É final de verão e as primeiras chuvas começam a cair. Uns pingos de chuva acompanham o nosso trajeto pelo caminho de terra batida, desde o portão da entrada junto à estrada até ao estacionamento na Quinta da Dourada em Portalegre. Um percurso que se faz rápido e que permite desde já apreciar a paisagem natural envolvente. A terra emana o seu cheiro quente quando a água do céu lhe toca.
Há silêncio à nossa volta. Os sentidos parecem relaxar depois da euforia a que estão habituados na cidade. Os chocalhos dos animais e o restolhar dos nossos passos na calçada rompem o silêncio. Estamos envolvidos pelo Parque Natural da Serra de São Mamede.
A piscina com vista para um pôr-do-sol deslumbrante dá-nos as boas-vindas, que são seguidas quase de imediato por um “boa tarde. Bem-vindos”. Um dos funcionários da Quinta da Dourada recebe-nos e acompanha-nos até à nossa casa, que é antecedida por um pequeno pátio aconchegante e discreto, feito com “paredes” de vegetação que nos permite ali descansar com total privacidade. Será aliás neste espaço, onde há uma mesa e cadeiras, que nos será servido o jantar. Depois dos pingos de chuva, o sol voltou a brilhar, aquecendo este final de dia, permitindo-nos mergulhar na piscina de azulejo escuro, que acrescenta mística a este local idílico.
Neste turismo rural existem apenas casas individuais, no total seis, totalmente equipadas para poder passar um tempo de descanso. Uma sala de estar e de refeições, casa de banho, quarto e uma pequena cozinha muito bem equipada. Todos os dias o frigorífico é recheado com iguarias para o pequeno-almoço, assim como são repostos cereais, café e chá se necessário. O pão chega com o nascer do sol. Vem num saquinho de pano, que é pendurado nuns ganchos colocados junto à porta do lado de fora.
Já estamos acomodados na nossa casa, onde iremos permanecer nos próximos dias, aproveitando para descobrir esta zona do Alto Alentejo, com localidades ricas de história como é o exemplo de Marvão e Castelo de Vide.
A Quinta da Dourada – inserida num conjunto mais alargado de propriedades, atualmente já independentes, mas que constituíam a Tapada da Dourada devido aos tons dourados que as vinhas e os castanheiros atingem por volta do outono e que permanecem até quase ao fim do inverno – é propriedade de Nuno Malato, que herdou o espaço dos seus pais.
“Depois de 20 anos aqui a viverem, os meus pais entenderam que era tempo de passarem o testemunho. Eu tinha uma vida agitada em Lisboa e troquei-a para vir para aqui onde iniciei o turismo rural com um conceito diferente em que cada hóspede tem uma casa e não apenas um quarto dentro de uma casa partilhada”, recorda Nuno Malato.
A harmonia com a Natureza manteve-se intacta ao longo dos anos. As casas caiadas de branco aqui são contornadas com vermelho-escuro. “Mantemos a cor original. Antigamente, esta cor era conseguida através do sangue dos bois. Pesquisamos e conseguimos desenvolver uma tinta o mais próxima da cor original”, partilha Nuno Malato.
Os chocalhos que ouvíamos ao chegar à quinta estão pendurados de um rebanho de ovelhas de qualidade extrema. Nuno cria exemplares ótimos que depois podem ser cruzados com outros rebanhos de outras quintas, essas sim dedicadas à agropecuária. No entretanto, as ovelhas da Quinta da Dourada são um dos atrativos do espaço, que arrancam sorrisos a miúdos e graúdos. E já que falamos de animais, é importante salientar que este turismo rural é “pet friendly e não cobramos taxas adicionais por isso. Temos produtos especiais de limpeza das casas onde estiveram animais, mas entendemos que não devemos ter taxas adicionais para quem quiser trazer os seus animais”, explica Nuno Malato.
Continuamos a trilhar os caminhos da Quinta. Há um pequeno núcleo de vinhas onde as castas estão identificadas. “Não produzimos vinho, a ideia é tão só que as pessoas possam ver as diferenças e conhecer um pouco mais sobre as castas da região”, afiança o nosso interlocutor.
De regresso à nossa casa, o jantar está pronto, deparamo-nos com alguns espaços de lazer onde são disponibilizados gratuitamente alguns equipamentos, como uma mesa de matraquilhos, bolas e um cesto de basquete e bicicletas.
No nosso alpendre, ao nosso ritmo, vamos desfrutando do repasto de sabores alentejanos. A refeição poderia também ser servida dentro de casa se assim o desejássemos. Mas a noite convida a estar na rua, onde os grilos começam a cantar. Embalados pelo “grigri” dos grilos fomos espreitar o céu estrelado. Está repleto de pequenas luzes cintilantes que só aqui é possível observar na sua plenitude.
Na Quinta da Dourada o tempo flui devagar e natureza mostra-nos como é bom estarmos em harmonia.
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