Texto escrito por: Duarte Zemp
Após me deparar com a Lobo Scholarship, promovida pela Gap Year Portugal, decidi começar a planear a viagem com o objetivo de a realizar mesmo que não ganhasse a bolsa com a ajuda dos/as mentores da Associação, sendo eles/as gappers experientes. Todo o processo foi longo e, apesar de ter começado a minha candidatura com muita antecedência, só na fase final fiz dela uma prioridade.
No total, estive cerca de dois meses debruçado na candidatura. Pensei onde ir, o que fazer, em mil e uma ideias que nunca chegaram a transformar-se em planos concretos. Pensei até mesmo em desistir, chegando a equacionar se faria melhor em seguir o percurso normal e ir para a universidade, tal como a larga maioria dos/as meus/minhas colegas.
Felizmente, segui em frente e agora vejo que este tempo de maturação foi essencial para a finalização de um projeto concreto. Permitiu-me também conhecer as ofertas, não só dos países, mas também dos projetos disponíveis e do custo dos mesmos.
Por fim, depois de muita pesquisa, troca de impressões e reflexão, concluí que um gap year na América Latina era o plano ideal, de forma a descobrir a região, mas também a mim próprio, ganhando então uma série de competências pelo caminho. Para que isso aconteça, vou fazer voluntariado sustentável e explorar os diversos países sem pressas, nem luxos, tentando extrair a essência das pessoas, da cultura e da própria viagem no processo.
Depois de já estar bem informado e ciente daqueles que eram os meus objetivos principais, comecei a entrar nos detalhes, se bem que, como bom alentejano que sou, quero fazer esta viagem sem pressas nem stresss. Por isso mesmo, sempre sem datas ou planos concretos, à exceção do voo de ida (marquei com alguma antecedência de modo a conseguir poupar), tracei as linhas centrais da minha estadia.
Comecei então a ver por onde iria passar os próximos meses e, ainda neste lado do oceano Atlântico, já tive de adaptar algumas vezes o meu plano, ora porque o projeto de voluntariado foi suspenso, ora porque encontrei outro que me parece melhor naquele que é o meu objetivo. Em suma, tenho estado sempre à procura daquilo que é a minha essência e daquilo que são as minhas paixões, seja a natureza, as pessoas, as curiosidades locais ou a própria cultura, de forma a poder sempre conciliar isso nesta minha viagem. As atividades que farei conjugam muitas vezes duas paixões: o contacto com pessoas e com a natureza, exploradas de maneira diferente, porque também tentei encontrar projetos diversos, de modo que esta viagem seja efetivamente “alémundo”.
Reuni um conjunto de informações fundamentais. Os detalhes não me ocuparam muito tempo desta preparação, exceto aqueles que foram mesmo obrigatórios. A obtenção de todas as informações que preciso para fazer a minha viagem sem problemas legais e a confirmação de, pelo menos, alguns dos projetos (que acabou por se revelar demorado). Mas, neste processo todo, foi muito útil definir as minhas prioridades. Comecei a enumerar tudo numa lista e, consoante a urgência, ia fazendo aquilo que precisava. Acabei por me orientar e serviu também de motivação, pois sempre que apago algo desta lista tenho a sensação de dever cumprido e, deste modo, nunca é um trabalho muito exaustivo.
Nestes dois pontos, a minha principal ajuda tem sido falar e, acima de tudo, ouvir. Nunca tive medo ou receio de contactar quem quer que fosse. Todas as pessoas com quem falo mostram-se interessadas e, por isso mesmo, têm-me permitido preparar toda esta aventura muito melhor. A troca de impressões, os conselhos, o apoio, que em muitos momentos é fulcral e reconfortante e algumas dicas, têm sido tudo coisas que tenho retirado destas interações.
Sinto que, de certa forma, toda a minha preparação já me fez entrar no estado de espírito de gap year e a mudar algumas ideias que tinha, que atualmente, acho erradas.
Uma dessas ideias foi, por exemplo, a consulta do viajante. Desvalorizava-a. Achava-a uma perda de tempo e dinheiro. Todavia, como a grande parte das pessoas me aconselhou vivamente a fazê-la, fiz. Não me arrependo de nada. Tenho plena noção que nunca chegaria às informações que recebi, tanto de cuidados, como medicamentos, vacinas e mesmo dicas úteis.
A última preocupação que tive foi perceber o que preciso para que a viagem corra dentro dos moldes que imagino. Como esta é a minha primeira viagem a sério, vi-me obrigado a adquirir algumas coisas novas. Tentei ao máximo ter um bom balanço de qualidade/preço, porque apesar de querer poupar, estou mentalizado que o que levar para lá provavelmente vai-me acompanhar até ao fim desta viagem, que conto que seja de sete a oito meses.
Atualmente, estou na Suíça, onde estou a (tentar) aprender alemão e a trabalhar. Tinha já agendada esta viagem como “plano B”, que me permitiria fazer um gap year, ainda que muito mais reduzido, caso não vencesse a bolsa. Esta estadia tem me permitido começar a sair da minha zona de conforto, ainda que de forma muito tímida. Viver com outras pessoas às quais não se está tão habituado, por vezes pode ser desafiante, mas, sem dúvida, igualmente enriquecedor. Tenho ainda aproveitar para testar alguns materiais/equipamento (por exemplo, as botas de caminhada), bem como a adaptar aquilo que vou levar para perto da linha do Equador, porque mesmo que ainda esteja no frio suíço, tenho os olhos postos na minha futura viagem latina.
E tem sido assim que tem se desenvolvido o projeto “Alémundo”, que irá fazer-se à estrada brevemente, depois de algumas listas, ideias, pesquisas, mas, acima de tudo, troca e partilha de impressões com várias pessoas, que pretendo acrescentar além-mundo. Acho que o mais importante quando se desenha um gap year é fazê-lo de forma organizada e apaixonada, de modo que este projeto nos faça realmente sentido, até porque tudo se torna tudo mais simples.
Projeto Alémundo
No instagram @projeto_alemundo
Alémundo é um projeto que saiu do Alentejo pela mão do Duarte Zemp, um jovem de 18 anos que irá viajar pela América Latina durante sete meses. Conhecer essa região, a sua cultura e descobrir-se a si próprio são as linhas gerais deste projeto, que foca a sustentabilidade nas suas diferentes dimensões.
Lobo Scholarship
A Lobo Scholarship é um concurso promovido pela associação Gap Year Portugal e financiado pela Fundação Lapa do Lobo que premeia um/a ou dois/duas jovens com uma bolsa para realizarem o seu gap year de 6 a 10 meses. Se a candidatura for individual o prémio é de 5.000€ e se for conjunta o prémio é de 6.500€. O regulamento pode ser revisto e a candidatura pode ser feita no site da Gap Year Portugal. Vai ser valorizado, por exemplo, o rigor na elaboração do orçamento, a motivação, incorporação da sustentabilidade como uma prioridade, a originalidade do projeto, entre outros.
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