Depois de uma carreira de 20 anos no mundo da moda, Catarina resolveu mudar de vida e quis regressar ao continente onde tinha sido feliz: África. Após uma experiência de um ano a viver em Cabo Verde, em 2014, a designer de moda apontou a bússola para o Golfo da Guiné, numa ilha “forrada de árvores tropicais e uma humidade que se agarra a nós como uma segunda pele”, descreve no site Viaja com Wôdu.

A natureza exuberante foi, de facto, algo que fascinou Catarina desde o primeiro momento: “és completamente absorvida pelo verde”. Contudo, houve algo mais, algo que Catarina só viria a descobrir depois de um ano a viver em São Tomé.

A simplicidade, o convívio com os locais, “são pessoas muito dadas”, viver em comunidade e dar valor ao que é essencial fizeram com que Catarina decidisse chamar São Tomé de casa. “É onde me sinto bem, sentia-me triste aqui em Portugal, sinto que não é aqui a minha casa”, conta ao SAPO Viagens.

"Sentes-te mais livre, há uma leveza. Tu lá não tens nada comparativamente a cá, mas acabas por ter sempre o teu tempo muito preenchido", diz.

Após um ano a viver na ilha e a explorá-la ao máximo, Catarina teve de regressar a Portugal, mas São Tomé continuava a chamar por ela. Da próxima vez que voltasse ao país porque não levar mais pessoas? Surgia, assim, a ideia de criar um tour de raiz que marcasse pela diferença dos que já existiam no mercado.

Em fevereiro de 2020, criou a empresa e o primeiro tour tinha data marcada para agosto desse ano. A pandemia meteu-se pelo meio e deixou tudo em suspenso. Até que em agosto de 2021 realizou-se o primeiro tour e, agora no fim de novembro, Catarina parte com mais um grupo para explorar São Tomé durante 10 dias.

Entre a cultura local, a herança portuguesa e as maravilhas naturais da ilha, Catarina mantém a preocupação de encarar São Tomé como um “ecodestino”. “Todos os sítios onde vamos ficar são espaços de são-tomenses, dentro deste conceito do ecoturismo, construídos com material local. Há esta preocupação de trabalhar juntamente com os locais. Tentar ter um tour diversificado, não massivo e que permita às pessoas conhecer toda a ilha durante estes 10 dias”, explica.

O arquipélago começou a receber mais publicidade desde que a ilha do Príncipe foi classificada como Reserva da Biosfera pela UNESCO. Estando a existir um aumento do turismo, Catarina considera que ainda é muito pouco. “Estás a fazer um tour e acabas sempre por te cruzar com os turistas daquela semana”, salienta. “O turismo ainda aguenta, pelo menos, o dobro. Ainda bem que está a crescer aos poucos porque é bom que não exista um turismo massificado”.

Para já, é possível continuar a explorar este paraíso de praias desertas que ensinou à Catarina um “saber viver” que, até então, não conhecia. Daí surge também o nome wôdu. “Não tem nada a ver com vudu, a bruxaria, vem da linguagem local, o crioulo forro, e significa velha”.

“Quando vivia lá, as minhas amigas eram todas mais novas do que eu, estavam constantemente a pedir-me conselhos e chamavam-me ‘a mãe grande’, que é uma pessoa mais velha, experiente. O significado de velho lá é diferente do de cá, significa uma pessoa com muita experiência, com sabedoria. Foi o que eu adquiri com a minha vivência lá, o saber viver, o saber estar e isso só consegues com maturidade”.

Sobre a COVID-19, Catarina realça que existem poucos casos em São Tomé, onde quase não se sente a pandemia. "Não estou a dizer com isso que não se deve tomar todos os cuidados, eles exigem o PCR à entrada e à saída do país", indica. Além disso, "todo o tour é feito em zonas onde existe pouca população", conclui.