O primeiro café Joyeux em Portugal abriu pelas mão da Associação VilacomVida, uma IPSS que nasceu em 2016 e que tem como objetivo "colocar a diferença no centro da vida das pessoas". Filipa Pinto Coelho, presidente da direção da associação, explica que o objetivo é fazer com que as pessoas "possam perder medos, perder preconceitos, e incluir mais naturalmente esta diferença nas suas vidas".

"No âmbito desta missão, nós gostávamos de fazer algo que, de facto, naturalmente criasse a oportunidade de as pessoas conhecerem a diferença cognitiva", afirma Filipa que visitou alguns projetos na Europa e decidiu criar o conceito português. "Quando estávamos na iminência de lançar esse conceito, recebemos a notícia que o Joyeux tinha acabado de nascer", explica Filipa.

O Café Joyeux nasceu em França, em 2017, tendo como objetivo testar um conceito de restauração inclusiva, de forma a promover da autonomia das pessoas com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento, tais como a trissomia 21 ou o autismo, por exemplo. Atualmente, conta com cinco espaços em França.

Filipa reuniu com um dos responsáveis da Fundação Émeraude Solidaire e não pensou duas vezes em trazer a marca Joyeux para Portugal, já que o conceito e objetivos se alinhavam perfeitamente. "Foi assim que esta relação foi crescendo, com uma empatia cada vez maior, até se concretizar na assinatura deste acordo de franchising, que acaba por legitimar a Associação VilacomVida como representante exclusiva desta missão Joyeux em Portugal".

A associação abriu o Café com Vida, em Santos, com o mesmo conceito de restauração inclusiva e com o objetivo de "abrir caminho" para o Café Joyeux. Esse café piloto acabou por fechar e, em abril de 2021, foi assinado o acordo de franchising. "Se não fosse a pandemia, teríamos assinado mais cedo, pois essa era uma decisão que já estava tomada em 2018", explica.

O processo de recrutamento funcionou de três formas diferentes: através de uma rede de parceiros - instituições que trabalham a autonomia destes jovens -, através de famílias que procuram o projeto e, por último, através das atividades de capacitação que a associação realiza e que preparam os jovens para o mundo do trabalho.

Esse foi caso de Pedro, o simpático funcionário que nos deu as boas-vindas e que foi recrutado após participar no CookiescomVida, um projeto de capacitação de jovens com défices cognitivos da associação e, ao mesmo tempo, uma marca de bolachas artesanais. No Café Joyeux, Pedro tem várias tarefas que realiza com eficiência. "Aqui faço um bocadinho de tudo mas, agora, estou a servir mais às mesas. Mas também faço a parte do bar, do caixa, faço um bocado de tudo", conta. Os avós de Pedro tinham um café e ele já tinha tido contacto com este meio. Depois disso, trabalhou num hotel e em reposição, antes de participar no CookiescomVida. Agora, é no Joyeux que quer trabalhar. "Quero continuar a trabalhar aqui", afirma de forma assertiva.

Sobre a escolha do espaço, Filipa Pinto Coelho explica que foi "uma feliz coincidência". No espaço que hoje abriga o Joyeux, existia um outro café anteriormente, e foi aí que Filipa reuniu, pela primeira vez, com o principal responsável da marca que vive em Lisboa. Quando estavam à procura de um espaço, acabaram por ser contactados pelo proprietário, que queria deixar o espaço. "Quando vi que era a mesma pessoa que nos tinha recebido aqui para a reunião, nem queria acreditar. Uma grande coincidência", recorda Filipa.

Embora a pandemia tenha atrasado o processo, Filipa considera que foi uma oportunidade para preparar a abertura deste novo espaço."A aprendizagem que o Café Joyeux teve, durante a pandemia, em França, também lhes deu muitos ensinamentos que, hoje, nós conseguimos incorporar e prevenir em futuras situações", conta. Houve, também, tempo para ir a Paris, colocar pessoas a estagiar e sobretudo, houve tempo para preparar melhor este caminho.

"Queremos que as pessoas criem relações"

Aberto desde finais de novembro, o feedback não podia ser melhor. "Temos tido casa cheia todos os dias", garante Filipa, que se mostra radiante com a forma como o projeto foi recebido. "Sábado é um dia muito forte. É um dia em que as pessoas vêm ao brunch, trazem a família e temos o dia todo com a casa cheia", afirma. "As pessoas dizem que se sentem em casa e é um bocadinho isso que nós queremos. Queremos que as pessoas criem relações. O nosso público alvo é muito mais o público local, as famílias e as pessoas que trabalham aqui à volta. Porque são pessoas que vão criando estas ligações, que vão conhecendo, que se vão fidelizando ao conceito e a equipa a elas também". Tendo em conta o sucesso deste primeiro Joyeux em Portugal, que é também o primeiro fora de França, os planos são para que o conceito se multiplique noutros locais.

"Já estamos a pensar no próximo. Percebemos que funciona. Temos de estar, de facto, em boas localizações, porque este projeto tem de ser sustentável e é só com muitos clientes que conseguimos que isso seja possível". No primeiro semestre de 2022, irá abrir um novo Joyeux em Cascais.

"É possível ter negócios de sucesso e uma equipa inclusiva, ao mesmo tempo"

"Pretendemos criar um efeito de dominó. Nós não estamos a dizer coisas que outras instituições não tenham dito, estamos a fazê-lo, talvez, de forma mais próxima da sociedade e estamos a dar esse testemunho ao estarmos mais próximos fisicamente."

"Espero que este projeto contribua para desmistificar conceitos, contribua para que as pessoas cada vez mais percam o medo daquilo que não conhecem, no caso a diferença cognitiva. Que empresários e outros parceiros percebam que é possível ter negócios de sucesso e uma equipa inclusiva, ao mesmo tempo. Que as coisas são mais fáceis do que podemos pensar e que, acima de tudo, estes jovens surpreendem-nos diariamente."

Num espaço onde a inclusão e a alegria são o prato principal, há muito mais para saborear. A carta é "muito apetecível", composta por pequenos-almoços, almoços e lanches. Ao sábado existe a opção de brunch. Desde pão de várias qualidades e opções de cafetaria, ao almoço existe uma opção de prato quente do dia, sendo que as receitas "foram pensadas para serem produzidas por estas pessoas, ou seja, simplificadas mas deliciosas", garante Filipa. Além disso existe uma grande variedade de pastelaria e sobremesas, além de sumos naturais. Filipa deixa a promessa: "há sempre algo bom para degustar".

O Café Joyeux de Lisboa está aberto de terça a sábado das 09h às 18h, no número 26 da Calçada da Estrela e tem capacidade para receber 37 clientes. Há ainda uma esplanada, com vista para o Parlamento.

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