As duas casas na costa central do Chile, na zona balnear de Isla Negra e no porto de Valparaíso, e outra no centro de Santiago, aos pés do morro San Cristóbal, estão entre as principais atrações turísticas do país, ao serem visitadas anualmente por 350.000 pessoas.

Mas a pandemia provocou o encerramento das três casas que o poeta construiu ou restaurou, reabrindo apenas - com público limitado e outras restrições sanitárias - em setembro do ano passado. Hoje, as casas recebem só 15% dos visitantes pré-pandemia.

"Estamos numa situação muito complexa", disse esta quarta-feira o presidente da Fundação, Fernando Sáez, durante um encontro com jornalistas estrangeiros.

Enquanto as casas tiveram encerradas, os colaboradores receberam apenas metade do ordenado e conseguiu-se manter os trabalhos de limpeza e segurança.

Mas hoje as contas não chegam nem para manter o funcionamento normal, nem para concretizar um dos projetos mais atraentes da Fundação: abrir um novo espaço dedicado ao poeta com 1.000 m2 de extensão, em frente à "La Chascona", a casa em pleno bairro boémio de Santiago que Neruda adquiriu, cujo nome homenageia a terceira esposa, a soprano Matilde Urrutia, que ganhou este nome devido a longa cabeleira em tons vermelhos.

"Não quero imaginar a hipótese das casas de Neruda encerrarem", acrescentou Sáez, lamentando a falta de recursos.

Antes da pandemia, apenas para o pagamento dos acessos às três casas, a Fundação recebia até 250 milhões de pesos mensais (cerca de 293 mil euros) e outros 183 mil euros em direitos de autor do poeta, vencedor do prémio Nobel de Literatura em 1971.

Saéz admitiu que bateram sem sucesso às portas do governo anterior do conservador Sebastián Piñera (2018-2022) e de várias empresas para obter financiamento.

Legado único

As três casas do poeta permanecem tal como Nerudo deixou. "La Chascona", em Santiago, "La Sebastiana", em Valparaíso, e a casa da Isla Negra, na costa central, foram desenhadas e  decoradas pelo proprietário inquieto, que criou em cada uma delas um mundo próprio, carregado de fantasias.

Todas têm o mar como protagonista, com decorações que se assemelham a um barco, e abrigam  recordações das múltiplas viagens por países e continentes.

Neruda morreu no dia 23 de setembro de 1973, poucos dias após o golpe de Estado que destituiu o seu grande amigo, o socialista Salvador Allende (1970-1973). As causas da morte, atribuídas oficialmente ao agravamento de um cancro, são investigadas pela justiça chilena, após uma denúncia segundo a qual o poeta pode ter sido envenenado.