Imaginar morcegos a voar no interior de uma biblioteca remete-nos para um espaço antigo - com pó e teias de aranha - podendo mesmo ser um lugar assustador. A verdade é que tanto a biblioteca da Universidade de Coimbra como a do Palácio de Mafra são habitats de morcegos e quem as gere não se preocupa. Há um propósito. Para matar a curiosidade dos seus leitores, o site Travel and Leisure (T&L) procurou saber porquê. Fique a conhecer a reportagem.
Foi atrás das estantes da biblioteca Joanina, da universidade de Coimbra, que uma colónia de morcegos-anão fez a sua casa. Estes morcegos emergem ao anoitecer para comer traças, moscas e outras pragas, antes de saírem pelas janelas e atravessarem o topo da colina da universidade em busca de água. O serviço que prestam à biblioteca é indispensável, pois, de outro modo, muitas das obras que lá se encontram como Opera Omnia de Homero ou Antiguidades romanas de Dionísio de Halicarnasso já poderiam estar degradadas.
E é por isso que os morcegos são bem-vindos nesta e na biblioteca do Palácio Nacional de Mafra pois ajudam a conservar os livros e as estantes destas bibliotecas do século XVIII de uma forma ecológica, sem ser necessário recorrer a químicos.
Não se sabe ao certo a altura em que os morcegos se instalaram na biblioteca de Joanina, se há 300 anos, época em que a biblioteca foi construída, ou se mais recentemente. De acordo com os bibliotecários, consultados pelo T&L, existem morcegos na biblioteca pelo menos desde o século XIX. Hoje em dia, os bibliotecários continuam a utilizar pele importada da Rússia Imperial para cobrir as mesas do século XVIII de forma a protegê-las dos detritos deixados pelos residentes voadores da biblioteca.
O anoitecer é a melhor altura para ver os morcegos em ação. Para conseguir vê-los, o T&L sugere que aguarde nas escadas do lado de fora da densa porta de madeira. Outra opção é visitar a biblioteca num dia de chuva. De acordo com os bibliotecários, muitas vezes, consegue-se escutar, ao final da tarde de um dia chuvoso, morcegos a cantar.
Tal como no caso da biblioteca Joanina, não se sabe ao certo quando os morcegos começaram a instalar-se na biblioteca do Palácio de Mafra. De acordo com Hugo Rebelo, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, deverão habitar a biblioteca há séculos.
Ver morcegos na biblioteca de Mafra também poderá ser mais complicado do que na de Coimbra, pois esta encerra antes do anoitecer, altura em que os morcegos deslocam-se das estantes para os jardins do palácio. Talvez seja por isso e para lembrar que eles existem, existe, na biblioteca, uma pequena vitrine com os restos mortais de três morcegos.
Com ou sem morcegos, vale a pena visitar a biblioteca de Mafra devido à sua magnificência. Há cerca de 36 mil livros nas prateleiras desta biblioteca da era iluminista em estilo rococó. Não é a toa que a biblioteca de Mafra é considerada uma das mais importantes da Europa.
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