O autocarro da PeruHop, no qual tinha saído de Puno, chega a Cusco às 04h30 da manhã, uma hora mais cedo do que o previsto. Seguimos todos de táxi (pago pela empresa) para os nossos respectivos hotéis. O meu hotel, Kantu Inn, tinha sido reservado diretamente pela agência de viagens de Arequipa com quem tinha comprado o tour para Machu Picchu, pelo que não tinha grande ideia quanto à sua localização. Pelos vistos ficava mesmo mesmo ao lado da Plaza de Armas, o ponto central de Cusco, numa rua bem apertada de um só sentido e sem saída. Mais central do que isto era impossível.
Acho que não é preciso dizer que eu estava muito cansada, pois não? Pois, estava mesmo. De qualquer forma ainda tive forças para trabalhar nalguns assuntos mais urgentes no computador, que tinham ficado pendentes durante os dias em que estive sem acesso à internet, antes de me apagar na cama até quase à hora de almoço. O quarto e o hotel não eram nada de extraordinário na realidade, mas o preço era baixo e a cama confortável o suficiente, pelo que não me podia queixar muito.
Aproveitei o resto do dia para almoçar e dar uma pequena volta de reconhecimento pela cidade. A volta teve de ser dada muito devagar porque a falta de ar que eu sentia devido à altitude fazia com que ficasse ofegante apenas após uns 10 passos. Confesso que houve alturas durante o passeio em que achei que ia cair para o lado. Depois da Plaza de Armas, rodeada por edifícios imponentes como a Catedral de Cusco com as suas fortes influências arquitectónicas espanholas, sigo para o bairro de San Blas, um bairro caracterizado pelo seu ambiente mais boémio, recheado de lojas, hotéis, restaurantes e cafés mais artísticos e alternativos. Gostei mesmo muito desse bairro. Tanto que ainda ponderei em mudar-me para um hotel naquela zona só para viver mais aquele ambiente. A única coisa que me deteve foi a ideia de ter de carregar a mala e a mochila por ruas íngremes e escadarias acima. Naaaa… acho que me vou deixar ficar pela Plaza de Armas mesmo.
No dia seguinte, pelas 07h30, estava na hora de seguir finalmente para Aguas Calientes onde ficaria uma noite antes de subir para as ruínas de Machu Picchu. A continuação da descoberta de Cusco teria de ficar para quando eu voltasse. Sigo a guia até à Plaza de Armas onde já se encontravam algumas outras pessoas que também tinham comprado o mesmo tour. Daí ainda andámos um pouco até uma rua mais acima, onde nos esperava a mini-van que nos levaria até à Hidroeléctrica numa viagem de quase 7 horas (com algumas paragens pelo caminho para almoço e wc). Da Hidroeléctrica aguardava-nos ainda uma caminhada de 2 a 3 horas (3, vá…) até Águas Calientes junto à linha de comboio. A alternativa seria comprar um bilhete de comboio até à cidade que para além de ficar bastante mais caro, nos faria perder a oportunidade de caminhar entre uma vegetação densa e verdejante, junto a um rio que corria com uma fúria imensa.
No total foram 10kms de caminhada, praticamente non-stop. Confesso que depois do trekking de 2 dias no Canhão de Colca, a última coisa que me apetecia era meter-me noutro outra vez. Mas tendo em conta que o caminho era todo plano, decidi arriscar. E ainda bem! Foi uma experiência fantástica e inesquecível que acabou por se tornar ainda melhor graças aos meus 3 recém companheiros de viagem: a Priscilla do Brasil, na sua primeira viagem a solo e fora do Brasil, o Pablo do Chile (mas Argentino de origem) e o Philippe da Suíça.
