É no Vale de Água, entre Santiago de Cacém e o Cercal, a 10 quilómetros do mar, que vai encontrar os 85 hectares da Herdade do Cebolal. E aqui a proximidade com o oceano não é um mero acaso, é um dos elementos cruciais para a identidade dos vinhos aqui produzidos.
A história deste local é a história de uma família que por amor à terra e aos vinhos não deixou morrer um negócio que conta já mais de 130 anos.
O SAPO Viagens esteve à conversa com Luís Capitão, o representante da quinta geração que juntamente com a mãe, Isabel, que representa a quarta geração, está aos comandos deste legado familiar. “Nós geograficamente estamos no Alentejo, mas a nível de denominação de origem ainda pertencemos ao distrito de Setúbal. Mais para frente queremos desenvolver uma microrregião, ou uma sub-região, parecido aos que os espanhóis chamam de Vino de Pago, que basicamente é promover produtos da região que se identifiquem com o local”, explica.
Quem visitar a Herdade do Cebolal percebe que a grande missão destes produtores é o respeito pela natureza com o uso de técnicas ancestrais mais amigas do ambiente como a agricultura sintrópica, também chamada de agricultura de floresta. “À volta das vinhas estamos a fazer pequenos bosques com esta preocupação do aquecimento global. Conseguimos fazer culturas à base de sequeiro sem gastar tanta água; combater problemas de novas pragas e, por isso, desde 2012, começámos gradualmente a transformar a Herdade nesta agricultura regenerativa.”, exemplifica.
Mas o que tem isto que ver com o vinho? Ou que impacto tem esta filosofia de agrofloresta no vinho?
Luís Capitão responde prontamente. “Falamos de processos biodinâmicos e biológicos que vão permitir ter um estilo de vinho muito mais autêntico. A nossa ideia é mesmo representar muito bem o que é o nosso terroir. O terroir que é o local, a casta, o trabalho da própria equipa”, acrescenta Luís.
Produzir vinhos com baixo teor de sulfitos, baixo teor alcoólico e com o mínimo de intervenção química é a forma de manter a autenticidade do vinho.
Além destas técnicas, que contribuem para diminuir a pegada ecológica, a Herdade do Cebolal tem outras preocupações que se notam na identidade e estilo das garrafas. “Temos atenção ao vidro utilizado; mais recentemente fizemos rótulos com papel reciclado; tentamos que dois ou três produtos, para além do vinho, sejam produzidos por nós, ou na região, como a rolha ou a cera de abelha que utilizámos como lacre em algumas garrafas”, exemplifica Luís.
Neste momento, a produção de vinho desta casa divide-se entre 60% de tintos e 40% de vinhos brancos.
Visita à Herdade do Cebolal
Existem vários programas disponíveis para visita à herdade, consulte aqui e saiba qual o programa que melhor se adequa aos seus gostos.
Esta visita valerá sempre a pena, porque além do passeio pelas vinhas e florestas em redor e das histórias e ricas, terá a oportunidade de fazer uma prova de vinhos e provar alguns produtos da região que ajudarão a entender na prática tudo aquilo que aprendeu durante a visita.
Conheça alguns vinhos que são produzidos na Herdade do Cebolal:
Cebolal Palhete 2022
Da família dos tintos, o Palhete 2022 da Herdade do Cebolal mistura duas uvas: a tinta e a branca. Tem uma cor clara, para o que talvez esteja habituado num tinto, e notas de frutos vermelhos.
“O Palhete tem 20% de uvas brancas e 80% de uvas tintas. A casta branca que eu escolhi para aqui foi o Antão Vaz e a uva tinta foi o Aragonês e ainda adicionei um bocadinho de Touriga Nacional porque queria ter aquela cor de um blush”, explica Luís.
Sendo um vinho suave, pode ser acompanho por pratos como sashimi, carpaccio, frutos do mar, carnes brancas, comida italiana e comida vegetariana.
NatCool Tinto
Este é um vinho de edição limitada que surge em parceria com a Niepoort. O conceito de “Nat Cool” surge por Dirk Niepoort e une vários produtores com o objetivo de criar vinhos leves e fáceis de beber.
Desde logo este Nat Cool da Herdade do Cebolal destaca-se pelo rótulo e pela carica da garrafa. “A ideia é mesmo mostrar que são vinhos de forma artesanal e que as mãos estão sempre envolvidas no nosso trabalho na viticultura. Desde uma poda à sementeira, é tudo feito à mão. Dentro da adega, a pisa é feita a pé e com as mãos a ajudar. E terminamos sempre com auxílio da mão [para levar o copo à boca]”, explica Luís.
Os vinhos natcool são vinhos claros, com baixo teor alcoólico, menos sulfitos e são mais ligeiros. Curiosamente, e por teimosia do Luís, este natcool é feito com uma casta com características opostas: a Alicante Bouchet. “Eu gosto de desafios”, conta Luís.
O processo de produção deste vinho foi baseado em técnicas usados nas primeiras gerações. “Apanhámos a uva, metemos dentro de um lagar com tampa e fechámos, mas em vez de pisar tradicionalmente, o que é que aconteceu? As uvas de cima começam a fazer um esmagamento e criam um sumo que nós chamamos o mosto. O mosto de baixo começa a fermentar e começa a cria um carbono natural, este carbono entra pelos bagos da uva e começa a haver uma transformação de açúcar em álcool dentro dos bagos. Chamamos fermentação carbónica”, explica Luís.
Cebolal “Clarete” 2022
O Clarete é um vinho tinto produzido com uma casta típica da região, a castelão. Apesar do potencial desta casta por vezes não ser reconhecido, Luís quis demonstrar que era possível obter um bom resultado dela. “Acho que a Castelão é uma casta muito maltratada em Portugal. É uma casta em que os seus vinhos jovens são ásperos e as pessoas não gostavam, até chamavam o vinho carrascão”, explica.
O segredo, conta-nos, está no tempo de espera. “Se tivermos tempo para os guardar, tornam- se grandes vinhos. E aqui eu quis explorar um castelão com uma filosofia diferente, um castelão que fosse bebível todo o ano, seja no inverno, seja no verão e no verão”, conta.
O vinho apresenta uma cor rubi e no nariz sentem-se notas florais e de frutos vermelhos.
Cebolal Vinha da Casa Branca 2022
As castas utilizadas neste vinho são Arinto e Antão Vaz. Ao contrário de outros brancos, a cor é um bocadinho mais escura.
Luís Capitão, apaixonado pela produção do vinho, explica que a cor se deve também ao estilo curtimenta utilizado. “O mosto esteve em contacto com as películas cerca de 15 dias. O objetivo é tornar o vinho oxidável, ou seja, estar em contacto com o oxigénio, e o que significa que eu já estou a tornar o vinho mais pronto a beber para depois não carregar com sulfitos.”
Este é um vinho que acompanha bem frutos do mar, peixes grelhados e carnes brancas.
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