A Rede de Cidades Criativas da UNESCO inclui cidades de todo o mundo, sendo que Portugal tem 9 Cidades Criativas na lista. AmaranteIdanha-a-Nova e Leiria destacam-se na área da Música, Óbidos é cidade criativa da Literatura, sendo a única representante de língua portuguesa com este título, Barcelos e Caldas da Rainha são cidades criativas na área do Artesanato e Artes Populares, Santa Maria da Feira destaca-se na Gastronomia, Braga nas Artes Mediáticas e a Covilhã no Design.

A região Centro de Portugal conta com a maioria das Cidades Criativas da UNESCO em Portugal. Das 9 cidades portuguesas pertencentes à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, 5 ficam na região centroÓbidos, Caldas da Rainha, Leiria, Covilhã e Idanha-a-Nova. Numa viagem de 3 dias pelo centro de Portugal, fizemos cerca de 500 quilómetros para descobrir as 5 cidades criativas da UNESCO no Centro de Portugal e, agora, contamos tudo.

Idanha-a-Nova – Cidade Criativa da Música

Idanha-a-Nova tornou-se na primeira Cidade Criativa da Música em Portugal. Em 2015, entrou para a Rede de Cidades Criativas da UNESCO pela sua importância musical. A pequena vila raiana conquistou o seu lugar ao lado de cidades como Londres, Sevilha e Havana. Tendo como principal porta-voz o Adufe, símbolo maior da riqueza e da tradição musical do concelho, Idanha-a-Nova mantém viva a sua tradição musical.

Além do Adufe, a vila raiana é famosa pelos seus festivais como o Boom, o Salva a Terra – Ecofestival  e o Fora do Lugar, que atraem visitantes de todo o país.

Leiria – Cidade Criativa da Música

Muitos séculos antes de ter sido criada a Rede de Cidades Criativas da UNESCO, ou até mesmo a própria UNESCO, já Leiria respirava música por todos os seus poros. Foi em Leiria que D. Dinis, o rei trovador, compôs as cantigas de amigo que marcam o cancioneiro galaico português. Muitos séculos passaram, mas esta herança não foi esquecida e a música continua a ter um papel predominante na vida da cidade e dos seus habitantes. Leiria tem mais filarmónicas do que freguesias: sim, todas as freguesias de Leiria têm uma filarmónica e uma delas até tem duas.

No Centro de Diálogo Intercultural de Leiria, assistimos a uma incrível apresentação de António Casal que criou música através de peças de cerâmica. Uma apresentação única a criativa, capaz de nos surpreender, com música criada no workshop "Diálogos com Música e Olaria".

A cidade criou vários eventos relacionados com a música que levam a arte à diversas áreas onde ela nem sempre chega. É o caso da Ópera na Prisão os Concertos para Bebés. Do Jazz ao Kizombra, existem eventos para todos os gosto. O LIZBRASS, um Festival de Metais, mostra a versatilidade destes instrumentos e o Festival Extramuralhas leva a música para fora das muralhas do Castelo. Estes são apenas alguns exemplos do que se faz na cidade ao longo de todo o ano.

Óbidos – Cidade Criativa da Literatura

Óbidos é um local de conto de fadas que faz lembrar o conto da Bela e o Monstro. Com as suas ruas estreitas, o bonito castelo e muitos, muitos livros.  Óbidos é Cidade Criativa da Literatura desde 2015. No que diz respeito à literatura, é a única na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, de língua portuguesa.

 O evento “Óbidos Vila Literária” que nasceu em 2011, foi um impulsionador da literatura na vila e deu o primeiro passo para que Óbidos se destacasse na área da literatura e entrasse na Rede de Cidades Criativas da UNESCO. Em Óbidos é possível encontrar livros um pouco por toda a vila: nas igrejas, nos mercados, nos hotéis… Em Óbidos até as rendeiras recitam poesia enquanto criam as suas peças.

Natália Santos faz joalharia em renda de bilro e alia-lhe a poesia, criando pequenos poemas para as peças. Natália faz as suas peças no coro da livraria de Santiago, recita poemas e até ensina a arte a quem a quiser aprender. 

Enquanto Vila Literária e Cidade Criativa da Literatura, Óbidos dinamiza várias iniciativas relacionadas com o tema. O Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos é uma das iniciativas mais conhecidas. Este festival conta com 200 iniciativas e aproximadamente 300 autores, ao longo de 11 dias.

Óbidos acolhe também programas de Residências Literárias, onde diferentes escritores passam de duas semanas a dois meses em Óbidos. O principal objetivo é escrita, mas o envolvimento do escritor com a comunidade é também incentivado. Existem duas opções: a Residência Literária Ruy Belo e a Residência Literária Josefa de Óbidos. Outras iniciativa são o Latitudes, um evento dedicado à literatura de viagens, além de dois prémios literários: o Prémio de Poesia Armando da Silva Carvalho e o Prémio Literário Fernando Leite Couto.

