
Ao falarmos de turismo vêm-nos à mente os passeios pela Torre de Belém, pela costa algarvia, pela Torre dos Clérigos ou uma visita às ilhas. Contudo, aos poucos, o panorama turístico nacional tem-se vindo a alterar. Através do dinamismo dos municípios do interior e da revitalização de áreas rurais, as visitas sazonais à Praia da Rocha têm, aos poucos, vindo a ser substituídas pela tranquilidade e pela natureza, por uma (re)descoberta do património nacional de zonas mais remotas e uma (re)conexão com as raízes de territórios outrora esquecidos.
Atarefados diariamente com a comoção das grandes cidades, muitos são os portugueses que procuram um alívio do estresse e da confusão num equilíbrio entre a urbanidade e a ruralidade. Como comprovado pelos dados mais recentes do INE, a procura por destinos rurais destaca-se pelas maiores taxas de crescimento homólogas entre os diferentes segmentos de acomodação turística. Com cerca de 1 milhão e meio de hóspedes em 2024, apresenta variações de +6,3% face a 2023, valor acima dos meios tradicionais de alojamento como a hotelaria, e inclusivamente do próprio alojamento local.
Mais do que números, estes valores refletem ganhos reais para todos os envolvidos: os habitantes e os turistas. Através do crescimento de infraestruturas e serviços atrativos, altera-se progressivamente o modo de se fazer turismo, abrindo novas perspetivas de vida àqueles que visitam, mas também se cria toda uma nova rede de ganhos económicos e monetários àqueles que recebem.
Comerciantes, artesãos, trabalhadores da indústria hoteleira e da restauração, entre outros beneficiam grandemente com o estímulo das economias locais. Se olharmos para os proveitos totais gerados apenas pelo turismo rural no ano de 2024, este ascende aos 265 milhões de euros, um acréscimo de 15,5% face a 2023, valor que se traduz na criação de oportunidades de negócio e de emprego.
Este crescimento tem um efeito multiplicador, impulsionando a criação de novas infraestruturas, como hotéis, restaurantes, lojas de produtos locais e espaços culturais, que não só proporcionam mais emprego e fontes de rendimento para as populações locais, como também atraem novos investimentos para essas regiões. Além disso, a crescente procura por produtos autênticos e regionais, como artesanato, vinhos, queijos e doces tradicionais, permitem que pequenos produtores e empreendedores ganhem visibilidade, incentivando novas iniciativas empresariais e fortalecendo as economias locais.
Para lá da diversificação dos setores económicos, é ainda uma oportunidade única para dar a conhecer as realidades tradicionais e reforçar as identidades dos lugares, numa conjugação entre o passado, presente e futuro. Destinos como o Lago Azul ou a aldeia de Dornes em Ferreira do Zêzere são bons exemplos de como promover o turismo de forma integradora. Ao mesmo tempo em que se preserva a autenticidade do território, há um grande foco no cuidado e valorização destes patrimónios de forma sustentável. As tradições e histórias locais ganham expressão e vida de modos inovadores e economicamente viáveis.
Em última análise, o turismo rural em Portugal tem o potencial de transformar não apenas os destinos, mas também as vidas das pessoas que ali habitam e dos que lá procuram refúgio na natureza e na tranquilidade do campo. Se bem gerido, pode ser a chave para um futuro mais próspero e sustentável, onde os benefícios são sentidos por todos. De potencial vasto, é importante continuar a investir, com visão e responsabilidade, em formas de turismo que respeitem e celebrem o nosso património, criando, assim, um futuro mais equilibrado para todos.
Bruno Gomes é Presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere
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