A Ana não procura conhecer lugares por serem bonitos ou para fazer ícones de fotografia turística. A foto do Taj Mahal, não. Um lugar remoto em Agra, isso sim já pode estar incluído. Ela segue agora o sentido contrário de viajar por atração (turismo). E nesse sentido contrário de viver as viagens, encontrei dentro dela, primeiro, Sulawesi.
Nesta ilha da Indonésia, ela examinou a relação dos nativos de cada lugar com… a morte. Estranho? Não, pois há locais no mundo como Sulawesi em que o dia da morte é o dia mais importante da vida.
Ela reservou um guia para uma visita por funerais na ilha, mas, antes de ir ver as cerimónias, o guia aconselhou-a a entrar no ‘mundo’ de uma família dali que acabara de perder os avós. De repente, deu por si a explorar, então, as entranhas do quarto de uma casa que estava de luto. Nesse quarto estavam duas múmias em dois caixões vermelhos. Leu bem. Lá as pessoas mumificam as ‘outras pessoas já idas’. A família em nada se importou e abriu-lhe a porta deixando-a a sós com a morte. Ela fotografou tudo com muito cuidado e sem nenhuma sensação negativa do contexto.
Da morte voltámos à vida de uma outra ilha, mas na Malásia. Fixei, no baú das suas viagens, a ilha Mabul. Poucas pessoas lá vão. As que vão procuram o mergulho e o mundo debaixo do mar. Ficam hospedadas numa guesthouse com os pés pairando na água. Literalmente. É lindo! Mas ouse ser como ela e reme contra a maré. Vai amar, tanto.
Normalmente ninguém explora esta ilha, além dos mergulhos. Mas, ela prefere precisamente lugares do mundo que não são turísticos. Sobretudo lugares em que crianças nunca viram um turista e fogem como as pombas voam alto quando nos aproximamos delas.
Aqui em Mabul a vida parece outro tempo, outro planeta. Em Mabul há pessoas que são “ciganos do mar” pois vivem em barcos de metro e meio sempre mudando de lugar no mar. Esta forma de vida atrai o olhar de qualquer ser humano, sobretudo ocidental!
Como as casas-barco nunca estão no mesmo sítio, a viajante ia vários dias a sítios diferentes da ilha para os fotografar. E, dada a mudança constante deste povo, também ela ia de barco atrás deles, durante dias, observando-os de lente na mão. Dias de um ano, um mês e uma semana. Aliás é este o título do seu primeiro livro, pois já compilando o segundo, e é bom lembrar que está a decorrer um crowdfunding em @ana.abrao.photo para que o novo projeto vá adiante. Contribua para ver, viajar e amar histórias inacreditáveis como as duas que contei hoje.
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