É um lugar único na Terra. De beleza, de cores e de sensações. É a sagração da Natureza.
O ponto central são as Torres del Paine com os seus quase 3 mil metros de altura e fica no Sul da Patagónia chilena. São várias montanhas íngremes com picos que "furam o céu" e se escondem frequentemente entre as nuvens.
A cada momento têm uma luminosidade diferente. A cor escura dos picos das montanhas tem um forte contraponto com o branco do gelo que em alguns momentos ganha um tom azulado.
As torres são monumentais e a que mais se destaca é a dos Cuernos del Paine com uma forma bem particular e, talvez, das mais fotogénicas. As Torres são um destino turístico mundial e um os motivos é a paixão pela fotografia. Há visitantes dos vários continentes e muitos deles tiram centenas de fotografias a Cuernos del Paine porque todas as fotos são diferentes apesar do imobilismo da montanha.
Como as condições atmosféricas mudam com imensa rapidez, por vezes temos uma perspectiva única das Torres. A luz, a cor, o brilho do gelo, a tonalidade da água e o contraste com o granito fazem combinações que são apenas um instante.
Numa outra perspetiva o monte Almirante Nieto (2.670 metros de altura) também é um dos mais fotografados devido à formação glaciar que corre pelas escarpas.
A envolvente das montanhas é também sublime. Há glaciares, lagos e rios a dar um colorido fabuloso aos terrenos inóspitos, secos e gelados de algumas partes do Parque.
Os rios e lagos têm uma forte cor de esmeralda e fazem um contraponto radical com os tons escuros das rochas. São volumes gigantes de água que por vezes se despedaçam em enormes cataratas. No meio de um profundo silêncio que caracteriza o ambiente no Parque as cataratas funcionam como o despertar para a agitação da natureza.
Onde há mais turistas é no parque em frente à cafetaria Pudeto e ao lado do acesso à embarcação que faz um cruzeiro no lago Pehoé. Funciona como ponto de encontro, paragem de autocarro e recarregar baterias com uma bebida quente na cafetaria, a única nesta zona do Parque.
Rapidamente, entramos no ambiente do Parque. Mesmo sem lá estarmos. Quando nos aproximamos do Parque Torres del Paine o sinal é dado pelo verde esmeralda (Paine significava azul na linguagem de um povo local) da corrente de água do lago Toro e pela sinalética a orientar o caminho para o Parque e para Rio Serrano (que dá o nome à entrada sul). Estrada de terra batida, curvas que abrem um horizonte que nos encanta a vista, a sensação de andar sem destino porque a escala ganha novas referências...
E ao ficar à noite a jantar e a acalmar o espírito ao olhar para as Torres facilmente entendemos que estamos num lugar único e justificadamente sagrado.
Quem vai a Torres del Paine não é para ver. É para estar.
Cascatas Salto Grande e Salto Chico
A cascata do Salto Grande causa algum calafrio devido à força da água e à profundidade da queda. Da estrada principal já se fica com uma ideia devido à espuma branca que se vê ao longe. Há um miradouro que ajuda os mais receosos a aproximarem-se da falésia.
Como é habitual estar vento e com a espuma da água o ar fica muito húmido e, por vezes, origina breves colorações de arco-íris.
Ao lado da catarata há um longo caminho que nos leva mais próximo da base de Cuernos del Paine. A natureza aqui parece mais ressequida com muitas árvores pequenas e amarelada a encher a base das elevações. Porque estão muito concentradas sugerem um labirinto. A vista que domina é a das Torres.
Acede-se facilmente a Salto Grande. O ponto de partida é o largo em frente da cafetaria Pudeto e depois faz-se uma caminhada de algumas centenas de metros.
Antes de Salto Grande estivemos na Salto Chico. Fica próximo do hotel Explora e o acesso foi por uma passadeira de madeira. O barulho da queda de água dava uma ideia errada da distância. Parecia próximo mas não era assim, tivemos de subir uma escadaria de madeira que fica quase paralela à cascata.
