Porvenir começou a ter algum turismo mas não se transfigurou. Não engana. As casas são coloridas e quase todas de um ou dois pisos.

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Vista da cidade créditos: Who Trips

Foi terra de riqueza (e imigração) e muitas casas ainda espelham esta época. Agora, a comuna tem pouco mais de 5 mil habitantes. Por outro lado, ainda é muito escassa a influência do turismo. Verifica-se, aliás, pelo site do município como estão ainda a dar os primeiros passos. Os locais não interferem com os turistas, não há quiosques, restaurantes, lojas de souvenirs, câmbios… A vida continua igual.

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Municipio de Porvenir créditos: Who Trips

O museu Fernando Cordero Rusque e a sede do município são edifícios comuns. A aposta das autoridades locais é no turismo cultural.

Do ponto de vista histórico, além da passagem de Fernando Magalhães, há a destacar a forte presença de croatas (os primeiros chegaram há mais de um século), a exploração de ouro nos finais do séc. XIX e o ponto mais dramático: a extinção dos Selknam, a morte de um povo com quatro mil pessoas.

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Museu - reconstituição de uma mercearia no final do séc. XIX créditos: Who Trips

Estes dados históricos podem ser observados no museu Fernando Cordero Rusque, onde igualmente se percebe a vida dura e o que é essencial para sobreviver num lugar tão inóspito. A relação do homem com a natureza, a convivência com outros seres vivos e como todo o ecossistema é delicado.

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Memorial dos Selknam créditos: Who Trips

Se juntarmos a ganância e a violência temos uma outra história bem dramática: a extinção dos Selknam que há cerca de 11 mil anos chegaram à Terra do Fogo. Eram caçadores nómadas e alimentavam-se quase exclusivamente dos guanacos que também serviam para fazer as peles com que se vestiam. Ficaram na Terra do Fogo e conviviam com outros povos. Alguns utilizavam como sistema de comunicação bolas de fogo que foram vistas pelos marinheiros no início da colonização espanhola e por isso deram o nome de "Terra de Fogo" a esta ilha.

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Memorial dos Selknam créditos: Who Trips

Os Selknam eram um povo robusto. Tinham quase dois metros de altura, pés grandes (o nome "Patagónia" deriva dos  povos ameríndios terem pés grandes e uma estatura muito superior à dos espanhóis). A ganância, um líder corrupto, uma comunidade de invasores sanguinários e o poder que se deixa corromper têm sempre o mesmo desenlace: vence a lei da força. Os invasores pretendiam tomar conta das terras para a exploração agrícola. Mortes e doenças dizimaram em algumas décadas este povo. Membros da igreja conseguiram retirar algumas pessoas para a Europa mas também morreram devido à doença.

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Porvenir créditos: Who Trips

Hoje a cidade e a região vivem da memória deste povo. No circuito histórico urbano de Povenir é evocada a presença dos Selknam em vários locais. No museu há fotografias, utensílios de caça e de rituais de iniciação. Noutra parte da cidade há também um memorial, com estátuas e informação sobre os Selknam.

Porta de entrada para a Terra do Fogo

Porvenir é o ponto de entrada na Terra do Fogo e um dos lugares mais visitados é o Parque Pinguim Rei.
Quase toda a ilha é um lugar inóspito, com longas superfícies de estepe, frio e vento.

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A estepe na Terra do Fogo créditos: Who Trips

De vez em quando vê-se uma a duas casas, dos proprietários das terras que exploram carneiros. Há pequenos povoados, muito dispersos e distantes uns dos outros. O mais interessante é o património natural. A estepe, os rios, o mar e os golfinhos.

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Estátua aos trabalhadores da extração de petróleo em Cerro Sombrero créditos: Who Trips

A Terra do Fogo é também lugar de extração de petróleo. Cerro Sombrero é uma localidade que fica no meio do nada e a sua existência deve-se à indústria petrolífera. Há muitos trabalhadores que residem aqui e a Empresa Nacional del Petróleo criou várias estruturas de apoio social, cultural e de saúde.

A extração de petróleo no Chile começou na Terra do Fogo em 1945 e têm sido abertos novos poços. As fazendas vivem quase em exclusivo dos carneiros. São afamados porque a alimentação facultada pela estepe não permite aos animais terem muita gordura. Nas estradas é vulgar ver camiões carregados com cordeiros.

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Estância de san Gregório créditos: Who Trips

Antes a indústria da lã era também uma importante fonte de receitas mas a concorrência levou muitas empresas à falência. No regresso a Punta Arenas fomos ver as instalações abandonadas da Estância San Gregório. Foi interessante ver os armazéns e o antigo processo de tosquia, apesar do intenso cheiro que ainda mantinha a lã de ovelha que estava ensacada.

Como chegar:

Fizemos a travessia para a Terra do Fogo em Punta Arenas, no porto Três Puentes e o ferry era enorme, transportou imensos carros e camiões.

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Golfinho no estreito de Magalhães créditos: Who Trips

Muita gente arriscou apanhar frio e viajar no exterior, com a esperança de ver golfinhos. Muito frio para se alcançar o objetivo já quase no fim da travessia do Estreito de Magalhães, próximo de Porvenir, quando se avistaram alguns golfinhos.

Há turistas que viajam de carro (a maior parte do caminho é em estradas de terra batida) e vão mais para sul, seguem em direção à fronteira com a Argentina. O regresso ao continente americano pode ser feito de carro por outro caminho, por Punta Delgada mas é habitual haver uma fila de enorme de viaturas à espera de vez para atravessarem num ferry. Na altura em que fizemos a travessia havia dezenas de camiões no lado continental.

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Restaurante Nacho's créditos: Who Trips

Onde comer:

Uma excelente experiência no Nacho's em Porvenir. Pequeno, simpático e comida local.