O santuário do santo sufi num parque da capital é a última vítima do "programa de demolição" da Autoridade de Desenvolvimento de Deli (DDA) que quer destruir "estruturas religiosas ilegais", um destino que é compartilhado por uma mesquita, vários túmulos e templos hinduístas.
A demolição provocou comoção e alerta entre os historiadores, que lamentam a perda de um património que data do final do século XII.
"É um golpe (...) a História que tornou a Índia o que ela é hoje em dia", aponta a historiadora Rana Safvi.
"Esse santuário era o de um santo sufi, que foi um dos primeiros, senão o primeiro, a chegar a Deli", acrescentou. "Vimos pessoas de todas as confissões a prestar homenagem". O sufismo é considerado a corrente mística e contemplativa do Islão.
O santuário de Baba Haji Rozbih já tinha 500 anos quando o Taj Mahal foi construído. Era muito menos espetacular: ornado por um muro baixo que envolve uma sepultura ao fim de um trilho no parque florestal de Sanjay Van.
Mas para os habitantes é uma perda dolorosa. "Passei noites aqui a rezar e tudo desapareceu", explica à AFP um homem que falou sob a condição de anonimato. "Se não protegermos nossa história, quem fará isso?".
O programa de demolição, justificado oficialmente em nome do desenvolvimento, afetou tanto estruturas hinduístas como muçulmanas.
Mas a DDA não explicou o que será construído no lugar onde ficavam as estruturas demolidas, incluindo muitas que estavam no interior de áreas florestais ou reservadas.
A campanha foi aprovada por um comité religioso e "o conjunto do programa de demolição é realizado sem obstáculos nem perturbações ou protestos", afirmou a DDA, uma agência federal que busca preservar "o caráter histórico único de Deli".
Segundo o jornal Hindustan Times, além do santuário e uma mesquita, quatro templos hinduístas e 77 túmulos foram destruídos pela agência.
Essas demolições ocorrem num momento sensível, depois de campanhas do nacionalismo hinduísta, a religião maioritária no país, que reivindicam a instalação dos seus templos onde há monumentos islâmicos centenários.
Em janeiro, o primeiro-ministro Narendra Modi inaugurou um templo hinduísta gigante na cidade de Ayodhya, construído onde durante séculos havia uma mesquita.
"O património é comum a todos"
No mês passado, na mesma área florestal de Nova Deli, a mesquita Ajonji que, segundo seus guardiões, tinha cerca de 600 anos foi destruída.
O imã Zakir Husain disse que as retroescavadoras chegaram cedo, antes do amanhecer, para demolir o templo sem aviso prévio.
"Perdemos. Não podemos reconstruí-la independente dos nossos esforços", lamentou.
A historiadora Rana Safvi destaca que "o património é comum a todos". Essa demolição representa uma perda para toda a sociedade.
O Serviço Arqueológico da Índia (ASI) incluía o santuário de Baba Haji Rozbih na lista de patrimónios de 1992 e assegurava que o santo sufi era "venerado como um dos santos mais antigos de Deli".
Segundo a descrição, "a tradição local" falava de um segundo túmulo no santuário que pertencia à filha de um dirigente hindu de Deli do século XII, Rai Pithura, que havia se convertido ao Islão sob sua influência.
O sectarismo do santo teria gerado problemas. Segundo o documento do ASI, "diversos hindus abraçaram o Islão devido aos seus conselhos e os astrólogos consideraram isso como um mau presságio", que antecipou a instalação do império mongol muçulmano, que reinou sobre grande parte da Índia a partir do século XVI.
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