Deve ser fascinante ser cozinheiro no hotel Explora. É que, contornando a passadeira, damos de frente com a cozinha do hotel que deve ter uma das mais fabulosas vistas do parque. De um lado a cascata, em frente um lago com cor esmeralda e ao fundo as Torres del Paine com os seus quase 3 mil metros de altura. Deslumbrante!
Alguns guanacos passeiam por aqui e são o foco das máquinas fotográficas dos turistas do hotel. O mesmo sucede no hotel Pehoé, com os patos que passeiam pela ilha.
Ao longo do parque é frequente encontrar guanacos nas encostas e até no meio das estradas. Foi o que nos sucedeu numa descida próximo do lago Nordenskjold. Uma família de guanacos andava a pastar na encosta e decidiram atravessar a estrada de gravilha e passar para o outro lado. Com toda a calma. O movimento não era muito e os carros dos visitantes que esperem!
Esta zona é diferente da entrada pelo Rio Serrano e a paisagem muda subitamente. A vegetação, os guanacos, subidas e descidas enormes, o maciço central com uma nova perspectiva…
O monte Almirante Nieto e os Cuernos tinham um lençóis de gelo azul e branco a escorrer pela montanha e deu ainda para ver uma série de “agulhas” escondidas nas traseiras dos Cuernos del Paine.
Lago Grey
Um outro lugar deslumbrante é o lago Grey, em frente a um dos maiores glaciares desta zona da Patagónia.
O aceso de carro é rápido: a caminho do hotel Grey e depois seguir em frente até uma casa de vigia.
A caminhada começa com a travessia de uma ponte de cordas, talvez com 20 metros de cumprimento, 1.5 m de largura e passa por cima do rio Pingo que aqui é azul. A ponte não é muito alta. Ninguém fez a travessia sem uma sessão de fotografias.
Segue-se uma caminhada de algumas dezenas de metros, por meio de uma vegetação mais intensa e depois aparece aos nossos olhos um extenso areal, cinzento e com um lago.
No meio do lago havia uma língua de terra que fazia a passagem para o outro lado do lago, talvez com uma extensão de 1.5 km. O corredor de terra separa o lago de uma outra área de água com alguns icebergues e ao fundo o glaciar Grey.
O glaciar só é bem visível a meio da caminhada pela língua de terra. Este istmo é constituído por areia e pedras de basalto. Termina junto a uma elevação onde está o miradouro do glaciar.
O percurso teve muitos aficionados. Dezenas fizeram-no na nossa companhia, nos dois sentidos. O problema é que estava (para não variar) um dia de muita chuva e vento forte. Quando estávamos no meio do istmo as condições atmosféricas pioraram significativamente e foi uma molha descomunal. Não há qualquer refúgio. Mais juízo teve o segurança do barco que faz o cruzeiro no lago Grey que estava no início da língua de terra e se refugiou numa encosta, debaixo das árvores.
Isole-se, conte com poucos serviços e esqueça chamadas de telemóvel
O Parque não tem uma oferta muito diversificada de serviços. Além das cafetarias onde é possível comprar alguns snacks e bebidas, pouco mais há: restaurantes nos hotéis e um outro junto ao acampamento de Pehoé. Neste, no Parrilla Pehoé, almoçámos uma dose enorme de frango e salmão tendo como vizinhos metade das Nações Unidas. A sala tem enormes paredes de vidro e o melhor complemento da refeição foi a vista para o lago Pehoé e, claro, as Torres.
O restaurante do hotel Pehoé é igualmente interessante, com uma óptima relação preço/qualidade. As mesas junto aos vidros na parede suspensa sobre o lago são as mais procuradas. É soberbo tomar uma refeição, manhã cedo ou ao final do dia, ao nível do lago e com as inesquecíveis Torres a servirem de nossa vigia. Uma manhã chuvosa, sem sol e com muito vento, aliciou-nos à preguiça e a um pequeno almoço distendido. Lindo.
