Bilhete-postal por Manuel M.
A saúde impede-me de andar de bicicleta. O desgosto é enorme, porque desde criança que a bicicleta me acompanhou ou eu a acompanhei melhor dizendo.
Se por um lado, tenho muita pena de não poder pedalar, por outro lado, estou aliviado por já não poder ser confundido com alguns dos ciclistas atuais (eventualmente uma minoria) que, depois de exigirem alterações ao Código da Estrada para se os protegerem (porque efetivamente são utilizadores mais vulneráveis), o seu comportamento é o oposto ao criarem mais risco para si a para terceiros e a exigirem que sejam os outros responsáveis pela sua própria proteção. E sendo uma minoria (acredito que sim) acabam por gerar na opinião pública um sentimento negativo sobre todos os ciclistas.
As minhas voltas de bicicleta eram maioritariamente fora de estrada em locais remotos ou pouco habitados e a circulação nas estradas resumia-se a atravessá-las ou, na pior das hipóteses, fazer pequenos troços para chegar a um trilho ou caminho de terra.
Ainda assim usei sempre roupa refletora e luz à frente e atrás para minha proteção. Pelo menos uma vez, estas luzes fizeram-me escapar a uma colisão, porque um automobilista encandeado pelo Sol nascente numa estrada estreita, me confessou não ter visto uma série de ciclistas que circulavam perto de mim mas viu a minha luz a brilhar e desviou-se, evitando o acidente.
Fiz várias ciclovias, umas longas outras mais pequenas, umas construídas de raiz para o tráfego de bicicletas, construídas sobre linhas férreas abandonadas e muitos trilhos onde coabitavam pedestres e ciclistas. Felizmente nunca embati em ninguém nem fui albalroado.
Ainda assim, não usando a minha bicicleta em estrada, tinha um seguro contra terceiros (custa atualmente 35 euros ano na Federação Portuguesa de Ciclismo e quanto a mim devia ser obrigatório). Não é nenhuma fortuna, em especial para tem bicicletas e equipamento cujo preço total facilmente ultrapassa os 5 mil euros, mas que é muito útil porque ninguém está livre de se ver envolvido num acidente.
Com receio mas com muita vontade, no fim de semana passado fui dar a última volta de bike para atravessar a ponte sobre o Rio Trancão, percurso vital, que foi inaugurado oficialmente em julho passado, mas cuja ponte, lamentavelmente, ainda não tem nome. Acredito que o nome a dar a esta ponte seja como o novo aeroporto de Lisboa, “vão vir charters” de propostas que vão esbarrar em todos os contras e mais alguns e assim se prolongará no tempo a falta de nome para a ponte.
Fui acompanhado pelo meu amigo de sempre para estas voltas, cedo para evitar a grande concentração de pessoas, fizemos todo o percurso, cerca de 12 quilómetros e pelas 10h estávamos despachados.
Soube a pouco, a muito pouco, mas temos que aceitar as nossas limitações.
Trata-se de um percurso muito belo e tranquilo que gostei muito de fazer e que por ser tão especial para mim, deixo aqui uma série de imagens onde se inclui a minha grande companheira de pedaladas que fez comigo cerca de 15 mil quilómetros nos últimos anos. Um dia destes, vou vendê-la. Dá-me pena abrir a garagem e vê-la inativa.
Se a virem por aí a ser pedalada por alguém, já não sou eu que vou aos comandos.
O Manuel é o autor do blog Generalidades, no qual escreve sobre a atualidade e onde uma versão deste texto foi originalmente publicada.
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