Não sei dizer o que me terá feito começar a reparar em bancos de jardim nas minhas viagens, mas já conto duas centenas de fotografias feitas por mim nos últimos anos. Em algumas, surgem apenas como elementos da paisagem, noutras dominam todo o enquadramento, como protagonistas.
Não sou o primeiro, claro, a reparar neles ou a fazer o seu elogio. Fernando Pessoa faz-lhes referência (“Meu coração banco de jardim público”) num, pelo menos, dos seus poemas (“Passagem das Horas”) e inúmeros fotógrafos procuram a beleza no móvel mais mundano das nossas cidades.
Com o tempo, fui percebendo porquê. Como sujeitos fotográficos, são incrivelmente versáteis. Saem à rua de todas as formas e feitios, variam de país para país, de cidade para cidade e, muitas vezes, até de praça para praça, consoante a época em que foram instalados. Tanto passam despercebidos, e confundem-se no cenário, como podem surgir nos sítios mais estranhos e destacar-se das suas redondezas. Em qualquer caso, são sempre um convite ao descanso, à contemplação e, para alguns, à fotografia.
Dou por mim ocasionalmente a tentar adivinhar a intenção por parte de quem os desenhou, construiu e escolheu a sua localização. Existem tantas formas de “criticar” um banco de jardim como avaliar uma casa: a sua posição relativamente a uma paisagem ou ponto de interesse; a sua exposição solar (pessoalmente, não pode estar sempre ao sol, nem sempre à sombra); a proximidade de estradas e, algo importante, de qualquer recinto desportivo onde um remate mal calculado possa lançar uma bola na nossa direção. No fundo, trata-se de encontrar o banco ideal.
Quem gosta de ler ao ar livre, sabe do que falo. Um leitor não pode estar demasiado exposto nem resguardado. A leitura requer um nível de abstração que, a ser feita na rua, só pode ser alcançada mediante a satisfação de algumas condições mínimas de segurança e sossego. De resto, um cenário-postal também não ajuda. Quem se imagina a ter a concentração mínima necessária para ler no topo do Pão de Açúcar (Rio de Janeiro) ou no Miradouro da Boca do Inferno (São Miguel)?
Voltando à fotografia, os meus bancos preferidos são aqueles que encontramos onde menos os esperamos. Quem sonhará estes bancos solitários, divorciados de qualquer paisagem e gastos pelo tempo? Paradoxalmente, são nesses que me imagino mais vezes e que gosto de trazer comigo como recordações fotográficas.
Há qualquer coisa de providencial nestes bancos aparentemente esquecidos (não serão todos?), que me faz sempre pensar sobre quem ali, naquele local, é mais improvável: o banco ou eu?
Um desafio
Por fim, um desafio a quem estiver desse lado: conseguem reconhecer um sítio a partir dos bancos de jardim? Se acham que sim, espreitem alguns dos que colecionei por Portugal em 2022, na galeria abaixo. Não deixem de partilhar connosco os vossos palpites, via sapo.viagens@sapo.pt
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