Bem, a caminhada custou um bocadinho mas lá chegámos finalmente. Aguas Calientes era bastante diferente do que eu imaginava. O que encontrei foi uma pequena cidade cheia de vida com inúmeros hotéis, restaurantes e bares, repletos de pessoas todas com um objetivo em comum: visitar Machu Picchu. O grupo acabou por se dividir: eu e o Pablo, por termos comprado o tour (por coincidência) na mesma agencia em Arequipa ficámos no mesmo hotel, a Priscilla e o Philippe ficaram noutro. À noite, ao jantar, ainda bebi uma Cusqueña que me soube pela vida e finalmente provei o famoso Pisco Sour. Escusado será dizer que passados 10 minutos estava completamente apagada na cama.
No dia seguinte, como os horários de inicio do tour eram diferentes, acabámos por não nos conseguirmos encontrar todos. Assim, segui com o Pablo para Machu Picchu por volta das 07h da manhã. A subida de autocarro estava incluída no tour, pelo que consegui poupar as minhas pernas a mais um trekking jeitoso até lá acima. À entrada esperava-nos um guia que nos acompanharia durante 2 horas, explicando-nos exatamente o que estávamos a ver. Ainda bem, porque o documentário que eu tinha começado a ver algumas semanas antes sobre a história de Machu Picchu, com o objetivo de ir um bocadinho melhor informada, não tinha passado dos primeiros 10 minutos… As explicações do guia foram essenciais para conseguir apreciar melhor Machu Picchu e entender o que significou outrora.
Tenho de ser franca: Machu Picchu nunca fez parte da minha 'bucket list'. Sim, claro que o considerava um local magnifico, mas nunca disse o que já ouvi algumas pessoas dizerem: que ir lá seria um sonho, pelo que não tinha criado grandes expectativas. E ainda bem! Porque só fez com que eu apreciasse ainda mais a imponência, beleza e energia estonteante daquele local. É de facto maravilhoso. As montanhas rodeadas de nuvens fazem parecer que estamos num local fora deste mundo e as ruínas, muito bem preservadas, fazem-nos quase viajar atrás no tempo.
O guia deixava o grupo passadas as 2 horas combinadas e a partir daí tínhamos tempo livre para percorrer o espaço da forma que melhor entendêssemos. Passei mais uma hora lá e depois decidi descer porque a fome já apertava e lá dentro não era permitido comer. O Pablo ficou para trás porque tinha ainda uma subida à montanha de Machu Picchu pela frente. Despedidas feitas e cada um foi à sua vida.
Regresso a Aguas Calientes novamente de autocarro e ao chegar sou apanhada por uma chuvada torrencial. Refugio-me num restaurante onde acabo por almoçar para fazer tempo até à hora de voltar de comboio para a Hidroeléctrica (também incluído no tour), de onde seguiria novamente de mini-van para Cusco. Apenas mais um casal do grupo que chegou na mini-van no dia anterior se junta a mim no comboio, as restantes pessoas voltam novamente a pé para a Hidroeléctrica debaixo daquela chuvada imensa.
O regresso a Cusco é feito com outro condutor que faz com que a viagem dure menos tempo do que a do dia anterior. Mas isso à custa de alguns pequenos ataques cardíacos, principalmente de quem estava logo nos lugares da frente a assistir a tudo, como eu. O homem era completamente alucinado a conduzir. A estrada, de terra batida, era interrompida por algumas pedras grandes que tinham caído da montanha e alguns cães que se encontravam a dormir no meio do caminho e, para além de praticamente só ter espaço para um carro de cada vez apesar de ser de 2 sentidos, encontrava-se junto a uma ravina muito íngreme. Tudo isto não impedia que o condutor conduzisse aquela mini-van como se estivesse numa pista de rally. De vez em quando via a minha cara de terror pelo retrovisor e ria-se. Bastard. Bem, apesar disto tudo chegámos sãos e salvos a Cusco por volta das 21h30. Despedidas feitas e toca a acelerar o passo até ao hotel porque o frio na rua e o cansaço no corpo não davam tréguas a ninguém.
Decidi ficar mais uns dias em Cusco para aproveitar melhor a cidade antes de voltar a Lima. Mas essa é uma história que vos conto na próxima crónica. Até já!
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