Os tapetes são feitos de flores que as pessoas vão apanhar no campo. São peças grandes e coloridas.
Os desenhos são motivos religiosos e cada tapete é colocado no piso de uma das três igrejas ou sete capelas de Sardoal. Tudo é preparado até quarta à noite, por vezes, madrugada.
Os templos abrem as portas na tarde de quinta feira santa e, à noite, é a procissão do Senhor da Misericórdia, também conhecida por procissão dos Fogaréus.
Diz Miguel Borges, presidente da Câmara de Sardoal, que “é uma procissão com uma mística especial. A iluminação pública é apagada, a procissão corre as ruas de Sardoal à luz de archotes, velas e fogaréus, daí o nome da procissão. O único som é o bater das varas dos irmãos da Misericórdia e a filarmónica União Sardoalense.
É um corredor humano definido ao longo das ruas pelas luzes cintilantes dos archotes e velas. Nas janelas e varandas de muitas casas há centenas de lamparinas e que acentuam o ambiente místico de que falava Miguel Borges.
Os rituais religiosos prolongam-se até Domingo, na vila e nas outras localidades do concelho, mas, sem dúvida, que na quinta-feira é quando se verificam os momentos mais interessantes e que juntam muita gente.
“Na quinta-feira é quando se abrem as portas das igrejas e das capelas, após o trabalho que é feito nos dias anteriores com as pessoas a irem ao campo colher as flores e fazerem os tapetes. Abrem-se as portas das igrejas e capelas para serem visitadas e as pessoas verem os magníficos tapetes.”
Os bonitos e coloridos tapetes de flores continuam no interior das capelas e igrejas até domingo. Os rituais da Páscoa saíram para fora da vila. “Há alguns anos alargámos a todo o concelho. Há grupos de sardoalenses que, normalmente, tomam contam das capelas e igrejas.
São muitas dezenas de pessoas que executam os tapetes. Há muita gente envolvida, desde a Misericórdia, alunos das escolas, associações, moradores. Com a procissão e a União Filarmónica há uma envolvência muito grande de toda a comunidade.”
É um trabalho moroso e delicado cujo saber é transmitido de geração em geração. É exemplo a família de Miguel Borges: “a minha mulher é sardoalense e recorda-se quando era criança de ir fazer os tapetes com a família. Depois ela também fez durante muitos anos e mais tarde os meus filhos também fizeram juntamente com a mãe. É um exemplo de como a tradição vai passando de geração em geração.”
O registo escrito mais antigo sobre os tapetes de flores no Sardoal na celebração da Páscoa é de há 200 anos. Miguel Borges acredita que “a tradição se mantém fiel.
“Temos tentado preservar, no âmbito da fé e da religiosidade, mas também para além disso. É exemplo o projeto Capela que tem mais de 20 anos. A escola faz um trabalho com os alunos de uma maquete de um tapete de flores que depois é colocado numa das nossas capelas.”
A envolvência da comunidade é grande ao longo dos três dias de celebrações da Páscoa. Os rituais decorrem num espaço que não é muito grande. Está concentrado no centro histórico e com um património religioso relevante.
Algumas igrejas são muito antigas, é o caso da igreja Matriz, que remonta ao final do século XIV e que tem um conjunto valioso de sete retábulos de madeira pintados a óleo de Vicente Gil, o mestre do Sardoal, e do filho. São do início do século XVI e a igreja está classificada como Imóvel de Interesse Público.
A singular Páscoa no Sardoal com tapetes de flores e procissão dos fogaréus faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários