
Tiago Pires “Saca”, Joana Schenker, campeã mundial de bodyboard (e primeira portuguesa a conquistar esse título), e Samuel Januário "Quintino", campeão nacional de surf de Angola, são os protagonistas de “Virei”, documentário realizado por Gustavo Imigrante, apresentado pela primeira vez no “Surf at Lisbon Film Fest”, em novembro do ano passado, e que estreou agora em Luanda.
Partindo da capital angolana, os três desportistas percorreram alguns dos locais mais emblemáticos do surf no país, como o turístico Cabo Ledo, passando pelo Catanas Point, um 'surf camp' solidário fundado pelo brasileiro Sérgio Torres, até chegarem à natureza prístina do Namibe, no sul de Angola, cruzando as ondas entre golfinhos, em praias desertas.
O filme, que traz uma nova perspetiva sobre o surf em Angola em ligação à cultura local, vai além da aventura e das ondas, mostrando a hospitalidade angolana, as paisagens deslumbrantes e a comunidade de surfistas locais e a sua paixão pelo desporto, apesar das dificuldades.
"Até onde o surf nos trouxe e até onde pode levar-nos?" é o ponto de partida do documentário, a que se procura responder a partir da descoberta dos campeões portugueses em Angola, através das suas viagens e dos encontros com surfistas locais, abordando o potencial turístico do país.
Tiago Pires, que foi o primeiro português a competir com a elite do surf mundial, no circuito da World Surf League (WSL), já percorreu os mares de todo o mundo e ficou surpreendido com a qualidade das ondas e a beleza natural da costa angolana.
Visitou Angola pela primeira vez no ano passado e descreveu a experiência como "inesquecível", apontando o país como um destino "com muito para oferecer", um território de "paisagens lindíssimas", onde destacou o lado inexplorado e a qualidade das ondas como os principais atrativos.
"Viajei pelo mundo inteiro durante mais de 20 anos, estive nas melhores ondas do planeta, as mais conhecidas e famosas, e vi aqui ondas que se podem realmente comparar a esses destinos badalados. Mas aqui é tudo novo, é tudo desconhecido", disse à Lusa.
Sendo o surfista "um aventureiro por natureza", Tiago Pires acredita que em Angola é uma questão de tempo até que o surf, que está a crescer a nível global, também se desenvolva no país.
Para Tiago Pires, é o desconhecimento sobre Angola o motivo pelo qual muitos surfistas portugueses ainda não descobriram o país, o que associa a preconceitos.
"Acho que ainda há uma má imagem sobre Angola", justifica, acrescentando que "Portugal está muito enganado ".
"Angola é muito mais segura do que se pensa. Vivemos em total liberdade durante estes dez dias, conhecemos pessoas incríveis, uma simpatia enorme, super acolhedores, ótimos anfitriões. Os ingredientes estão reunidos. Agora é uma questão de contar a história verdadeira, passar por cá e relatar transparentemente o que veem, sem agendas", convida.
Para Tiago Pires, o filme “Virei” pode ajudar a divulgar Angola como um destino de surf, despertando mais atenção para este desporto no país.
O campeão angolano, Samuel Januário "Quintino", de 19 anos, começou a surfar há sete anos e acredita que o desporto não está mais difundido em Angola por falta de oportunidades para os praticantes.
É preciso, defende, mais patrocinadores, apoio e incentivos para os atletas.
“Mas já temos vários surfistas bons, com potencial para competir fora de Angola", afirma.
Por outro lado, ser surfista pode mudar a vida de um jovem angolano, permitindo-lhe viajar, conhecer lugares e culturas diferentes, conclui Quintino, de sorriso aberto.
Comentários