Atento às antenas de televisão, Fernando Arias, de 61 anos, é uma das pessoas que vivem mais perto da cratera em plena efervescência. Assim como ele, alguns poucos trabalhadores solitários vigiam o vulcão Nevado del Ruiz, na Colômbia, em alerta para uma possível erupção devastadora.

O eletricista garante há 15 anos o funcionamento do sistema público de telecomunicações RTVC num monte a 6,3 quilómetros da boca do vulcão e a temperaturas abaixo de zero.

A cada 15 dias, ele vive num apartamento cercado por antenas gigantescas, longe da sua esposa e filha e tendo como única companhia ecrãs de televisão e um rádio. Fernando confessa que se acostumou às condições do seu ofício na colina, onde vivem apenas soldados.

O vulcão Nevado del Ruiz
O sargento colombiano Miguel Rodriguez a vigiar o Nevado del Ruiz a partir de uma colina próxima, no início de maio créditos: AFP/Joaquin Sarmiento

"A solidão e o clima afetam, sim. Com o passar dos anos, a gente acostuma-se", diz à AFP, aos pés do vulcão localizado a cerca de 250 quilómetros de Bogotá, a capital colombiana.

A autoridade geológica declarou o vulcão em alerta laranja perante uma "provável" erupção em "dias ou semanas", devido ao aumento da temperatura da cratera (até 700°C) e aos terramotos (quase dois por segundo no final de março).

Desde então, Arias tem uma nova tarefa: todas as manhãs, tira uma fotografia do Ruiz para os média estatais.

“O vulcão é a única preocupação neste momento”, afirma, mas o cheiro de enxofre e a fumarola da cratera não o assustam: “a televisão e a rádio não podem perder um minuto”.

Da guerra ao vulcão

Se o vulcão entrar em erupção, o soldado Héctor Trejos terá no máximo sete minutos para alertar milhares de pessoas por rádio e depois fugir para um bunker equipado com capacetes, máscaras de gás e óculos de proteção.

De uniforme camuflado, a bordo de um camião adaptado pelo Exército para funcionar como uma estação de rádio, ele reporta dia e noite os movimentos do chamado "Leão Adormecido". A sua última grande erupção, há mais de três décadas, deixou cerca de 25 mil mortos.

Em caso de erupção, o soldado de 35 anos e locutor amador terá de notificar mais de 57 mil camponeses vizinhos de Ruiz que se recusaram a abandonar as suas casas, terras, animais e colheitas.

“Estarei lá 24 horas por dia (...) A menos que haja uma tempestade elétrica, uma queda de energia, a estação estará sempre ligada”, diz ele, a partir da sua pequena sala de trabalho.

Nevado del Ruiz
Leonel Ortiz, o responsável local pelos equipamentos de telecomunicações nas imediações do vulcão Nevado del Ruiz, partilha informações por rádio sobre o comportamento do vulcão com as populações créditos: AFP/Joaquin Sarmiento

Trejos sabe que o destino de um punhado de municípios que o ouvem na montanha depende da sua velocidade de resposta. Perto dos 5.400 metros de altitude do vulcão, as comunicações de rádio e a tecnologia serão cruciais para ganhar minutos ao avanço da lava, rochas vulcânicas e avalanches de lama.

Num outro ponto da cordilheira, o sargento Miguel Rodríguez acomodou alguns binóculos especializados antes usados para calcular a posição de guerrilheiros e outros inimigos durante o conflito armado.

Outros jovens soldados com as mãos inchadas pelo frio monitorizam o movimento do vento em computadores para antecipar a direção que podem tomar possíveis nuvens de cinzas.

"Um amigo"

As ruínas de Armero recordam o horror da avalanche que se seguiu à erupção do Ruiz em 1985: o esqueleto de um hospital, os destroços de casas devoradas pela natureza e o túmulo de Omaira Sánchez, uma menina de 13 anos que agonizou durante três dias diante das câmaras do mundo no meio da lama.

Nessa noite de novembro, Leonel Ortiz, que viveu 55 dos seus 77 anos perto do vulcão, ouviu um estrondo, sentiu como "se a terra se movesse" e viu rochas incandescentes caindo por toda parte.

Nevado del Ruiz
O túmulo de Omaira Sanchez, a menina de 13 anos que ficou presa na avalanche de lama causada pela erupção em 1985 do Nevado del Ruiz créditos: AFP/Juan Barreto

Hoje, comunica por rádio informações sobre o vulcão aos seus vizinhos para que não se repita o pior desastre natural da história da Colômbia.

Enquanto cozinha no fogão a lenha, Rubiela Muñoz, de 57 anos, e a sua família ouvem os relatos de Ortiz e as instruções do soldado Trejos, que recomenda manter os animais dentro de casa, devido à emissão de cinzas.

O Exército prevê que eventuais avalanches chegarão a 10 km ao redor da cratera, as cinzas quentes se estenderão até 15 km, e o ar poluído afetará habitantes numa área em redor de 100 quilómetros quadrados.

Apesar do risco, Rubiela recusa-se a deixar as vacas leiteiras sob os seus cuidados.

Com os 13 filhos longe, ela resume o sentimento dos camponeses: “temos muito respeito (pelo vulcão) (...) é como se fosse um amigo”.