Veículos blindados — carbonizados e enferrujados — continuam a bloquear as estradas. Ninguém arranjou as janelas e não há água potável.
Uma vida precária para os 900 habitantes que ainda vivem neste lugar, um quinto do total anterior à guerra, altura em que o turismo explodia, graças aos pinhais nas margens do rio Severski Donets e ao mosteiro ortodoxo da Dormição.
Hoje, o administrador, Volodimir Ribalkin, diz que prevê um novo futuro para a cidade, voltado para o turismo de guerra. Ribalkin foi nomeado pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, depois do anterior presidente da cidade ter colaborado com os ocupantes russos entre junho e setembro de 2022.
Volodimir Ribalkin caminha pela rua principal, passando por lojas e cafés com fachadas destruídas.
Oleksandre, de 70 anos e reformado, varre os cacos de vidro na sua floricultura na rua principal. No supermercado mais próximo, fragmentos de um míssil atravessaram teto, janelas e paredes.
"Esta área foi constantemente bombardeada", afirma Ribalkin, recomendando caminhar sobre o macadame para evitar artefatos explosivos ainda escondidos.
Recentemente, uma mulher foi morta por uma mina antipessoal às margens do rio, já que a falta de recursos impede uma limpeza completa.
Turismo histórico e militar
Volodimir Ribalkin garante que, em cinco anos, a cidade vai estar “cheia de turistas”.
“Vai ser mais um turismo histórico e militar, baseado nos acontecimentos que tiveram lugar aqui, e será depois da vitória” dos ucranianos, diz.
Enquanto isso, Svyatogirsk está sem água potável há mais de um ano, após tubagens e estações de tratamento terem sido destruídas.
Um contentor marítimo foi dividido em cabines para casas de banho e máquinas de lavar. Um fogão a lenha aquece a água. Os moradores têm ao chuveiro a cada duas semanas, mediante inscrição prévia.
"É um prazer para as pessoas virem cá", disse uma funcionária, Oksana, ex-assistente pedagógica, que teve o seu antigo local de trabalho e casa destruídos.
"Agora moro com a minha vizinha", conta.
Ali perto, numa cafeteria da associação ucraniana World Central Kitchen, Elvira, de 15 anos, serve um prato composto de atum, arroz, beterraba e salada de legumes.
"Na Ucrânia, o ensino é à distância. Então, depois do trabalho vou para casa e faço os trabalhos de casa", explica a jovem, a sorrir. Elvira tem o sonho de um dia ser cabeleireira.
Crianças da região frequentam aulas de arte num acampamento de verão organizado pela ONG ucraniana Base UA.
A história desta cidade também destaca as dolorosas divisões dentro da Ucrânia.
Quando as tropas de Moscovo assumiram o controlo, o presidente Volodimir Bandura colaborou com o inimigo, antes de partir com os russos, acompanhado de cerca de 200 habitantes.
"Foi aberto um processo criminal", declara o atual presidente da cidade sobre o antecessor.
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