Hoje, com 50 anos, Olejnik percorre esse mesmo lugar, mas não como soldado da antiga ditadura comunista, e sim como ornitólogo atento à fauna e à flora local.
A fronteira de 1.390 quilómetros entre as duas Alemanhas, coberta de arame farpado, minada e vigiada por soldados ensinados a disparar para matar, transformou-se, em grande parte, num paraíso natural onde vivem mais de 1.200 espécies em perigo de extinção.
Linha de vida
"A zona de morte transformou-se em linha de vida", explica em entrevista à AFP Olejnik, a poucos metros de uma torre de onde muitas vezes esteve de guarda durante o seu serviço militar, mas sem ter disparado um único tiro.
Alarmado pelo êxodo crescente de alemães do leste para a RFA, o regime comunista da RDA começou em 1952 a construir barreiras para reter a sua população.
Foi aberta uma vala ao longo da fronteira para impedir que os veículos se deslocassem em alta velocidade para o lado oeste, e foi delimitada uma faixa de proteção de cerca de 500 metros de largura.
Outra zona, de 5 quilómetros de extensão, era acessível somente às pessoas consideradas leais ao regime. Foi instalado arame farpado, substituído depois por cercas de arame e sistema de sinalização eletrónica.
No total, segundo um estudo oficial, 327 pessoas morreram na fronteira entre as duas Alemanhas.
As associações de vítimas julgam este número inferior à realidade.
Com o tempo, esta faixa, que se estendia desde a fronteira checa até ao Mar Báltico, transformou-se em terra de ninguém, dando espaço à natureza para se alastrar.
"A região transfomrou-se num espaço de vida de grande qualidade para a fauna e para a flora", estima Dieter Leupold que, assim como Olejnik, trabalha para o grupo BUND, encarregado do projecto "Cinturão Verde".
Espécies raras
Os ornitólogos da Alemanha Ocidental foram os primeiros a investir no potencial ambiental da fronteira. "Desde os anos 70, observamos do oeste, com os nossos binóculos, o valor excecional do Cinturão Verde", lembra Kai Frobel, um dos fundadores da zona natural.
Apareceram espécies raras de aves, o que também atraiu a atenção de outros apaixonados da RDA, como Olejnik.
Um mês depois da queda do Muro, em novembro de 1989, "num encontro entre ecologistas do leste e do oeste, foi aprovada uma resolução para proteger o Cinturão Verde como linha de vida", explica Leupold.
O grupo BUND convenceu as autoridades de que, para garantir a sua conservação, era preciso vender as terras não reclamadas pelos proprietários após a reunificação, aproximadamente a metade da antiga zona fronteiriça.
O grupo comprou também outras parcelas dos proprietários, gastando um total de 5 milhões de euros para comprar 900 hectares.
O projeto atraiu a atenção da Coreia do Sul, que enviou delegações com a esperança de reproduzir a experiência algum dia na sua zona desmilitarizada (DMZ), que a separa da Coreia do Norte.
Num dia húmido de outubro, pouco antes do amanhecer, o som dos gansos selvagens soa na floresta.
Um cervo pasta pacificamente enquanto uma raposa passa a poucos metros de uma grua. "A zona transformou-se num refúgio", diz Leupold.
Património nacional
Mas o grupo BUND ainda tem muito trabalho a fazer. Cerca de 12% da superfície da zona continua submetida à agricultura intensiva ou é utilizada como estrada. É cada vez mais difícil convencer os agricultores a vender, já que alguns proprietários exigem em troca parcelas noutros lugares.
O grupo espera agora que o Parlamento de Saxônia-Anhalt classifique a região como zona protegida, tal como fez na Turíngia.
Isto daria ao grupo recursos financeiros e funcionários adicionais para reconhecer o projeto e poder inscrevê-lo como Património Nacional.
A história desta fronteira ainda não está totalmente escrita. Ainda não se sabe quantas pessoas morreram no total.
Os restos da fronteira, como as torres de vigilância, os bunkeres e as cercas, também precisam de atenção e manutenção.
"Um historiador disse uma vez que é preciso esperar pelo menos 30 anos antes dos historiadores dominarem esse tema. Espero que este seja o momento", conclui Leupold.
Comentários