Ângelo Arribas toca e constrói instrumentos na sua pequena oficina, “aqui é onde passo os meus bocados. Onde faço as minhas flautas, caixas, bombos, tamboris, gaitas de foles, castanholas, paus de pauliteiro...”

A listagem revela bem como ele é um “homem dos sete instrumentos”. Um autodidata que acredita nos seus dotes e com uma enorme força de vontade para experimentar, seguir em frente. Como sucedeu com muitas outras crianças, no então ambiente rude e pobre do planalto mirandês, Ângelo aprendeu a andar nas arribas do Douro. Levava ovelhas e cabras e ficava fascinado a ouvir os pastores espanhóis a tocarem flauta e tamboril.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Não tardou a dar corpo a uma vocação que Ângelo acha que já tinha nascido com ela. “As artes saem com as pessoas. Depois, depende se a pessoa a põe em prática ou não.” Para passar o tempo, como não havia rádio ou televisão, “enquanto andava com o gado e ao ouvir a música dos pastores espanhóis” começou a improvisar instrumentos, por exemplo com palhas de centeio. “Eu passava os dias a ouvi-los e a ver como tocavam a flauta e o tamboril ao mesmo tempo.” Passado pouco tempo, com os escassos recursos que tinha ao seu dispor improvisou uma flauta e um tamboril. A flauta era de sabugueiro.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

O tamboril foi feito a partir de uma lata espanhola e juntou duas peles de coelho que “rapei com uma lâmina de fazer a barba. E qual foi o espanto dos meus pais quando me viram entrar em casa a tocar o tamboril e a flauta! Claro que não era uma coisa muito bem feita, era um remedeio, mas deu para aprender a tocar por esse mundo fora.”

A segunda atuação de Ângelo Arribas foi quando chegaram os saltimbancos e o convidaram para tocar pelo meio do povo. Para anunciar a atuação à noite na qual ele e a família podiam entrar sem pagar. Era a retribuição pelo serviço.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Foi o início de uma paixão que o levou a muitos lados do mundo e que ele já perdeu a conta, apesar de registar alguns países numa flauta.

Ao longo do tempo, enamorou-se por outro instrumento que ouvia os gaiteiros tocar, inclusive um cunhado. O fascínio era de tal forma grande que a primeira gaita de foles que construiu foi com palhas de centeio e pele de rato. Um dia estava com algumas vacas na zona de Mogadouro e caçou um rato. Com a pele do animal e com palhas de centeio fez uma imitação de uma gaita de foles.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Já com quase 50 anos de idade decidiu construir uma gaita a sério e mandou vir um fole da Galiza. Quando “ia todo contente na praça de Miranda do Douro encontrei o padre Mourinho, (uma das referências da cultura mirandesa) o nosso chefe dos Pauliteiros e que montou o Museu da Terra de Miranda” e não gostou de ver o fole da Galiza.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

“Disse-me, tira isso daí para fora que não é nosso. Compra um cabrito, come-o e entrega a pele ao Zé Augusto em Sendim. Assim fiz e paguei cinco contos pela pele. Depois preparei a gaita de foles com a pele que ainda tenho.”

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Quando finalmente cumpriu o sonho da gaita de foles Mirandesa percebeu que tinha outro futuro, incentivado por palavras do padre Mourinho. “E assim fiz. Construí muitas gaitas. Naquela altura era só eu”.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

A produção era em grande quantidade e, conforme reconhece, nem sempre a qualidade era a prioridade. Chegou a fabricar 45 gaitas em 30 dias “mas uma gaita, para ficar bem, em menos de uma semana não se faz.”

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Nas contas de Ângelo Arribas, na altura em que começou a construir gaitas de foles, há pouco mais de três décadas, havia cinco ou seis gaiteiros. Hoje há muitos mais e ele próprio ensinou alguns. “Muitos dos que aprenderam comigo tocam melhor do que eu. Em programa não. Mas a tocar sim, o que é bom.” Sempre otimista.

Ângelo Arribas
créditos: andarilho.pt

Ângelo Arribas de músicas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O mundo inteiro no seu email!

Subscreva a newsletter do SAPO Viagens.

Viaje sem sair do lugar.

Ative as notificações do SAPO Viagens.

Todas as viagens, sem falhar uma estação.

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOviagens nas suas publicações.