Quando se ouve falar dos santuários como Kuala Gandah Conservation Center na Ásia, pensamos logo em ‘cativeiros’ ignominiosos para prenderem os animais exóticos e gigantes que são os elefantes. Nada disso, se observarem um dia inteiro como cuidam deles, os nutrem, brincam com eles, os lavam… e sobretudo como tratam as crias na altura do nascimento. É indescritível. E como sou autora nova por estas bandas, já vai sendo hábito meu tornar a criatividade num ritmo comum. Ora decidi pesquisar entre os influencers portugueses, de novo, e procurar um mapa-mundo na pele de alguém.
Desta vez viajamos através de símbolos das tatuagens da Sara Fernandes: podemos começar esta viagem à Malásia através da pista do bonito Ganesha que ela tem gravado no braço. Depois o Buda e a flor de lótus na perna. Ganesha tem a cabeça poderosa de um elefante. Esse portento representa o intelecto e a força da mente para se conquistar a prosperidade. Mas o deus Ganesha, na religião Hindu (e que, atenção, não se fica apenas pela Malásia!), tem mais do que a cabeça austera do elefante. Contudo vamos seguir ‘as pegadas’ de felicidade que ele representa e aumentar a velocidade nesta viagem!
Tal corpo (da Sara Fernandes), tal país (Malásia)… encontram os mesmos símbolos: elefantes respeitados na cabeça de Ganesha (hinduísmo, quarta grande religião daquele país oriental), o Buda (o Budismo é extremamente representado na Malásia) e a flor de lótus que também cresce em países míticos como esta terra de ‘elefantes’! A Sara faz-nos embarcar com estas pistas tatuadas no corpo e conduz-nos ‘corpo e alma’ na aventura dos significados. Quem não viaja sem querer perceber o sentido de cada pessoa, de cada religião, de cada templo, de cada gesto? E o cheiro a incensos… embriaga todos os nossos sentidos e continua a fazer-nos embarcar nesta experiência. Obrigada Sara, daqui vamos encontrar estrada até aos lindos elefantes, antes ainda tocando nos Budas enormes e dourados! Encontramo-nos em breve!
Quando reservarem a ida a Kuala Lumpur — contem com uma hora de carro ou van — até ao Santuário. Os guias são extremamente carinhosos. O meu guia era mais que isso, fazia-nos rir a viagem toda com as histórias que ele contava sobre as cidades e sobre os indígenas que vimos. Falou mal da poluição e de algumas viaturas maltratadas nas estradas. Ora ele era um guia um pouco diferente, digamos que era muito honesto e isso fez-me criar maior empatia com ele! Percebi que ele não gostava de cobras, ainda bem ‘driver’, pois eu também não. Nem parámos para vê-las. E continuo sem perceber quem queria fazer um stop (quase ‘stopover’ literalmente) para as ver. Antes convém dizer-vos que esta tour convém ser reservada cá e sugiro entidades como a VIATOR. Seguras e sem atrasos, sobretudo em países de terceiro mundo.
E quando apelido ‘terceiro mundo’, parece coisa feia. E nem gosto, eles são sim países de outra dimensão e quem nos dera a nós ter a altura de alma igual à altura e carinho de um elefante que nada nos pede em troca (só umas comidinhas) e cansa-se à conta dos humanos. Sem revelia. Voltando à altura ideal que vos sugiro para irem a Kuala Gandah: primeiro visitem bem Kuala Lumpur, a capital poluída, mas de torres impiedosamente enormes. As Batu Caves que são impressionantes em tudo: as longas estátuas, em pé e deitadas, as cores inigualáveis, as grutas a céu aberto. Parece que estão a viver cenas da série “Os 100” da Netflix. E os budas? Impressionantes, claro. Eu bem disse que a Sara nos deu um mapa, vamos seguir à risca! Atenção aos macacos ladrões que me roubaram a coca-cola ali nas Batu Caves! Bem, decidi não regatear com eles, pois entretanto puxaram-me o cabelo. Foi divertido, pois aqueles macaquinhos são abusados e sabem que mandam naqueles locais sagrados.
