Numa sessão extraordinária, o Comité de Património adotou a decisão por seis votos a favor, um contra (Rússia) e 14 abstenções.
Apelidada de "Pérola do Mar Negro", Odessa é uma cidade portuária que muitos identificam pela monumental Escadaria de Potemkin.
Com a votação, o centro histórico de Odessa foi inscrito na Lista do Património Mundial e também registado como património em perigo.
"Odessa, uma cidade livre, uma cidade mundial, um porto lendário que deixou sua marca no cinema, na literatura e nas artes, fica, assim, sob a proteção reforçada da comunidade internacional", afirmou a diretora-geral desta agência especializada da ONU, Audrey Azoulay.
Odessa sofreu bombardeamentos russos desde o início do conflito, em fevereiro de 2022, mas seu património permaneceu praticamente intacto.
A Escadaria de Potemkin é um dos monumentos mais conhecidos. Concebida como a entrada da cidade pelo mar, foi imortalizada no filme histórico "O Couraçado Potemkin" (1925), do diretor soviético Serguei Eisenstein.
"Enquanto a guerra continua, esta inscrição encarna a nossa determinação coletiva de garantir que esta cidade, que sempre se ergueu acima das convulsões do mundo, seja preservada de novas destruições", acrescentou Audrey.
A designação como património em perigo (ver aqui lista completa) "dá acesso a mecanismos reforçados de assistência internacional, tanto técnica quanto financeira", segundo a Unesco.
"A Ucrânia pode solicitar para garantir a proteção do sítio e, caso necessário, ajudar na sua reabilitação", disse a agência.
Rússia tentou adiar votação
A Rússia tentou adiar a votação repetidas vezes e, durante a sessão, criticou a apresentação de um "dossier superficial" feito com base em um "copia e cola da página da Wikipédia". Moscovo também acusou as autoridades ucranianas de serem responsáveis pela destruição dos monumentos.
Depois, a missão russa na Unesco denunciou, em nota, uma decisão "tomada sob pressão do Ocidente" e acusou o Comité do Património de se ter transformado em um "instrumento para acerto de contas políticas".
Em outubro passado, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu que este local fosse inscrito como Património Mundial. Desde a invasão russa, as autoridades ucranianas tentam proteger os monumentos com sacos de areia e barricadas.
Debate sobre Catarina, a Grande
O debate foi marcado por um aspeto político. Antes do início da sessão, a Ucrânia protestou, numa carta aberta aos membros do comité, contra a inclusão de uma referência à imperatriz russa Catarina, a Grande, como fundadora de Odessa no final do século XVIII.
"O desenvolvimento de Odessa como cidade portuária remonta ao século XV", disseram os representantes da Ucrânia.
Em novembro passado, a Câmara Municipal de Odessa votou pela remoção da estátua de Catarina, a Grande, após uma consulta local. O monumento à czarina — que se tornou, para muitos, um símbolo da opressão russa desde o início da guerra na Ucrânia — foi removido no final de dezembro.
Localizada a 500 quilómetros ao sul da capital ucraniana, Kiev, Odessa é uma cidade muito simbólica para a história da Rússia. É considerada a terceira cidade do Império Russo e o seu segundo porto.
Em abril de 2014, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que, historicamente, não fazia parte da Ucrânia, mas da Novorossia (a Nova Rússia), que ele gostaria de reconstituir.
Na sessão, também foram registados como património em perigo uma antiga cidadela no Iémen – país em guerra desde 2014 – e um parque futurista no Líbano, devido ao seu “alarmante estado de conservação” no meio de uma crise nacional.
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