O escritor francês Júlio Verne é uma conhecida referência para todos os viajantes. As suas histórias sobre submarinos, máquinas voadoras, invenções assombrosas e viagens fantásticas têm fascinado sucessivas gerações. Os livros de Júlio Verne foram essenciais para a popularização do progresso galopante da ciência e tecnologia na segunda metade do século 19. Durante muito tempo, ele foi o autor mais bem sucedido no mundo, sendo os seus livros os mais vendidos (como se dizia) logo após a Bíblia! Hoje, a sua popularidade continua bem viva, reacendida pelas muitas adaptações das suas histórias para o cinema e televisão.
Paris e Júlio Verne
Júlio Verne nasceu em França a 8 de Fevereiro de 1829 na cidade portuária de Nantes e morreu em Amiens no ano de 1905. Pelo meio esteve Paris, onde viveu a maior parte do tempo entre 1847 e 1871. Foi em Paris que Verne se tornou escritor: primeiro esteve o teatro, mas alguns anos depois enveredou por uma frutífera carreira como autor de ficção científica e novelas de aventura. Foi na capital francesa que se casou, teve o seu filho Michel e estabeleceu uma parceria de sucesso com o seu editor Hetzel.
Consequentemente, foi em Paris que Júlio Verne teve o seu primeiro sucesso literário – Cinco Semanas em Balão – e escreveu alguns dos seus melhores trabalhos como As Aventuras do Capitão Hatteras; Viagem ao Centro da Terra; Da Terra à Lua; ou 20.000 Léguas Submarinas.
Fomos procurar a história do famoso autor em Paris e, nas linhas que se seguem, apresentamos-lhe um percurso:
1. Place de La Republique
Evoque a estreia de Júlio Verne como dramaturgo
A visita começa na Place de La République, servida pela estação de metro com o mesmo nome. Esta grande praça ganhou a atual configuração em resultado das grandes obras de renovação urbana empreendidas pelo barão Hausmann durante o Segundo Império Francês. Nesse contexto, muitos dos teatros do Boulevard du Temple foram demolidos. Entre as vítimas contava-se o edifício localizado no número 72, aproximadamente onde hoje está o número 10 da Place de La République: o Théâtre Historique. Aberto ao público em 1847 e mais tarde rebatizado de “Opera-National” em 1851 e “Théâtre Lyrique” em 1852, este sítio foi muito importante na vida de Júlio Verne. De facto, ali trabalhou como secretário e assistiu à estreia da sua primeira peça. Isso aconteceu em 12 de Junho de 1850 quando ele tinha apenas 22 anos de idade. Alexandre Dumas, filho, leu e comentou o texto, e foi crucial para o início da sua carreira no teatro.
2. Palais Brongniart, antiga Bolsa de Valores de Paris
E esta, hein? Júlio Verne, corretor da bolsa!
Depois de uma caminhada que não deverá exceder 25 minutos caso tome a Rua de Turbigo e Rua de Réaumur chegará ao Palais Brongniart, que antigamente abrigou a Bolsa de Valores de Paris. A construção deste belo edifício começou em 1807, usando o projeto do arquiteto Alexandre-Théodore Brongniart.
Este lugar marcou a fase seguinte da vida de Júlio Verne. De facto, a partir de 1856, Júlio Verne decidiu casar-se e logo começou a procurar um rendimento mais estável, adequado a um chefe de família: foi assim que se tornou corretor na firma de Fernand Eggly. Basicamente, o seu trabalho consistia em gerir uma carteira de clientes e negociar ações num ambiente próximo de um clube de cavalheiros. Essas novas funções implicavam deslocações regulares à Bolsa de Valores, geralmente à tarde.
3. Rue de Provence, número 72, antigo escritório de Fernand Eggly
Antigo escritório da firma de Fernand Eggly
Podemos recriar um dia de trabalho de Júlio Verne nesta fase da vida, se caminharmos ao longo de aproximadamente um quilómetro, fazendo o trajeto que separa o Palais Brongniart do lugar onde, um dia, esteve o escritório de Fernand Eggly, situado no número 72 da Rue de Provence. Júlio Verne tornou-se sócio da firma e usualmente trabalhava aqui todas as manhãs, antes de se dirigir à Bolsa de Valores.
4. Rue Saulnier, número 18, antiga Passage Saulnier
Onde nasceu Michel Verne e foi escrito o livro “Cinco Semanas em Balão”
Depois de uma caminhada de aproximadamente 11 minutos, caso tome a Rue La Fayette, vai encontrar a Rue Saulnier. Antigamente, chamava-se Passage Saulnier e Júlio Verne viveu aí, no número 18 dessa rua, durante um momento crucial da sua vida. De facto, Michel Verne, o único filho do escritor com a sua esposa Honorine nasceu nesse número, a 3 de Agosto de 1861. Michel foi educado juntamente com Valentine e Suzanne, filhas que Honorine teve de um casamento anterior. Foi também na Passage Saulnier que Júlio Verne escreveu a primeira das suas viagens extraordinárias – Cinco Semanas em Balão – e começou a sua bem-sucedida carreira de escritor.
