei do seguinte termo deste médico-viajante: “costumeira” sobre as Maldivas. Chamou a este paraíso uma “gaiola dourada” onde percebeu que, por exemplo, não tinham cães. E ele pensara que o tsunami anterior tinha sugado tudo naquelas “ilhas sem relevo”, como classifica Issa. Mas não tinha a ver com o terror do tsunami, foi-lhe explicado que a religião não permite esses animais. Ficou abismado.
Notou a pobreza excessiva e falta de espaço das Maldivas. O contraste absoluto que o viajante do planeta nos traz de forma aguda e sincera. “É preciso” vermos os espaços todos nos destinos e não nos escondermos nos resorts ou nas praias-paraíso, há muito mais viagem além disso. Há pessoas e há segredos a contar.
Nos próximos artigos, vou continuar a partilhar consigo histórias deste caminhante do mundo, antes de ele terminar o planeta.
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