Já foi a cidade romana de Collipo e terra de mouros, mas acabou conquistada no século XII por D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Anos depois D. Dinis e a sua esposa, uma princesa aragonesa que viria a ser Santa, usaram o seu castelo como fortaleza e palácio de verão, contribuindo para as lendas e estórias que ainda hoje perduram no imaginário popular.
Venham descobrir a cidade neste roteiro de dois dias.
Dia 1
Centro Histórico e Castelo
Dediquem o primeiro dia a descobrir o centro histórico de Leiria e o seu castelo.
Comecem no Jardim Luís de Camões, atravessem o Largo 5 de Outubro e entrem na Praça Rodrigues Lobo — a sala de visitas da cidade.
Sentem-se numa das esplanadas da praça e provem uma Brisa de Lis, doce típico de Leiria. Apreciem a vista para o castelo e reparem nos edifícios antigos que embelezam a praça. Funcionaram aqui, até 1910, os Paços do Concelho: a Câmara Municipal, o Pelourinho, a Cadeia e o Tribunal. A antiga sede do Ateneu Desportivo de Leiria também se encontra nesta praça e é uma referência porque abrigou, no século XIX, a Assembleia Leiriense a que Eça de Queirós pertenceu, e onde ia ler os jornais. No seu romance “O Crime do Padre Amaro”, este local, que servia de ponto de encontro para os notáveis da cidade, é mencionado várias vezes.
Ao deixarem a praça que hoje tem o nome do grande poeta leiriense do século XVI, Francisco Rodrigues Lobo, prestem-lhe homenagem, reparando na sua imponente estátua que olha na direção da Igreja da Misericórdia e da Rua Miguel Bombarda por onde devem seguir. Espreitem também a Casa do Arco, um projeto do arquiteto Ernesto Korrodi que fica ali perto, na Rua Afonso de Albuquerque.
A Igreja da Misericórdia foi construída sobre uma antiga sinagoga, o que nos recorda que neste local, até ao século XV, viveu uma próspera comunidade judaica. A Rua Barão de Viamonte (antiga Rua Direita) que fica ali muito próxima, marca o eixo deste antigo bairro e na Travessa da Tipografia descobrimos que os judeus Samuel da Orta e os seus três filhos instalaram em Leiria uma das primeiras oficinas tipográficas de Portugal e imprimiram aqui muitos livros. Talvez seja por isso que Eça de Queiroz escolheu esta morada para ficar, quando viveu em Leiria. Uma lápide no nº 19 da Travessa assinala esse facto.
Um enorme gato preto, em cima da Casa Criativa da Música também não passa despercebido a quem anda por estes lados. Intitulado “Olhar e não ver”, o trabalho de Ricardo Romero é já um ícone da cidade.
Continuem pela Rua Barão de Viamonte, mas vão espreitando as ruas transversais, onde podem encontrar lojinhas simpáticas e interessantes exemplos de arte urbana, até chegarem ao Largo da Sé, onde vale a pena parar para apreciar o estilo barroco e maneirista da Sé Catedral de Leiria.
Ainda no largo, não deixem de reparar na fachada da antiga Farmácia Paiva, e nos seus bonitos azulejos.
A partir daqui podem optar por subir à esquerda até à Torre Sineira da Sé e daí até à Igreja de São Pedro e depois ir por uma rua íngreme até ao castelo, ou poupar as pernas e tomar um atalho, subindo de elevador até ao castelo.
Ainda hoje o Castelo de Leiria permanece como um símbolo emblemático da história da cidade.
Guarda no interior das imponentes muralhas vestígios das diversas fases de ocupação e sinais de que funcionou como fortaleza militar e palácio real.
D. Dinis terá sido o monarca que mais tempo passou em Leiria, juntamente com a sua esposa, a Rainha Santa Isabel, a quem é atribuído o Milagre das Rosas. Ao longo dos séculos o castelo foi perdendo progressivamente o valor militar e durante as invasões francesas foi bastante danificado, ficando quase ao abandono.
Só em finais do século XIX, por iniciativa dos Amigos do Castelo e pelas mãos do famoso arquiteto suíço, Ernesto Korrodi, foram iniciadas obras de restauro que transformaram este edifício em Monumento Nacional.
Em 2021, foram concluídas as obras de requalificação de grande parte do espaço, que permitiram não só valorizar ainda mais a sua riqueza patrimonial como aumentar o seu potencial turístico.
Atualmente, o recinto amuralhado que se transformou no ex-líbris de Leiria, é um agradável espaço de passeio e o melhor miradouro da cidade.
