Abraçada pelo misticismo do rio Douro e pela antiguidade dos vinhos do Porto, a cidade do Porto tem vindo a assistir a uma mudança no seu cenário gastronómico, vivendo um momento muito importante, nunca antes visto.

É um destino gastronómico muito democrático, onde nenhum restaurante supera o outro. Não existe nenhuma pretensão, nenhuns "quero mas não posso", nenhuma cozinha de fusão, nem restaurantes da moda. Tudo é 100% comida tradicional portuguesa. Isto é o que forma o cenário da gastronomia portuense: restaurantes locais, ingredientes regionais, receitas tradicionais, com conteúdo espiritual, de carácter forte e com um sabor impressionante.

Entre os estabelecimentos tradicionais e os mais recentes pequenos restaurantes, as tascas, as casas de pasto e as adegas - todos são bons. Que o digam André Apolinário, do Porto Food Tours, ou Gabriela Opaz, do Catavino, dois amantes da boa comida; o primeiro por tradição familiar, e a segunda por opção própria. Eles dir-lhe-ão como a oferta gastronómica do Porto é puramente baseada em pequenos espaços de 10 mesas, alguns dos quais existem há mais de um século. No meu artigo sobre onde comer no Porto, o André diz que poderia ter recomendado 50 restaurantes em vez de 10, e, ainda assim, deixaria de fora alguns sítios únicos.

A verdade é que estes lugares não são, de forma alguma, sofisticados. São frequentados por todas as classes socias - é normal ver em alguns destes pequenos espaços um bancário a almoçar lado a lado com um carteiro. Isto é o que mais adoro nesta cidade, tudo se baseia na comida! Não há dramas, tapetes no chão, porcelana da China, nem chefes célebres. Trata-se do cliente, do cozinheiro (normalmente, a mulher do proprietário), o senhor ao balcão (normalmente, o marido e proprietário) e um jovem a ajudar com os clientes (normalmente, o filho ou a filha).

Lombo de porco assado em lume brando, galinha caseira guisada, filetes de polvo fritos, pastéis de bacalhau, cubos fritos de barriga de porco, cozido à portuguesa, fígado de porco braseado com cebolas e atum fumado com tomate confitado são alguns exemplos dos pratos típicos do Norte de Portugal e que formam a gastronomia portuense. Sítios como o Mercado do Bolhão, a Casa Guedes, a Gazela, o Alfredo Portista ou a Tasca da Badalhoca são ícones da comida portuense muito frequentados e que ajudam a tornar esta cidade tão singular.

Está-se a assistir a uma mudança merecida de uma cidade que em tempos era vista como enfadonha, desarranjada e feia, cujo único interesse eram as caves do vinho do Porto, do lado de Vila Nova de Gaia. Esta revolução gastronómica está a ser desencadeada 50% por locais à moda antiga e 50% por jovens talentos, cujo único objetivo é produzir uma autêntica e deliciosa cozinha tradicional portuguesa. Tal como as suas mães e avós lhes ensinaram.

Chegados a este ponto, devem estar a pensar: porque não estou a considerar Lisboa?

Muito simples. O cenário da gastronomia lisboeta é exatamente o oposto do Porto. Claro que há alguns restaurantes tradicionais totalmente baseados na cozinha portuguesa, mas também existem imensos conceitos gastronómicos pretensiosos que nada têm a ver com a carta gastronómica de Portugal. Lugares que servem cozinha peruana e asiática, cadeias de hamburguerias, restaurantes de sushi que não têm fim, restaurantes que se denominam italianos, sem falar dos restaurantes de baixo nível que aumentaram com o recente crescimento anual de 15% do turismo em Lisboa.

Não me interpretem mal, eu adoro Lisboa. Acho que é um cartão de visita fantástico para Portugal, além de ser o destino mais cool da Europa neste momento. Mas é preciso estar-se muito seguro de onde se vai comer, porque a oferta gastronómica está muito desequilibrada. Esta é a razão pela qual publiquei o meu guia sobre onde comer em Lisboa, para lhe mostrar as minhas recomendações gastronómicas que ajudarão o seu estômago e paladar a manter a desilusão ao longe.

O Porto é genuíno. Não há paciência para os que não dão umas boas-vindas calorosas e não possuem as boas regras gastronómicas das pessoas do Norte de Portugal. O Porto é uma bolha que conserva a comida e o vinho que poderia encontrar há uns 50 anos atrás numa pequena aldeia portuguesa. E eu amo esta cidade por causa disso.

Agora, tudo o que tem de fazer é marcar as suas próximas férias no Porto.