As habitações e as estruturas de apoio como, por exemplo, escolas, igreja, centros de convívio e sociais são marcadas por traços de modernismo.
O principal arquiteto deste projeto, único a sul do Tejo, foi Eugénio Correia. Curiosamente, em alguns aspectos encontramos traços muito próximos com a obra de Niemeyer em Belo Horizonte.
A Igreja de S. Francisco foi construída em 1945, uma década antes da Igreja de Santo Isidro em Pegões (1957), e as linhas curvas que marcam a arquitetura dos dois edifícios é muito semelhante. Outra particularidade comum são as entradas laterais através de estruturas em forma de arco.
O mesmo se passa com a decoração do altar-mor onde a pintura de Severo Portela Júnior é também dominada por linhas curvas com a figuração de Santo Isidro, o patrono dos agricultores.
A Junta contratou vários profissionais e um deles foi Artur Bual qualificado por alguns críticos de arte como um dos melhores artistas plásticos da contemporaneidade.
Muito próximo da igreja estão duas escolas e três casas. Mais uma vez dominam as linhas curvas. O tecto tem uma linha curvilínea e cada extremo termina com um arco.
Na parte da frente e na traseira há também anexos com a forma oval. As únicas linhas retilíneas são os canteiros das flores e as janelas.
Os edifícios são de cimento estão pintados de branco e as linhas curvas têm uma pintura amarela. As escolas estão a funcionar e em redor há espaço livre e uma área arborizada.
As três casas têm linhas arquitetónicas muito parecidas com as escolas. São pequenas e estão recolhidas entre o arvoredo. Duas são das professoras e a terceira casa está atribuída ao padre.
Num primeiro olhar este conjunto parece um cenário de um conto de fadas, uma ilustração de banda desenhada, com a harmonia das cores, da paisagem e das linhas arquitetónicas da igreja, das escolas e das casas.
Sobre este conjunto de estruturas, a publicação da Câmara de Montijo sobre a Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões cita o arquiteto Nuno Teotónio Pereira: ...as obras de Eugénio Correia, com as suas construções em superfícies parabólicas, constituíram um grito de radical modernidade que fazem delas um caso singular no panorama da arquitetura em Portugal. (...) A juntar a isso, acontece que, dentro desta forma, não muito comum no contexto da arquitetura moderna, a técnica construtiva, à base de fusos cerâmicos, lhes confere uma acrescida originalidade.
A história da Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões é um pouco diferente. De muito esforço, trabalho e em alguns casos de pouca harmonia. A área do colonato agrícola é anexa mas tem uma disposição diferente e uma arquitetura menos arrojada. Está dispersa ao longo de uma estrada, talvez por mais de dezena de quilómetros.
As casas estão rodeadas de espaços agrícolas porque a antiga Herdade de Pegões era propriedade do Estado e foi dividida em parcelas de 18 hectares. Cada uma pertencia a uma família, tinha uma área de habitação e outra para serviços agrícolas como o alpendre, o estábulo, o palheiro e o silo dos cereais.
A cada uma das 206 famílias de colonos foi ainda entregue uma vaca, uma vitela, uma égua, uma carroça com alfaias e um empréstimo de seis mil escudos.
Estes bens eram fornecidos por um período de três a cinco anos. Caso a adaptação fosse positiva (em muitos casos não foi) os bens passavam para as famílias a título definitivo.
Henrique António também chegou a Santo Isidro na década de 50. Era motorista e trabalhava para a Junta de Colonização. Ele diz que os colonos vieram de várias regiões e alguns já tinham filhos. Eram todos trabalhadores agrícolas e semeavam milho, trigo e cevada. Tinham um mapa onde faziam a troca das sementeiras.
Para amortizarem o empréstimo, os colonos entregavam um sexto das receitas do trabalho agrícola à Junta de Colonização Interna e tinham uma caderneta da CGD onde amealhavam o pouco rendimento que conseguiam.
Muitos passaram por dificuldades.
As casas entregues aos colonos há 65 anos já sofreram muitas alterações e em alguns casos de forma desajustada. As parcelas estão numeradas e Henrique António diz que as casas que mantêm a construção original são as primeiras.
As habitações estão ligeiramente recuadas da estrada. Algumas têm uma vedação ou um muro à beira da via de comunicação.
As casas são constituídas por dois blocos, um mais alto com um longo telhado num dos lados e depois um ligeiro declive no outro lado. No vértice destas linhas há uma janela. Em baixo está a porta de entrada com um recorte em arco. O outro bloco não tem porta na parte dianteira. Mais parece ser um armazém de alfaias agrícolas. Muitas casas estão rodeadas de árvores e outras têm um pequeno jardim. Nesta área alguns terrenos estão plantados com pomares ou pinhal.
Entretanto, as propriedades foram entregues aos colonos em 1988 e alguns acabaram por vender. Em outros casos, as famílias continuam a ter atividade agrícola e pecuária mantendo a agricultura como a atividade principal da aldeia, tal como quando da sua colonização. Hoje Santo Isidro tem mais de 1500 habitantes.
A aldeia Moderna de Santo Isidro de Pegões faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui. A emissão deste episódio, A aldeia Moderna de Santo Isidro de Pegões, pode ouvir aqui.
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