As linhas das Torres estavam indefinidas, ocultas pelo nevoeiro, as nuvens baixas esbatiam o tom esmeralda da água, a água escorria pelo vidro da janela. O interior quase em silêncio, confortável, com várias pessoas a saborear a vista, a comida e a ver conteúdos na internet. Na altura havia wifi mas não ligação telefónica. O que significa que não há o ruído dos telemóveis nem as conversas em alta voz.
A deslocação no interior do Parque não é fácil para quem não tem viatura própria. Muitos visitantes chegam por transfer desde o aeroporto de Punta Arenas (fica a 400 km) e outros através de autocarros. O problema é que não têm grandes alternativas no interior do parque. As distâncias são grandes, o terreno é inóspito e as caminhadas demoram horas, embora seja a melhor forma de descobrir os lugares mais interessantes. Para quem vem nestas circunstâncias são precisos vários dias para visitar o parque.
Por outro lado, tem de se ter em conta os horários de abertura e fecho do parque e dos autocarros. Num dos dias em que fomos à cafetaria Pudeto, no meio da imensa confusão do espaço atafulhado de turistas, sobressaiu a voz de uma mulher brasileira. Falava para outra brasileira que estava no extremo oposto da sala e queixava-se que estava perdida. Não chegou a tempo da ligação rodoviária para Calafate e procurava uma alternativa. Ainda perguntou a todos os presentes se alguém seguia viagem para a portaria Laguna Amarga mas não teve sucesso. A primeira interlocutora propôs-lhe que a acompanhasse até Puerto Natales e no dia seguinte partiriam para Calafate. Foi uma sorte…
Chegar e andar
O caminho para a Patagónia chilena fez-se a partir de Calafate, na Argentina. A viagem de autocarro da Bus-Sur até Puerto Natales teve uma paragem em Esperanza e depois na fronteira. Do lado chileno da alfândega a espera foi maior porque revistaram todas as malas. Casas Viejas ainda era uma fronteira à moda antiga.
Chegámos de noite a Puerto Natales e foi deitar e dormir no Hotel Lago Sarmiento. O hotel é simpático, está bem localizado muito próximo do porto e é fotogénico mas tem um problema: ouvem-se os passos dos habitantes do quarto superior.
Puerto Natales é uma cidade bonita com muitas casas coloridas de um único piso. Algumas das habitações, em particular na praça principal, têm arquitectura europeia, outras destacam-se por um rendilhado no topo. Faz lembrar algumas localidades costeiras na Namíbia. Ruas limpas, muita gente na rua, pequeno comércio e muitos serviços para turista.
Tal como na Argentina, em Puerto Natales não é rápido levantar dinheiro nas máquinas automáticas: há filas grandes. É recomendável reservar carro porque também não é fácil alugar uma viatura. As empresas nacionais e internacionais não tinham nada. Só num agente local consegui um carro e tive de pagar 50 mil pesos dia.
Fomos para Torres del Paine pelo caminho novo com a maior parte do percurso asfaltado. Saída para Cueva del Milodon (onde existe um parque com uma gruta) e seguir em frente.
Depois dos “3 passos” para se pagar (18 mil pesos chilenos) o ingresso no parque, mais estrada de gravilha e muitos buracos.
A velocidade máxima é de 60 km/h mas muitos ultrapassam o limite. O maior problema no caso de acidente é a demora da assistência médica.
No parque só há alojamento em camping e hotéis. Pouco mais há: cafetarias, loja de conveniência e restaurantes. Tudo isolado, nem animais de estimação podem entrar.
Ficámos no Hotel Pehoé situado numa ilha e com uma excelente vista das Torres, em particular los Cuernos. Alguns quartos têm janela com vista para o lago e as Torres. O acesso ao hotel é pedonal, através de uma ponte de cerca de 200 metros.
Havia espaço para estacionamento e também paravam nas imediações autocarros carregados de turistas, em particular mochileiros.
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