“Com a ajuda de todos nada custa”, atira Fernando Pinto, nascido e criado em Merufe, no concelho de Monção, distrito de Viana do Castelo.

A agricultura, especialmente a produção de vinho, foi-lhe transmitida pelos avós. Ainda chegou a emigrar com os pais, mas quando regressou à aldeia, com 14 anos, retomou o gosto por trabalhar a terra, “aprendendo com os avós, os pais e os vizinhos”

“São os mais velhos que nos ensinam”, frisou.

A agricultura permanece na família que, entretanto, constituiu quando casou com Alberta Esteves.

Alberta e a irmã Fernanda herdaram 10 parcelas de terrenos, no total cerca de cinco hectares. A herança foi dividida a meio, mas é toda dedicada à vinha.

A vindima da uva branca, que dá o “famoso” Alvarinho, foi a primeira a avançar. Hoje termina a da uva tinta, que se dá nas zonas mais altas do concelho, numa jornada de trabalho que começa ao raiar do dia.

O almoço, com broa, chouriço, queijo e, claro, vinho, “tudo caseiro”, é servido por volta das 11:00. O corpo já pede reforço para aguentar o trabalho “árduo”, mas “alegre” para cortar num cuidado delicado cada cacho que a natureza criou.

Merufe preserva valor da “boa vizinhança” que se vê nas vindimas
Merufe preserva valor da “boa vizinhança” que se vê nas vindimas Trabalhadores participam nas vindimas numa quinta em Monção créditos: LUSA

O repasto, servido numa toalha branca de linho lançada na erva do terreno com cerca de três mil metros quadrados, rodeado de vinhas, é observado de perto por Mourinho, o cão da família que acompanha a azáfama, desviando-se dos tratores que entram e saem carregados de cestos de cachos de uvas.

Além do descanso que o corpo precisa, as iguarias dão alento para continuar a labuta. Não falta animação com a concertina e as cantigas de Sónia Duque, que também pega na tesoura para vindimar.

“É sempre uma alegria. No domingo reunimos as pessoas [que ajudam] e tivemos um pequeno convívio. Há sempre quem apareça para tocar e cantar. É sempre muito bom”, sublinhou.

Fernandinho, como é conhecido na aldeia, o marido de Alberta, explicou que a entreajuda é planeada, num “intercâmbio de gente amiga” que, pelo “favor”, tem almoço e lanche garantido e, “se a colheita for boa, vão receber mais”.

"Neste momento ainda não pagamos o jornal [termo utilizado para pagar a trabalhadores temporários]. É tudo gente amiga que vem de graça”, explicou.

Além de gestor do posto dos correios de Monção e Melgaço, Fernando Pinto, de 43 anos, é também presidente da Junta de Freguesia de Merufe e precisa da “ajuda” da família e dos vizinhos para “cuidar a vinha”.

“É um ‘hobby’ ao fim de semana”, porque durante a semana é preciso “gerir” a carreira profissional e as funções de autarca.

Satisfeito com a colheita deste ano, Fernando disse que “não podia ser melhor” e prevê que o produto final, apesar da seca, “vai ser excelente”.

“As uvas de Alvarinho deram um grau 14,2 e de 10,8”, afirmou, referindo-se ao teor provável de álcool.

Durante as vindimas, a cunhada Fernanda Esteves divide-se entre o salão de cabeleireira e o alojamento local, para ajudar nas vindimas.

"É um bocadinho cansativo, porque temos um curto espaço de tempo para fazer tudo, mas faz-se”, adiantou.

Para Fernanda, a ajuda de amigos e vizinhos “é fundamental” para terminar a vindima em cerca de três semanas.

Desde os 12 anos que trabalha na agricultura e pelo, que já colheu nas suas cinco parcelas e nas outras cinco da irmã Albertina, não tem dúvidas da qualidade do vinho de 2022.

“Vai ser muito boa. O ano foi muito seco, impediu que a uva de desenvolvesse tão bem, não tem o mesmo peso, mas a qualidade é muito boa. Não há uma produção muito abundante como houve no ano passado. O grau [teor provável de álcool] é muito elevado. Posso dizer que tive um Alvarinho com 14,2 que é considerado um grau muito alto. Diminuiu a produção, em peso, mas está bom”, destacou.