O escritor José Luís Peixoto e Thor, o viajante que visitou todos os países do mundo sem usar avião, estão entre os oradores mais conhecidos da terceira edição do Travel Fest, organizado pela Associação de Bloggers de Viagem Portugueses (ABVP). Filipe Morato Gomes é o presidente da ABVP e ele próprio um "veterano" no universo dos blogues de viagem em Portugal, a quem colocámos algumas perguntas sobre o que esperar do festival.

SAPO Viagens: Estamos na terceira edição do ABVP Travel Fest, o que te motiva mais na organização deste festival?

Filipe Morato Gomes: Aquilo que nos motiva, na ABVP, é o espírito de partilha de conhecimento - algo que esteve na génese da criação da própria associação. Pessoalmente, tenho a felicidade de já ter participado em inúmeros festivais ligados às viagens e à produção de conteúdos sobre viagens, em Portugal e no estrangeiro, e sei bem o quanto esses momentos podem ser transformadores. É por isso que tentamos trazer a Portugal oradores com histórias fortes e inspiradoras, que possam ter impacto real nos participantes, e acreditamos que podemos provocar esse click, essa inspiração que ajude as pessoas a faze algo mais para cumprirem os seus sonhos.

Por outro lado, num mundo cada vez mais digital e contactless, é bom estarmos juntos com os nossos pares, com gente que partilha a mesma paixão. Um abraço continua a ser um abraço, e eu vou dar muitos em Guimarães!

Porquê a mudança do Travel Fest para Guimarães?

Depois das edições no Porto e em Matosinhos, fomos desafiados pela Câmara Municipal de Guimarães - entre várias outras! - a levar o festival para o seu território. Se Guimarães, por si só, já uma cidade vibrante, tocou-nos de forma especial o facto de, desde o primeiro minuto, sentimos uma sintonia tão grande com os profissionais da autarquia - desde o Vereador com o pelouro aos técnicos de turismo - que a decisão de fazer o evento na “Cidade-Berço” acabou por se revelar lógica e natural. Até porque Guimarães é uma das cidades mais bonitas de Portugal, com um centro histórico que a UNESCO classifica como Património Mundial, gente verdadeiramente apaixonada pela sua terra, um grande dinamismo cultural e uma gastronomia cada vez mais inovadora. Por tudo isso, estou certo que tanto os oradores convidados como os participantes vão ser muito bem acolhidos em Guimarães, e que esta edição do ABVP Travel Fest será um enorme sucesso.

Filipe Morato Gomes
Filipe Morato Gomes créditos: Viajar entre Viagens

O Torbjørn C. Pedersen, ou apenas Thor, é um dos oradores mais intrigantes desta edição do Travel Fest, por desafiar-nos a viajar mais devagar. O que estás curioso para saber sobre a sua volta ao mundo?

Nós desafiámos o Thor a vir a Portugal contar a sua história muito antes dele terminar a viagem para visitar todos os países do mundo, porque nos pareceu incrivelmente inspiradora e poderosa em termos de mensagem. Não só o viajar mais devagar e com reduzido impacto ambiental. Porventura o mais fascinante será perceber as suas motivações (“porque nunca tinha sido feito antes”, diz ele) e, principalmente, a resiliência e perseverança necessárias para empreender uma jornada desta magnitude.

É preciso não esquecer que o Thor esteve em viagem praticamente 10 anos seguidos, foi apanhado durante o projeto - chamado Once Upon a Saga - por uma pandemia que literalmente parou o mundo e, apesar de todos os contratempos e dificuldades, nunca desistiu do seu sonho. A sua palestra será com toda a certeza um dos momentos altos da edição 2023 do ABVP Travel Fest. Mas outros haverá.

Quem não aguarda com grande expectativa, por exemplo, os ensinamentos sobre sustentabilidade e ética na produção de conteúdos de viagens que a JoAnna Haugen vai partilhar? Ela será também uma das participantes no debate que vamos lançar tendo como pano de fundo os desafios do turismo em excesso e o papel de cada um na minimização desses impactos. E, claro, o “nosso” José Luís Peixoto, escritor-viajante com muita experiência e muito querido pelo público; ou ainda os canadianos Dave & Deb, autores de um dos blogs de viagem mais conceituados do planeta chamado The Planet D.

Ao nível da comunidade de bloggers de viagem, que valor consideras tem hoje em dia manter um blog de viagem, por oposição a ter apenas um perfil nas redes sociais?

São duas coisas completamente distintas. Eu confesso não ter muito interesse nas redes sociais, apesar de reconhecer que podem ser um meio muito poderoso para comunicar, mostrar a diversidade do mundo, esbater preconceitos e inspirar comportamentos mais responsáveis por parte de quem viaja. O problema é que documentar uma experiência interfere quase sempre com o usufruto dessa experiência (como estar num concerto a gravar com o telemóvel, em vez de simplesmente desfrutar do momento).

Além disso, aparentemente o que melhor resulta nas redes sociais é o viajante ser, ele próprio, o foco da comunicação, em vez dos lugares propriamente ditos. E para isso creio que nunca estarei disponível. Continuo a preferir uma postura de menor exposição, atrás de um teclado que produz artigos e de uma câmara que filma e fotografa, em que eu não sou o objeto retratado no meu trabalho no Alma de Viajante.

Felizmente, o blog continua a ter o poder de inspirar as pessoas a ganharem mundo, de promover atitudes mais conscientes, de transmitir informações práticas que as podem ajudar nas suas viagens, incluindo a pouparem dinheiro, a irem para além do óbvio ou a terem experiências mais enriquecedoras nos destinos que escolhem visitar. Estou consciente dos riscos - ao fazer um artigo com sugestões sobre o que fazer em determinado destino, estou indiretamente a ajudar à massificação do turismo nesses locais -, mas acredito sinceramente que a estrada é a melhor escola de vida e que há-de ser possível encontrar um equilíbrio entre os benefícios do turismo e o lado mais negativo e destrutivo desta atividade lúdica. Até porque aquilo que partilho é apenas o resultado da minha experiência pessoal enquanto viajante e está muito longe de ser um guia de viagem como os velhinhos Lonely Planet para seguir de forma cega e acrítica.

Da última vez que falámos contigo, em fevereiro de 2021, ainda estávamos longe de desconfinar e regressar às viagens. Podes contar-nos para onde foste na tua primeira viagem pós-pandemia (na altura, tinhas o Paquistão debaixo de olho) e como foi a sensação de poder sair do teu quotidiano mais próximo?

É verdade. Felizmente, nos últimos dois anos tenho viajado bastante, mas a primeira viagem que fiz depois dessa altura foi em abril de 2021, ao México. Apesar de ainda ser preciso fazer testes PCR, foi uma espécie de viagem de libertação, em que voltei a sentir o doce sabor da liberdade que só a estrada me proporciona.

O Paquistão continua um desejo adiado, por vários imponderáveis que aconteceram desde então. Espero concretizar no próximo ano, porventura juntando outros destinos nas proximidades para montar uma viagem de maior dimensão que tenho muita vontade de concretizar. Tenho imensos planos para 2024! A ver vamos.

Podem seguir as viagens do Filipe no seu blog Alma de Viajante e obter mais informações sobre o ABVP Travel Fest 2023 na sua página oficial.