A viagem de ida e volta é entre o Martim Moniz e os Prazeres, em Campo Ourique. Habitualmente é longa a fila de espera na paragem do Martim Moniz.
Para se conseguir entrar tinha de se apanhar uma torreira de sol, o que não anulava a vontade de dezenas de turistas que queriam usufruir de uma das viagens mais conhecidas pelos locais históricos de Lisboa.
No final de junho, ao final da tarde, iniciei a viagem apenas com um casal de turistas. Jovens, de telemóvel na mão a registar alguns momentos e sentados em bancos diferentes, para cada um ter a sua janela alfacinha.
A altura em que viajamos no elétrico ajuda a termos fotografias com perspetivas únicas. É também uma boa oportunidade para quem gosta de fotografia urbana.
O casal saiu em Alfama. Nós fomos até à Estrela e só numa breve fase do percurso é que os bancos estiveram todos ocupados.
O ambiente é completamente diferente. Ouve-se português no interior, apesar de serem muito poucos os diálogos.
Os lisboetas dos vários bairros fazem curtas deslocações. Adivinha-se que foram às compras ou regressam a casa. Um deles toma apontamentos num bloco. Uma mulher esqueceu-se de colocar a máscara e agradece o aviso feito por outra pessoa.
Um homem, com mais idade, dobra o joelho, o banco duplo é todo para ele, e observa a paisagem. Alguns imigrantes contam por telemóvel o dia a dia em Lisboa e outros deslumbram-se porque estão a ter o mesmo prazer da descoberta, tal como os turistas.
Como não há passageiros em pé consegue-se ver para os dois lados do elétrico. Observa-se o Tejo nas Portas do Sol e, momentos depois, as ruas vazias no caminho para o Castelo.
Nos bairros residenciais, como por exemplo na Graça, os passeios têm muita gente. Pessoas que fazem a sua rotina, outras em fila para lojas e minimercados.
Alfama é quase um deserto, a baixa pombalina regressou ao vazio de há duas décadas atrás. Muito comércio está encerrado. Só o Chiado e o Camões preservam algum ambiente pré-COVID.
A praga dos tuk-tuks foi quase erradicada. No percurso de ida e volta não vi mais do que meia dúzia.
A viagem no 28 é muito mais rápida do que o habitual. O entra e sai é num instante e em algumas estações nem chega a parar.
No final do primeiro percurso, um pouco antes da Estrela, o elétrico tinha penas dois ocupantes.
Recuperámos o uso do 28, mas, no final, fica alguma angústia. Lisboa deixou de ser a mesma a que nos habituámos. Cosmopolita, um mosaico frenético de rostos, sorrisos e de sons em variadas línguas. Venham (não exagerem) e fiquem lá com o 28!
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