SAPO Viagens: A maioria dos leitores que respondeu à nossa pergunta disse não sentir necessidade de "desligar" das redes sociais durante as férias. Isso parece ir contra aquilo que vemos todos os dias à nossa volta, com o uso permanente do telemóvel. Isso suscita uma dúvida: podemos estar permanentemente ligados a algo e mesmo assim não estar viciados?

Dra. Mariagrazia Marini Luwisch: Estar ligado às redes sociais já é parte integrante da quotidianidade, especialmente na faixa etária da população mais jovem. O vício das redes sociais pode limitar atividades importantes para o nosso bem-estar físico e psicológico, bem como diminuir a convivência com amigos, familiares e colegas.

O uso excessivo das redes sociais pode criar sérias dependências e gerar consequências como: ansiedade, depressão, irritabilidade, isolamento, distanciamento da realidade e das relações familiares, perda de controle, etc.

No âmbito da psicologia, qual é a linha que separa o uso normal da dependência?

A fronteira entre o uso normal das redes sociais e o da dependência é difusa. Há, entretanto, alguns inícios que dão pistas sobre se essa dependência existe, embora a última palavra corresponda sempre a um profissional especializado.

Pergunta do dia no SAPO Viagens
Os resultados de uma recente "pergunta do dia" no SAPO Viagens.

De modo geral, existem alguns sinais a que podemos prestar atenção, em nós ou nos outros, para percebermos se passamos demasiado tempo ligados (à internet, redes sociais, etc)?

Os sinais mais comuns:

  • Nervosismo quando não se tem acesso à internet, quando não funciona ou está mais lenta do que o habitual.
  • Consultar as redes sociais logo ao acordar e antes de se deitar.
  • Sentir-se inquieto se não tiver o telemóvel ao alcance da mão.
  • Caminhar a utilizar as redes sociais.
  • Sentir-se mal se não receber likes, retweets ou visualizações.
  • Usar as redes sociais ao conduzir.
  • Preferir comunicar com amigos e familiares através das redes sociais em vez de frente a frente.
  • Sentir a necessidade de compartilhar a vida diária.
  • Crer que a vida dos outros é melhor, em função do que se vê nas redes.
  • Fazer check-in para cada local ao qual se vai.

O vício em redes sociais representa uma forma de fuga da realidade. O tipo de personalidade predisposto a desenvolver esse transtorno é caracterizado por traços obsessivo-compulsivos, socialmente inibidos, com tendência ao retraimento, com carência afetiva, insegurança e baixa autoestima.

O abuso seria determinado por uma sensação de vazio, por uma experiência de solidão e pela dificuldade de investir a realidade offline. Em alguns casos extremos, a participação online visa negar a realidade concreta e quotidiana percebida como ameaçadora.

O que podemos fazer, se nos revermos em alguns dos sinais que indicou?

A prevenção é importante. Formas de autorregulação podem incluir:

  • limitação do tempo que passa nas redes;
  • manutenção de outras formas de convívio social;
  • consulta de outras fontes de informação;
  • desenvolvimento de atividades ao ar livre;
  • estadias em ambientes naturais onde não haja acesso à rede.

O uso excessivo das redes sociais contribui, por um lado, para o aumento do stress e sentimentos de solidão e, por outro, para a diminuição do sentimento de felicidade.

As redes sociais não são más nem perigosas. O uso que fazemos delas é que pode ser prejudicial. As redes sociais tanto podem ser um meio para comportamentos aditivos prejudiciais, como para relações sociais fundamentais para o nosso bem-estar.

É muito importante considerar até que ponto são uma prioridade na nossa vida. O que está relacionado com o exterior nunca nos dá a felicidade que realmente desejamos e necessitamos. A felicidade só está acessível a partir da nossa interioridade.

Convém lembrar que a maior parte do mundo está para além das redes sociais.

Obrigado, Dra Mariagrazia!

Mariagrazia Marini Luwisch é psicoterapeuta e especialista em psicologia clínica e da saúde.