A ideia da candidatura à classificação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) remonta a 1988, formalizada numa proposta do historiador de Arte Vítor Serrão, que só viria a ser alcançada após um conturbado processo coordenado pelo arqueólogo José Cardim Ribeiro.
“A Paisagem Cultural de Sintra tem por valor maior a identidade única e cabe ao município evitar que ela seja desvirtuada e apresada pela globalização cultural, dos produtos turísticos padronizados aos circuitos estandardizados”, reconhece à Lusa o presidente da Câmara, Basílio Horta (PS).
O autarca assume que o município, desde a classificação, no mandato da socialista Edite Estrela, continua empenhado em “garantir que as futuras gerações tenham acesso ao acervo natural, cultural e humanístico” da vila.
O diretor do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas, José Cardim Ribeiro, por ocasião dos 20 anos da classificação, salientou que as “três diferentes zonas” da Paisagem Cultural são “complementares e interdependentes”.
Na zona “inscrita” (parte do centro histórico e da serra) concentram-se o Palácio Nacional de Sintra, os parques e palácios da Pena e de Monserrate, o Castelo dos Mouros e o Convento dos Capuchos, a “tampão” estende-se ao litoral, a de “transição” inclui a área do Parque Natural de Sintra-Cascais.
Além da necessidade de recuperação da zona “inscrita”, a UNESCO alertou, em 2006, para a “ameaça” urbanística sobre as zonas “tampão” e de “transição”, num concelho marcado pela forte densidade das urbanizações construídas ao longo da linha ferroviária.
A sociedade Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), criada em 2000, foi incumbida de reabilitar os parques e os monumentos do Estado sob a sua gestão. “Fizemos um trabalho muito grande, nos últimos dez anos, na recuperação do património, não só construído, mas também natural”, nota João Lacerda Tavares, ex-administrador da PSML.
O coordenador do Gabinete do Património Mundial - Paisagem Cultural de Sintra, criado em setembro de 2015 pelo município e pela PSML, considera que a vila “beneficia muito do turismo”, que viabilizou “os meios para que a recuperação fosse efetiva”.
Segundo dados da empresa, a PSML investiu 33,8 milhões de euros na reabilitação do património, desde 2000 até outubro de 2015, nomeadamente no restauro do palácio de Monserrate e na reconstrução do Chalé da Condessa (destruído por um incêndio), no parque da Pena. “Estas distinções também funcionam como marcas e, no caso de Sintra, o reconhecimento internacional é avassalador”, vinca Lacerda Tavares, antigo vereador social-democrata.
A par da criação do Gabinete do Património Mundial, com o objetivo de promover o “debate de ideias sobre a gestão e a reabilitação do património”, a comissão nacional da UNESCO decidiu instalar junto do gabinete um dos seus centros, vocacionado para o Património da Humanidade.
A elevada procura turística da vila, que se traduz em mais de dois milhões de visitantes por ano, coloca como principal desafio o ordenamento dos acessos rodoviários à zona classificada.
O presidente da autarquia reconhece que um dos principais desafios reside na “mobilidade” e perspetiva que a construção de um silo automóvel na Portela de Sintra, para mais de 700 viaturas, e de outros dois parques na Estefânea e no Ramalhão permitirão condicionar o trânsito no centro histórico.
O município constituiu ainda uma Área de Reabilitação Urbana (ARU) para o centro histórico, com cerca de 180 hectares, para ajudar os proprietários a reabilitarem os imóveis degradados, penalizando em termos fiscais quem não o fizer.
A recuperação de imóveis para utilização hoteleira e o licenciamento de novas unidades, na envolvente da vila, assim como a construção de uma Pousada de Juventude, junto à estação ferroviária de Sintra, visam atrair investimento e fomentar a economia local.
Enquanto se espera pelos frutos destes projetos, Basílio Horta destaca que o Gabinete do Património Mundial representa “um espaço de ligação à comunidade, de relação com a UNESCO, [e] organizações nacionais e internacionais, como a Rede Nacional do Património Mundial e a Organização das Cidades Património Mundial”.
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