A primeira decisão a tomar é se compensa comprar uma autocaravana ou se será melhor alugar uma quando for necessário. Desde logo porque as despesas não se cingem ao valor da compra. É necessário acrescentar o seguro, revisões, eventual estacionamento quando não está a ser usada, valor dos parques de campismo para quem aí prefere pernoitar ou quando é obrigatório, prever a necessidade de reparação de avarias, e aceitar a muito provável desvalorização ao longo dos anos.
A resposta mais curta para esta questão é que para a maior parte das pessoas compensa comprar quando o veículo será utilizado pelo menos durante 6 a 8 semanas por ano ou então na maioria dos fins de semana. Mas a resposta mais longa pode ser mais complexa. O autocaravanismo não passa apenas por uma conta aritmética sobre custos de hotéis versus custo de compra e manutenção de um veículo. Mais do que uma relação de custos/benefícios em termos estritamente económicos a vivência deste tipo de viagem passa mais por um estilo de vida. No nosso caso passa por gostarmos de sair sempre que podemos e nos apetece sem ter nada planeado e sem preocupações de reservas de alojamento e horas de chegada. Passa por gostarmos de ficar, legalmente, óbvio, em sítios inóspitos e acordar no meio do nada, e por podermos praticar alguns desportos de aventura que normalmente não têm alojamento por perto.
Tomada a decisão de comprar, uma das coisas mais difíceis de decidir, é que tipo de autocaravana adquirir. Até porque nem sempre maior é melhor e existem muitos fatores a ter em conta para escolher um veículo que efetivamente se adeque às necessidades de quem a compra.
Antes de mais existe muita confusão sobre o que é uma autocaravana. Por exemplo, na minha opinião, um veículo que não tenha casa de banho não é uma autocaravana. Entendo que tem de existir autonomia total para dormir, cozinhar e outras necessidades que exigem casa de banho para que seja uma autocaravana. Tudo o resto é outra coisa.
Existem quatro : perfilada; capucino; integral ou camper.
Capucino: São boas para famílias numerosas por causa da cama extra sobre a área de condução e são normalmente mais baratas. Têm, no entanto, a desvantagem de consumirem mais cerca de 1,5 litro/100 do que as outras por causa da sua forma menos aerodinâmica.
Perfilada: É provavelmente a mais usada atualmente. São espaçosas e consomem comparavelmente pouco. É o modelo que temos atualmente (por pouco tempo pois vamos trocar) e a nossa tem a vantagem extra de ter, além da cama traseira e da que se monta à frente na zona da mesa, uma cama de casal “pavilhão” na zona da frente que baixa quando é necessário não ocupando espaço durante o dia.
Integral: Considerada por muitos a autocaravana de sonho por ser em regra a mais espaçosa e luxuosa de todas. Tem a vantagem do espaço e do conforto mas tem também a desvantagem do imenso espaço que ocupa que torna extremamente difícil a sua utilização em visitas a cidades ou montanhas. É mais utilizada por casais mais seniores que viajam com mais tempo disponível e ficam essencialmente em parques de campismo.
Camper: É a favorita dos casais e famílias pequenas que viajam em modo mais dinâmico e de aventura. Existem vários modelos, incluindo 4x4, com uma cama ou com beliche, ou ainda com cama pop-up e, em regra, têm tudo o que as outras têm mas em modo mais compacto o que traz a desvantagem de menos espaço para se movimentar e guardar coisas, mas a vantagem de serem mais fáceis de estacionar, ágeis e discretas.
Ou seja, em resumo, ou se tem mais espaço ou se tem maior mobilidade. E cada um terá de ver o que lhe faz mais falta e encontrar o veículo que lhe dê o maior equilíbrio entre o que realmente precisa e o que lhe dá jeito mas pode ficar para segundo plano.
Por fim, e não menos importante, não passem para a compra sem antes alugar ou pedir emprestado, se tiverem essa possibilidade, um veículo parecido com o que vão comprar. Ou, no mínimo, experimentarem uma qualquer autocaravana antes de comprar. A verdade é que a vida de campista não é talhada para toda a gente e o aparente glamour que se vê por esses feeds fora, com fotos de pessoas sentadas no cimo de autocaravanas ao por do sol, é só mesmo aparente. Não se esqueçam que há sanitas e depósitos para despejar, um espaço apertado para partilhar, água para banhos e cozinha para gerir e por vezes racionar, cabeças a bater em tetos baixos e lixo e terra que parecem miraculosamente nascer lá dentro. Mas, se experimentarem e realmente sentirem que nasceram para esta vida de “vandongo”, como diz um amigo meu, não existirá lugar onde se sintam melhor do que a acordar sobre quatro rodas e será na certa o melhor investimento que alguma vez farão.
Artigo originalmente publicado no blogue O Mundo Magno
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