Catarina Cabaca trança cuidadosamente a crina de um puro-sangue lusitano na Escola Portuguesa de Arte Equestre, onde o adestramento (dressage) é ensinado como era praticado na corte real portuguesa no século XVIII.
"Nós preparamos os cavalos como nos velhos tempos", diz à AFP enquanto faz uma trança tradicional de três fios, antes de uma apresentação de adestramento na escola.
Sediada nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz e com apresentações regulares no Picadeiro Henrique Calado, na Calçada da Ajuda (Belém), a Escola Portuguesa de Arte Equestre é considerada Património Nacional e tem como objetivo promover o ensino, a prática e a divulgação da arte equestre tradicional portuguesa, um património cultural único no mundo.
A Unesco, que acrescentou a arte equestre tradicional portuguesa à sua lista de património cultural imaterial em dezembro, chamou a prática de "fonte de identidade coletiva" caracterizada pela roupa tradicional do cavaleiro e pela posição na sela.
De acordo com o Turismo de Portugal, "a arte equestre portuguesa combina funcionalidade e estética, destacando-se pela harmonia e respeito entre cavaleiro e cavalo, com ênfase na comunicação e colaboração sem uso de força".
Um dos bastiões desta prática é a escola de Queluz, onde os cavaleiros montam em selas de pele, vestidos com casacos de veludo, botas de couro e chapéus tricórnios pretos. Realizam exercícios coreografados de acordo com a tradição da arte equestre secular de Portugal.
"Somos os guardiões desta arte nacional", afirma Luís Calaim, administrador da Parques de Sintra, a entidade pública que gere a escola equestre.
Para o cavaleiro Carlos Tomás, de 46 anos, que está na escola há quase duas décadas, o reconhecimento é "uma responsabilidade", pois "desempenhamos um papel importante na preservação e transmissão [desta arte]".
A harmonia entre o cavaleiro e o animal é fundamental, o cavalo Lusitano também é essencial, o puro-sangue originário de Portugal, amplamente admirado pela força e marcha ágil, mas também pela docilidade e obediência.
"É um cavalo único, diferente de todas as outras raças. Vejo-o como um produto português de excelência, como o azeite, o vinho ou a cortiça", refere João Pedro Rodrigues, escudeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre.
Para além desta escola, a arte continua a ser praticada graças ao trabalho de inúmeros criadores, artesãos e cavaleiros em Portugal e no estrangeiro.
Com a sua inclusão na lista da Unesco, a arte equestre portuguesa junta-se a outras manifestações do país, como o fado, o cante alentejano, os caretos de Podence, a falcoaria, entre outras tradições culturais.
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