Bilhete-postal por Pedro Neves
Uma viagem de autocarro de quatro horas até ao Alto Alentejo é sempre um pouco dorida, mas esta acabou por ser um pouco mais aflitiva do que era suposto.
No fim-de-semana passado, seguia na N251, uma estrada nacional que corre paralela ao rio Sorraia no concelho de Coruche, quando avistei uma ave de média dimensão a levantar voo a partir de uma árvore rente à berma. Suponho que se apercebeu demasiado tarde da nossa passagem, pois esbarrou imediatamente na frente da viatura. Ainda soltei uma exclamação sonora, mas era demasiado tarde. Como devia ser o único atento ao caminho, ainda tive de me explicar aos passageiros à minha volta que foram acordados pelo som surdo do embate (ou pela minha reação). O motorista não parou a viatura e eu também não tive presença de espírito para lhe pedir que o fizesse (e não sei dizer se teria sido possível fazê-lo).
Não tive tempo para identificar a espécie exata, mas pela dimensão e cor acastanhada, tenho a certeza que se tratava de uma ave de rapina. Além de ter sido tudo muito rápido, eu não estava sentado nos lugares da frente, pelo que não deu para perceber o que lhe aconteceu a seguir. Só ao fim de alguns momentos, quando já devíamos ter avançado, seguramente, algumas centenas de metros, é que pensei que devia ter pedido para parar o autocarro e verificar se era possível fazer algo pelo animal.
Não o fiz e segui os próximos quilómetros a remoer no assunto, a tentar conciliar o meu deslumbramento por estas aves com a possibilidade de ter contribuído (ainda que indiretamente) para magoar uma — e não ter feito nada para ajudar. Atormentado pela culpa, lá usei o telemóvel para pesquisar na internet pelo contacto de alguma organização que pudesse ajudar. Encontrei esta página da Liga para a Proteção da Natureza, que remete os visitantes para outro formulário da linha SOS Ambiente. Se seguirem o link, e espreitarem o aspeto da página, vão perceber o meu ceticismo com a sua eficácia. Ainda assim, submeti os dados pedidos e participei a ocorrência.
Para minha surpresa, a participação funcionou. Poucos minutos depois, recebia uma resposta por escrito a informar-me que o assunto seria encaminhado para o comando territorial da GNR responsável por aquela região. Por volta das 14h (cinco horas depois do incidente), recebi uma chamada de número desconhecido. Era um agente da GNR, em contacto direto com uma patrulha no terreno, a perguntar-me se tinha visto para que lado da estrada a ave tinha sido projetada. Infelizmente, não consegui dizer, mas já fiquei a saber que o agente no local não encontrou qualquer ave caída ou ferida nas imediações do local.
Não é propriamente uma história com final feliz, mas a minha experiência talvez possa ajudar alguém que, no futuro, venha a ser confrontado com a mesma dúvida, sobre o que fazer para ajudar um animal potencialmente ferido. Se possível, claro, parar para verificar, se não, podem contactar a linha SOS Ambiente (à qual deixo o meu agradecimento pelo trabalho dos seus operacionais) e expor a situação em causa, com a maior quantidade de dados que conseguirem recolher (localização, data e hora).
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