Igreja de Santiago
Igreja de Santiago Igreja de Santiago créditos: Susana Sousa Ribeiro

A igreja de Santiago, do século XII, é agora a Livraria de Santiago, um espaço emblemático repleto de livros. Na rua Direita, encontramos o Mercado Biológico que, além de fruta e legumes frescos, está repleto de estantes de livros do chão ao teto. A Estalagem do Convento deu lugar a um hotel temático, The Literary Man, que já conta com um espólio de mais de 70 mil livros.

Caldas da Rainha - Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares

Conhecida pelos seus produtos cerâmicos mas também pelo seu bordado, Caldas da Rainha é Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares e integra a Rede de Cidades Criativas da UNESCO desde 2019.

No que diz respeito ao Artesanato e Artes Populares, a inovação e a tradição andam de mãos dadas. Enquanto os visitantes percorrem a Rota Bordaliana e descobrem as obras de Bordalo Pinheiro, na  Escola Superior de Artes e Design do Politécnico de Leiria e nas diversas associações como a ADOC - Associação Design Ofícios e Cultura, surgem novos artistas e novas peças de diversas formas e usando diversos métodos.

Rota Bordaliana
Rota Bordaliana Rota Bordaliana - Saloia com Cesto créditos: Susana Sousa Ribeiro

A Rota Bordaliana presta homenagem a Bordalo Pinheiro, com um percurso com réplicas das obras que o imortalizaram, passando por 20 peças, foi pensada para ser feita a pé e demora cerca de 2 horas. A Rota Bordaliana começa em frente à Estação de Caminho de Ferro, pois o comboio era o transporte usado por Rafael Bordalo Pinheiro nas suas deslocações entre Lisboa e Caldas da Rainha. Em frente à estação encontra-se uma rotunda com muitas Rãs pequenas e uma Rã Gigante, réplicas do trabalho do artista.

Ao longo do percurso, é possível encontrar as peças em praças, fachadas de prédios e até penduradas nas árvores. A rota termina no exterior do parque, onde está a Saloia com Cesto, uma réplica agigantada da autoria do filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro.

Bordado das Caldas
Bordado das Caldas Bordado das Caldas créditos: Susana Sousa Ribeiro

Também o bordado é um ponto de referência nas Caldas. O Bordado das Caldas tem uma longa tradição e remonta ao tempo de D. Leonor, sendo por isso também conhecido como Bordado da Rainha D. Leonor. Este bordado terá sido criado pela Rainha e pelas suas aias nas temporadas que passavam nas Caldas da Rainha. Era inspirado nos bordados vindos da Índia e as cores escolhidas eram uma homenagem a D.Leonor. Reza a lenda que para salvar as termas das Caldas, D. Leonor terá vendido todo o seu ouro. As aias, então, decidiram fazer os bordados em tons dourados, de forma a parecer fios de ouro.

Covilhã - Cidade Criativa do Design

Inserida no território do Estrela Geopark da UNESCO, a Covilhã, à beira lã plantada, é muito mais que uma cidade de passagem para chegar à Serra da Estrela. Ao longo dos anos, assumiu-se como um importante polo de design e criatividade. Entrou para a Rede de Cidades Criativas da UNESCO, em 2021. A Covilhã é a primeira cidade em Portugal a integrar a rede na categoria do Design.

O design faz parte da história e dos primórdios da cidade através da indústria têxtil e dos lanifícios, mas está bem presente no presente dia-a-dia através de várias iniciativas e nas ruas da cidade através da sua aposta na Arte Urbana que dá cor às fachadas da cidade. A Covilhã continua a ser uma cidade fábrica a tecer o futuro.

Museu dos Lanifícios
Museu dos Lanifícios Museu dos Lanifícios créditos: Susana Sousa Ribeiro

No Museu do Lanifícios é possível descobrir a longa história da cidade na área do têxtil e lanifícios. O Museu está localizado na Real Fábrica de Panos, fundada em 1764 pelo Marquês de Pombal.

Rota de Arte Urbana da Covilhã
Rota de Arte Urbana da Covilhã Rota de Arte Urbana da Covilhã créditos: Susana Sousa Ribeiro

A cidade está repleta de arte urbana, já que foi na Covilhã que nasceu o WOOL, o mais antigo festival de Arte Urbana de Portugal. Nas várias fachadas da cidade, muitos artistas deixaram a sua marca, deram asas à criatividade e, todos juntos, criaram um verdadeiro museu ao ar livre. Perfeita para ser percorrida a pé, a Rota de Arte Urbana da Covilhã presta também culto ao passado glorioso dos lanifícios.

Estas são as 5 cidades criativas do Centro de Portugal. Qual é a vossa favorita?

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Artigo originalmente publicado no blog A Cachopa.

Publicado originalmente a 20 de outubro de 2022.