A jovem de 24 anos leva turistas virtuais até Herat, a cidade no oeste do Afeganistão que teve que abandonar após a chegada dos talibãs ao poder em agosto de 2021.

O itinerário inclui uma visita à grande mesquita azul com a sua louça esmaltada, à cidadela e respetivas vistas panorâmicas, ao antigo bazar e a outras atrações da cidade.

Através do plataforma de vídeo Zoom, Haidari cativa o público com a emocionante história de Herat e das suas maravilhas, experiência enriquecida pelas fotos e vídeos transmitidos a partir da residência de estudantes em Milão, onde estudou Política Internacional na Universidade Bocconi.

Fatima Haidari
Fatima Haidari créditos: AFP or licensors

No fim do visita guiada, as perguntas multiplicam-se. Visitantes de diversas nacionalidades querem saber se é possível ter  experiência semelhante no local e de forma segura.

"Quando ouvimos falar sobre o Afeganistão, pensamos em guerra, terror, bombas. Quero mostrar ao mundo a beleza do país, a sua cultura e a sua história", conta a guia turística.

Um terço do valor que arrecada com as visitas tem como fim financiar aulas de inglês clandestinas para jovens afegãs.

O grupo Talibã restringiu drasticamente a liberdade das mulheres no país, obrigando ao uso de burcas e chadores em público, para além de proibir o acesso destas a escolas e universidades ou de trabalhar no setor público.

Primeira guia turística do Afeganistão, Fatima era frequentemente insultada nas ruas de Herat quando crianças atiravam-lhe pedras e figuras religiosas a acusavam de "fazer o trabalho do diabo", especialmente quando acompanhava homens.

Fatima Haidari
Fatima Haidari créditos: AFP or licensors

"O poder da caneta"

"Os talibãs têm medo das mulheres e da sua força. Combatemo-os com o poder das nossas canetas e não com armas", diz, sentada numa pequena cozinha que partilha com outros quatro estudantes.

Para a jovem, o acesso à educação foi repleto de obstáculos.

Aos sete anos de idade, os pais enviaram-na para cuidar de ovelhas na área montanhosa da sua região natal Lal Wa Sarjangal, na província de Ghor.

"Consegui levar as ovelhas para pastar por perto do rio onde as crianças tinham uma escola e, assim, ouvia as aulas escondida”,  escrevendo notas na areia ou argila, conta.

Três anos mais tarde, a família mudou-se para Herat, onde não pode frequentar a escola durante três anos. Porém, graças à venda de artesanato que fazia à noite, conseguia comprar cadernos e financiar os estudos.

Assim, Fatima, a mais nova entre sete irmãos, conseguiu convencer os pais a deixarem-lhe frequentar a Universidade de Herat, onde começou a estudar Jornalismo em 2019.

Fatima Haidari
Fatima Haidari créditos: AFP or licensors

“Os meus pais queriam que eu fosse uma perfeita dona de casa. Mas eu não queria seguir o mesmo caminho das minhas duas irmãs e acabar casada por causa de um casamento forçado”, diz.

Desde setembro de 2022, a afegã faz parte de um grupo de 20 estudantes refugiados que foram recebidos pela Universidade de Bocconi.

A viver uma vida muito diferente das das milhões de mulheres afegãs, a jovem, que teve de deixar o país após ser informada pelo patrão  que se encontrava na lista de possíveis alvos de ataque, alimenta o sonho de regressar ao país após a saída dos talibãs.

"Voltar ao Afeganistão para abrir uma agência de viagens e contratar mulheres como guias", completa.