Através de documentos, painéis interativos e objetos pessoais este novo museu conta não só os acontecimentos ocorridos entre 19 e 25 de agosto de 1944, que resultaram na libertação de Paris da ocupação alemã, mas também a história da II Guerra Mundial e, especialmente, da resistência francesa.
Para ilustrar quem preferiu seguir De Gaulle a submeter-se a Pétain e ao regime de Vichy, o museu destaca Jean Moulin e o general Leclerc, dois homens vindos de meios diferentes e com diferentes percursos, mas que participaram ativamente no combate aos nazis.
Trata-se de uma escolha que pretende informar e inspirar os atuais visitantes.
"É preciso lembrarmo-nos que a Europa esteve para ser hitleriana e completamente dominada por regimes autoritários. Nós conhecemos uma outra Europa. A nossa Europa, uma Europa de paz. E, por isso, é preciso voltar ao passado para compreender o nosso presente e gostava que os visitantes viessem aqui para entender alguns pontos chave não só de Paris ou de França, mas da nossa história comum", disse à Lusa Sylvie Zaidman, diretora do museu.
Sem nunca se terem cruzado, tanto Jean Moulin como Leclerc passaram por Lisboa.
Moulin, que coordenou e unificou a resistência francesa até 1943 - ano em que foi preso e torturado até à morte pelos nazis -, passou pela capital portuguesa no outono de 1941, fazendo mesmo parte da exposição permanente uma ficha da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, antecessora da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), vigente em Portugal durante o Estado Novo, que o identifica com o nome falso de Joseph Mercier.
Já o general Leclerc (que se chamava Philippe de Hauteclocque e acabou por adotar oficialmente o nome Leclerc, pelo qual era conhecido na resistência), passou por Lisboa na sua fuga de França em 1940 para ir ter com De Gaulle a Londres.
Paris já tinha um museu dedicado à resistência e à sua libertação, mas a localização fora dos circuitos turísticos e as instalações pouco modernas, levaram a Câmara Municipal a procurar uma alternativa.
Assim, quatro anos de projeto depois e 11 milhões de euros de investimento, o novo museu da Libertação de Paris abre portas na praça Denfert-Rochereau, em frente à entrada das Catacumbas de Paris.
"Utilizámos toda a coleção, não todos os objetos que estavam expostos [no antigo museu], mas alguns mantêm-se. No entanto, repensámos completamente a cenografia do museu. E, como a História muda, apesar de haver um fio condutor da visita, há alguns retratos que temos previsto mudar tendo em conta novos objetos e testemunhos que sejam excecionais", afirmou a cenógrafa Marianne Klapisch, encarregue da disposição das peças pelo espaço de exposição.
A grande novidade deste espaço é a abertura ao público do abrigo de guerra ou como era apelidado nos anos 1930, época em que foi concebido, de defesa passiva.
Sendo anteriormente um dos edifícios onde eram geridas as águas de Paris, havia um abrigo para os funcionários continuarem o seu trabalho em caso de ameaça de bomba.
Nos dias da libertação, o coronel Rol-Tanguy e mais uma dezena de resistentes, tomaram este abrigo e dali coordenaram as operações na capital francesa.
Agora, o visitante pode descer a 20 metros, tal como os resistentes naquela altura, ver as diversas câmaras subterrâneas e fazer uma visita em realidade virtual, sentindo o ambiente dos anos 1940.
Este museu vem também tocar nalgumas feridas do passado como o colaboracionismo e a delação de judeus durante a guerra em França, algo que deve continuar a ser mostrado ao grande público, segundo a diretora do museu.
"A história não é um lugar de apaziguamento, é um lugar de confronto. Temos vários exemplos de como cada um pega em diferentes factos e constrói a sua história, mas o que define um momento e uma época é aquilo a que todos nós decidimos dar importância [...] e nós sabemos que esta história da II Guerra Mundial é importante para forjar o nosso futuro. A nossa missão como museu é dá-la a conhecer ao público", realçou a diretora do museu.
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