5. Église de Saint Eugène
Onde Júlio Verne se casou com Honorine
Com uma caminhada de 5 minutos, ao longo da Rue Richer e da Rue du Conservatoire, chegamos à Rue Sainte-Cécile, onde se encontra a Igreja de Saint Eugène, o templo Católico onde Júlio Verne se casou. Construída entre 1854 e 1856, a igreja combina vários estilos e era novinha em folha quando o casamento se realizou, a 10 de Janeiro de 1857. A cerimónia foi pequena e muito simples.
A história de amor dos recém-casados começou em Maio de 1856, quando Verne foi para Amiens assistir ao casamento de um amigo. Nessa ocasião, ele passou 8 dias na cidade e conheceu a irmã da noiva – Honorine du Fraysne de Viane – uma jovem viúva por quem se apaixonou. Cerca de meio ano depois, deu-se o casamento.
Talvez agora seja boa ideia fazer uma pausa!
Nas imediações, entre as várias opções, pode tomar uma refeição no Le Richer Cafe Bar Restaurant, sito na Rue Richer. Já que estamos um pouco afastados do próximo ponto de interesse, será melhor apanhar o metro de seguida. A estação de Strasbourg está a menos de 5 minutos a pé da Rue Richer. Chegando lá, apanhe o metro na direção de Saint Denis e saia na estação de Odeon e depois caminhe para a Rue de l'Ancienne Comédie.
6. Rue de l' Ancienne Comédie, número 24
Primeira morada de Júlio Verne em Paris
Esta foi a primeira morada de Júlio Verne quando chegou a Paris com o objectivo de estudar Direito. Confortável, com uma mesada paga pela família, o coração de Verne começou a inclinar-se mais para a Literatura do que para o Direito. No seu quarto, devorou autores que foram fundamentais para os seus primeiros passos no teatro: clássicos como Molière, Marivaux, Shakespeare, Schiller; contemporâneos como Beaumarchais, Victor Hugo, Alfred de Musset ou Alexandre Dumas, pai.
Nem de propósito, esta era a rua onde em tempos esteve o antigo teatro de Molière e, como ficava a meio caminho entre o Jardin du Luxembourge e o Quai de la Seine, era uma espécie de ponto de passagem e convívio de estudantes e livreiros. A partir daqui, o jovem Verne começou gradualmente a integrar a sociedade parisiense. O seu tio, o pintor Francisque La Celle Chateaubourg, levava-o consigo a alguns dos mais reputados Salões de Paris, onde Júlio onde contactou com alguns dos elementos mais importantes da política e da cultura francesa, como foi o caso de Alexandre Dumas filho.
7. Rue Jacob
Local do antigo escritório de Hetzel e do Café Caron
No Outono de 1862 esta rua testemunhou um momento que mudaria a história da literatura: Júlio Verne entrega no escritório de Hetzel o manuscrito daquilo que viria a ser Cinco Semanas em Balão. Pierre-Jules Hetzel tinha mais 14 anos que Júlio Verne e na altura era um nome sonante no mundo editorial. Depois de ler a história e exigir algumas mudanças, Hetzel assinou o primeiro contrato com o jovem novelista e, algumas semanas depois, em Janeiro de 1863, o livro foi publicado. A exclusividade de Júlio Verne com a casa Hetzel manter-se-ia até ao fim da vida.
Hetzel foi absolutamente crítico para o sucesso de Verne, especialmente porque ele forçou o escritor a especializar-se no novo género de novelas de aventura. Foi por isso que o experiente editor demoliu o manuscrito da novela futurista e panfletária Paris no Século 20 (que recusou publicar), mas ao mesmo tempo louvou os primeiros capítulos de As Aventuras do Capitão Hatteras. Sensatamente, Júlio Verne aceitou esses conselhos e devotou-se ao feitos do Capitão Hatteras: foi um golpe de génio e um sucesso, seguido em breve por outros títulos sonantes como Viagem ao Centro da Terra, Da Terra à Lua e 20.000 Léguas Submarinas!
Em 1871 Júlio Verne abandonou Paris, instalando-se com a sua família em Amiens. A partir daquele ano até à sua morte em 1905, o número 18 da Rue Jacob foi o principal endereço parisiense do escritor. Verne também passou muitas horas no vizinho Café Caron, situado na esquina da Rue Jacob com a Rue des Saints Pères, onde Hetzel tinha uma mesa fixa. Muitas discussões e sonhos foram tidos e alimentados ali.
No final, ganharam todos: Hetzel, aumentou a sua fortuna; Verne, realizou os seus sonhos; a literatura ganhou um novo género, o público gostou e Paris ganhou mais uma lenda!
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