A descida de volta até ao centro histórico pode ser feita pelo lado Norte do Castelo, passando junto às suas muralhas, percorrendo depois uma zona de vegetação até uma zona conhecida como "O Terreiro" onde se encontra a Casa dos Ataídes (Largo Cândido Reis), um solar, datado do século XVIII, com traça seiscentista, que integra também a Capela de Nossa Senhora da Conceição. Daqui, seguindo para Este, passamos junto do Mercado de Santana, da Igreja do Espírito Santo e da Fonte das Três Bicas.
Outra opção é descer pelo Largo de São Pedro e visitar o Museu da Imagem em Movimento, um espaço de homenagem à fotografia e ao cinema, que junta arte, ciência e técnica. As suas coleções de objetos dão a conhecer a evolução da cinematografia, numa magnífica viagem pelos limites da imaginação.
Chegada a hora do almoço, recomendo parar no Chico Lobo, um gastropub na Praça Rodrigues Lobo nº 5, com uma bela esplanada e boa comida.
Na parte da tarde sigam para o Parque dos Caniços e façam o percurso pedonal junto ao Rio Lis, passando o Jardim da Vala Real e atravessando a ponte para chegar de novo até ao Jardim Luís de Camões e ao largo 5 de Outubro.
Opções para a estadia não faltam, desde alojamentos locais até hotéis 5 estrelas. Destaco três: o Heritage House Leiria, o Hotel Eurosol Leiria Jardim e o Lishotel (um pouco afastado do centro).
Dia 2
Moinho do Papel e Rota das Termas d’El Rei
Comecem o segundo dia com uma visita de manhã ao Moinho do Papel de Leiria, um dos primeiros a surgir na Península Ibérica e um dos marcos da indústria leiriense.
A sua história começa em 1411, numa época em que a indústria da moagem era determinante para o desenvolvimento económico. O espaço era dedicado especialmente à moagem de cereais (milho, trigo e centeio), ao fabrico do azeite e à produção do papel, estando associado à chegada da tipografia a Leiria e ao início das influências judaicas.
Fica situado nas margens do rio Lis, na Rua Roberto Ivens, nº 13 (antiga Rua Fábrica do Papel) e foi reabilitado com o contributo do arquiteto Siza Vieira. No edifício do antigo moinho está patente ao público uma exposição dedicada ao fabrico do cereal e do papel.
Na sala multimédia, encontram-se instaladas várias máquinas de impressão desde a mais antiga, manual, até à mais moderna, atual, e ainda pontos de multimédia e equipamentos audiovisuais. No final da visita podemos ainda passar na loja e comprar as farinhas produzidas com a energia do rio.
Almocem na Tasca da Gracinda (Rua Roberto Ivens nº 11A), muito perto do Moinho. Restaurante típico, com boa comida portuguesa.
Na parte da tarde façam a Rota das Termas d’ El Rei. Este percurso dá a conhecer o Monte Real, uma vila de charme, que combina natureza e património.
Monte Real é conhecido pelas suas águas termais e o roteiro de visita inclui passagem obrigatória pelas ruínas dos Paços Reais, atribuídos à Rainha Santa Isabel, de onde se pode desfrutar uma vista magnífica do vale do Lis.
Na parte antiga da vila, encontra-se um Pelourinho datado de 1573. Fica junto à Casa da Câmara que durante as invasões francesas foi incendiada e chegou também a servir de cadeia.
Outro ponto de interesse da vila é a pequena nascente conhecida por “Fonte da Rainha Santa”, que a tradição diz ser milagrosa por ter sido usada muitas vezes pela Rainha Santa Isabel. Dizem que as mães que não tinham leite para amamentar os seus filhos bebiam desta fonte e ficavam com o seu problema resolvido.
As águas termais são com efeito a principal atração da vila, assumindo grande importância para a economia local.
A Rota das Termas d’ El Rei, passa por zonas campestres e estradas nas margens do rio Lis. Durante o percurso é possível observar vários tipos de aves e usufruir de uma fantástica vista sobre os Campos do Lis.
Passem a noite no Palace Hotel Monte Real, relaxem no SPA e jantem no seu restaurante Paços da Rainha, uma ode aos sabores mediterrâneos onde a trindade pão, azeite e vinho impera, juntamente com as carnes, os enchidos, o peixe e os frutos frescos.
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Nota: artigo publicado originalmente em fevereiro de 2022, no blogue The Travellight World
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