O primeiro HINTS - Simpósio de Turismo Patrimonial Inclusivo é uma iniciativa da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego e da unidade de investigação DINÂMIA’CET – Iscte e terá lugar no Teatro Ribeiro Conceição.
Segundo João Vaz Estêvão, investigador do DINÂMIA’CET - Iscte e membro da organização da primeira edição do HINTS, os salários no turismo e na hotelaria são dos mais baixos em Portugal devido “à falta de estratégias de desenvolvimento de destinos turísticos centradas nas comunidades residentes e nos benefícios que os negócios do setor podem gerar na mão de obra local”.
“Os salários no turismo só subirão quando os negócios do setor beneficiarem os residentes”, defendeu.
Na sua opinião, é necessário atribuir o protagonismo às comunidades locais, em alternativa à “habitual solução para o desenvolvimento turístico encontrada em muitos destinos portugueses que recorrem a investimentos externos avultados em unidades de alojamento”.
O investigador propôs a “aposta no empreendedorismo de estilo de vida, em que os residentes aliam as suas atividades tradicionais - como artesanato, gastronomia ou jardinagem, por exemplo - à criação de pequenos negócios que têm nos visitantes do destino um dos principais canais de escoamento”.
Uma estratégia centrada nos saberes e na identidade das comunidades locais estará em linha com as “exigências de segmentos de turistas mais sofisticados, que procuram experiências de turismo criativo desenvolvidas em estreita relação com os residentes”.
“Se não houver um cuidado em beneficiar as comunidades de acolhimento, as comunidades de residentes, vai continuar este modelo de salários baixos”, explicou João Vaz Estêvão à agência Lusa.
Nas regiões do interior, ao contrário do que acontece no litoral, o turismo tem uma função social e de diversificação da economia: “Temos que pensar no turismo de forma que não sejam as comunidades que se adaptem forçosamente ao turismo, mas o turismo que se adapte às comunidades e às suas características”.
O responsável lembrou que há uma grande tendência internacional sobre um tipo de turismo que coloca os turistas ao lado dos residentes e aprendem, por exemplo, a fazer máscaras de um careto de Podence ou de Lazarim, ou uma peça de olaria.
“A única razão para dinamizar o turismo, não é para desenvolver o turismo, é para que o turismo desenvolva as comunidades”, vincou.
Em 2022, a Organização Mundial do Turismo assinala a atividade turística como instrumento de desenvolvimento socioeconómico das comunidades anfitriãs, sobretudo em regiões mais desfavorecidas, mas, em Portugal, os exemplos dessa estratégia são raros.
“Esta evidência parece resultar do facto de os decisores públicos ainda considerarem, largamente, que bastará incrementar o investimento privado externo às comunidades para que nelas se façam sentir os efeitos positivos desejados”, explicou o investigador.
Acrescentou que “a escassa base científica no processo de tomada de decisões sobre a reutilização do património cultural público no âmbito do turismo é, ainda, a regra”.
Tal facto, conjugado com a omissão dos interesses concretos das populações residentes, implica “impactos negativos para o património reaproveitado, para a competitividade da atividade turística nos respetivos destinos e, sobretudo, para o bem-estar das populações”.
A primeira edição do Simpósio de Turismo Patrimonial Inclusivo irá propor a alteração do paradigma da forma de pensar o turismo português, o qual deverá ser “estrategicamente desenvolvido em benefício das populações residentes”, concluiu.
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