Podem fazer toda a capital de metro de longa distância, mas atenção nada de demonstrações de afeto no metro ou mesmo na rua! Podem as turistas estar destapadas (qb), mas os casais não podem beijar-se em público. Por outro lado, nunca conheci, nem mesmo no Camboja, pessoas tão humildes e carinhosas como na Malásia. E olham para nós com vontade de nos perceber a indumentária, as máquinas fotográficas e a razão de gostarmos de estar ali na nação deles. Servem-nos a comida com uma humildade que quase me dava vontade de chorar, porque eram tão meigos e pacientes … aquilo é o primeiro mundo. Muito poluído, sim. Mas aquilo é alma evoluída. Alma paciente de Ganesha.
Depois de uma boa exploração (e uma vertigem!) também a Petrona Towers, aos bairros fora da zona financeira, às feiras fantásticas de Kuala, então deitar cedo e tentar dormir. O fuso horário provoca o jetlag que se torna insuportável para qualquer local mais a Oriente! Demora sete dias até que o ser humano reponha completamente o seu ritmo, comprovado (também sou cientista na área). Mas ali há outra coisa (não só ali, claro): as orações de outra religião, a preponderante: muçulmana. A primeira reza é às quatro horas ou cinco horas da manhã e, ainda por cima, fiquei num hotel que, por acaso, estava ao lado de uma Mesquita. Eu gosto bastante do som das orações islâmicas, sempre, sempre gostei. Mas como despertador ficou difícil. Depois de um café mediano, nada me parava a energia. Nunca para aliás! Eu e o meu metabolismo somos feitos para viajar!
Então era hora de seguir para fora de Lumpur e visitar os elefantes! Lembro-me do braço da Sara neste momento e energizo a vontade desta história! Mas na hora da entrada no lago pantanoso onde se banham aquelas fofuras, foi bonito de ver como a coragem de muitos não bate bem certo com a grandiosidade da experiência dos humanos. Podem crer que eu me atirei naquele pântano sem medo absoluto. Procurei um elefante ou ele encontrou-me e ficámos um tempo juntos, um tempo de amizade. É quase impossível não me emocionar enquanto me lembro de olhar dentro dos olhos dele e ver como ele pedia água fresquinha, tocando-me com a tromba ao de leve. A Malásia é muito quente e húmida! Parecia que ele ria ou eu queria que isso fosse verdade. Demorei-me, tal como alguns dos outros turistas, porque uma experiência assim não tem horas.
Alguns do grupo estavam armados até às orelhas com fatos de banho, botins e braçadeiras. Eu fui de fato de treino, sem roupa ‘suplente’. Não quis, o meu corpo tinha de estar ali assim para que a minha alma crescesse. Depois estive a lavar o elefante com uma esponja que os cuidadores (muito simpáticos) emprestaram. Ele guinchava todo contente e ajudava ao banho. Eu e ele estávamos uns pintos encharcados. Acariciei a barriga gordinha dele e mais uma vez lembro o Ganesha da Sara. A barriga humana do deus Hindu associada ao corpo deste elefante fez com que o Universo fizesse mais sentido: a barriga generosa significa a paciência, para o mal e para o bem da vida. E na verdade os elefantes sempre sofreram muito (e sofrem!), mas digerem isso como almas iluminadas superiores. Só assim, com a paciência e a capacidade de perdoar ('digerir') é que nós evoluímos!
Foi um dos momentos da minha vida em que mais fui feliz. Em que percebi a paciência como virtude. Aproveitei e passeei carinho na pele dele. Pele áspera, robusta. Voltei a entrar nos olhos dele e disse-lhe “Adeus”. Não montei o elefante, porque não acho justo. Eu queria um amigo, não um fantoche para conseguir uma boa foto de instagram! E eles estão treinados para nos tratar bem. Na verdade acho que, por lei de Darwin, não estão. Eles são amorosos e ponto. Lembro-me como o elefante arredava as patorras para não me pisar. Morria eu, decerto! Os guias ali explicam tudo, mas eu senti uma empatia com aquele específico elefante e sabia que ele não me magoaria. As fotos desse dia só têm um protagonista bonito: o meu elefante. As fotos da Sara Fernandes ajudam ao mapa de sentidos que é esta viagem. Numa das minhas fotos, pareço uma criança cheia de lama que descobriu o sentido da vida. Mas estava feliz, e vocês já estão a planear o banho ancestral? Contem quase tudo depois, o resto guardem na pele e no coração.
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