Para os estudiosos, o templo do Convento de Santa Maria de Aguiar "é talvez a mais pura e bem conservada das igrejas da Ordem de Cister em Portugal" e uma das mais relevantes em toda a Europa.
A igreja é enorme com um ambiente profundamente sereno. A luz suave e a cor dominante da pedra escura remetem-nos para um ambiente místico, a calma do vazio.
Apenas o retábulo em talha dourada e o azul da imagem da santa quebram a monotonia cromática.
Um ambiente absolutamente contrário à história agitada do convento. Atravessou guerras, esplendor e mistério e não resistiu ao “Mata-frades”.
Foi construído no meio de um vale para estar isolado. Os monges da Ordem de Cister vieram para aqui em 1170 e viviam recolhidos entre a agricultura e as orações.
Era uma comunidade muito simples. Rezavam oito vezes por dia. Se estavam no campo, vinham para a igreja. Se estavam a dormir, levantavam-se para as orações. A regra era “rezar e trabalhar”, conforme nos contou Luís Costa, um profundo conhecedor do convento.
Começou por estar dependente do Reino de Leão e em 1297, com o tratado de Alcanices, passou para a coroa portuguesa. Viveu um período de prosperidade. Uma deficiente gestão e conflitos permanentes originaram crises e o mosteiro até ficou inacabado.
Com as Invasões Francesas sofreu novo revês e o “golpe fatal” foi em 1834 com a extinção das ordens religiosas. Passou para a “Fazenda Nacional” e mais tarde andou (algumas partes da estrutura) de mão em mão.
O rigor, a disciplina e a crença dos monges de Cister deu lugar a atividades mais mundanas, como guardar ovelhas. Onde era lido o Capítulo virou palheiro. A comunidade de monges foi substituída por um rebanho de ovelhas. Na utilização como casa rural o estrume escondeu pedras tumulares, estelas, na sua maioria templárias.
A Sala do Capítulo é de estilo gótico e tem uma rosácea, um óculo a meio da parede, numa posição muito baixa e que não é habitual. Luís Costa admite que esta parede possa ser de origem celta, já que utilizavam o sol para rituais. Os abades do convento terão aproveitado a entrada de luz para a leitura do Capítulo. Através do oráculo, o espaço ganha uma aura ao nascer e ao pôr-do-sol.
A igreja tem também uma ligeira aura mas na sua origem a luz era mais intensa.
Três vitrais estão tapados pelo retábulo que foi construído em 1636. De estilo barroco e em talha dourada os motivos são quase todos alusivos à natureza.
O rigor e austeridade dos monges de Cister recusavam figurações ornamentais e cingiam-se à natureza. O retábulo também teve uma existência atribulada. Esteve 50 anos ao lado do Douro, no Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, e regressou em 1992 ao mosteiro de Santa Maria de Aguiar. Agora tem três imagens e a principal, ao centro, é de Santa Maria de Aguiar.
Muito recentemente, foi introduzida no interior da igreja uma outra estátua que passou séculos na sacristia, representa Santa Catarina e foi oferecida pela comunidade portuguesa no Brasil no século XVI.
Na sacristia há fragmentos de talha do coro que datam de 1713.
Algumas estruturas do mosteiro têm o rasto desaparecido e uma parte funciona como hospedaria.
O dono da Hospedaria do Convento de Santa Maria de Aguiar é também proprietário da Sala do Capítulo e do pátio onde reconstruiu a fonte.
O Convento foi declarado Monumento Nacional em 1932 e a igreja foi restaurada cinco anos depois.
A Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo está a avaliar a passagem para museu do Convento e, nesse sentido, está em diálogo com o proprietário de parte da estrutura. Um outro “diálogo” necessário é com a comunidade de morcegos que se abriga na igreja e que tem a importante missão de a proteger dos insectos.
Para visitar o convento convém um contato prévio com a Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo. Se for possível, recomendo a visita guiada com o técnico Luís Costa que é um profundo conhecedor do local. Muito mais importante, é um apaixonado pela história do convento.
Pode obter aqui informação sobre a história do mosteiro.
Convento de Santa Maria de Aguiar - "a mais pura igreja de Cister em Portugal" faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Convento de Santa Maria de Aguiar - "a mais pura igreja de Cister em Portugal", pode ouvir aqui.
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