Os fatos de treino e ténis desportivos são as primeiras coisas que saltam à vista nas fotografias. Vestidos assim, podiam passar por um grupo de jovens a passear na rua, se não fosse o facto de estarem a caminhar, sem qualquer tipo de equipamento de proteção pessoal, na infraestrutura mais alta e restrita de Lisboa, a Ponte 25 de Abril.

A notícia da sua detenção por agentes da PSP, em abril do ano passado, já depois de alcançarem o topo do pilar sul da ponte, passou relativamente despercebida na altura, mas as fotografias e o vídeo da sua arriscada passeata continuam a impressionar pelo seu atrevimento e (literal) desprendimento. Um dos elementos do grupo, conhecido por daringducky69 no Instagram, com 21 anos de idade e trabalhador em altura na construção civil, respondeu às nossas perguntas sobre o que os levou a arriscar a perigosa escalada.

As vossas fotografias e vídeo mostram-vos no topo de um dos pilares da Ponte 25 de Abril. Caminharam mesmo até lá acima ou usaram outros meios? E sem qualquer corda ou proteção?

Basicamente subimos um tubo de metal na base da ponte e a partir daí conseguimos aceder ao cabo principal da ponte. Nenhum de nós tinha qualquer equipamento de segurança, embora já tenhamos estado em situações parecidas, pelo que conseguimos fazê-lo sem arneses e afins.

A superfície da ponte estava um pouco molhada da condensação enquanto subíamos para apanhar o nascer do sol, mas isso não afetou muito a nossa aderência. Agarramo-nos sempre aos cabos da ponte como precaução de segurança. Mas a sério, não é tão perigoso ou assustador quanto uma pessoa normal possa imaginar. E para a nossa surpresa, quando descemos, um agente da polícia também estava empoleirado no cabo, sem nenhum arnês.

a sério, não é tão perigoso ou assustador quanto uma pessoa normal possa imaginar

A ponte era o objetivo principal da vossa viagem a Lisboa? Ou estavam apenas de visita e decidiram, no momento, escalá-la?

Estivemos em Portugal à volta de cinco dias no total. Isto não foi assim o objetivo total da viagem, mas sabia que era algo que eu gostaria de fazer. Então, fomos espreitar ao vivo, para ver se era possível ou não, e foi aí que decidimos "despachá-la". E eu, definitivamente, não me arrependo disso. Essa foi quase a minha primeira viagem ao exterior do Reino Unido.

O vosso grupo parece muito jovem. Onde é que aprenderam a superar o medo das alturas?

Então, quando escalámos a ponte eu tinha 20. O mais jovem do grupo. Estava plenamente consciente do perigo e dos riscos envolvidos. Mas nunca tive realmente medo das alturas. Quando era miúdo, era capaz de subir a árvores e coisas assim, nada demais. À medida que fui crescendo, fui notando que havia mais coisas, e mais altas, para tentar. Muitos dos vídeos que aparecem no Instagram ou no Youtube podem parecem estupidamente perigosos mas não é realmente tão perigoso quanto possa parecer. Não me entendam mal, um deslize e acabou. Os acidentes acontecem. Todavia, quando escalamos, isso é a única coisa em que estamos a pensar, por isso podemos focar-nos por inteiro naquilo que estamos a fazer e ter a certeza que estamos em segurança. É muito difícil explicar mas é mais seguro do que atravessar a estrada, na minha opinião. Estamos em pleno controlo de toda a situação. Não é como um carro que pode estar a acelerar para passar um semáforo vermelho e apanhar-nos. Ou seja, é tudo uma questão de controlo.

Ponte 25 de Abril
créditos: Instagram/Daringducky69

Pode parecer irresponsável quando começamos a gravar tudo nos telemóveis e as pessoas pensam que estamos a fazê-lo pelos gostos e seguidores. Não posso falar por todos mas, para mim, trata-se simplesmente de partilhar uma experiência que pouca gente pode ter e registá-la como recordação.

Ou seja, as pessoas podem ver estas vistas sem precisarem de quebrar qualquer lei e de se colocarem num ambiente em que um deslize pode custar-lhes a vida.

Se escalar uma ponte não é tão perigoso quanto parece, o que é? Qual foi a subida mais perigosa que tentaste?

Para mim, algo que eu vejo como perigoso é uma situação em que não tenho qualquer controlo sobre o que pode acontecer. Seja a subir uma grua ou uma ponte, estou em total controlo da situação e posso decidir se vou até ao topo ou não. A escalada mais perigosa que já fiz foi estar no topo de uma grua quando começou a chover. Estávamos todos encharcados e escorregadios, pelo que precisei de 40 minutos para descer dali. Contudo, permaneci calmo e levei o meu tempo.

Daringducky
créditos: Instagram/Daringducky69

Tens uma lista de sítios que pensas um dia escalar?

Para ser honesto, as coisas que planeio escalar não são, de todo, legais, pelo que, para já, não vou mencioná-las.