Uma delas surpreende o nosso olhar por ser bonita e ter uma arquitetura inovadora, mais ainda se tivermos em conta a época em que foi construída.
É a Igreja de Santo Isidro de Pegões, foi inaugurada em 1957, e é da autoria do arquiteto Eugénio Correia.
O exterior tem linhas e pormenores que se destacam.
O interior é mais despojado com a atenção a centrar-se na pintura de Severo Portela Júnior que retrata Santo Isidro, patrono dos lavradores.
A igreja foi mandada construir pela Junta de Colonização Interna, uma estrutura criada em 1936 e que tinha como objetivo a colonização de terrenos e o desenvolvimento agrícola.
Tal como em outros locais, na Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões, a Junta também mandou construir estruturas de apoio aos colonos como por exemplo escolas e igrejas (na Lei, o Estado era laico).
Muitos destes edifícios são da autoria do arquiteto Eugénio Correia e constituem um forte e inovador sinal de modernidade, sublinhado por Nuno Teotónio Pereira numa publicação promovida pela Câmara Municipal do Montijo: ...as obras de Eugénio Correia, com as suas construções em superfícies parabólicas, constituíram um grito de radical modernidade que fazem delas um caso singular no panorama da arquitetura em Portugal.
A Junta contratou vários profissionais e um deles foi Artur Bual qualificado por alguns críticos de arte como um dos melhores artistas plásticos da contemporaneidade.
Bual foi contratado como desenhador e, talvez, devido ao bom relacionamento com o engenheiro Vasco Leónidas, presidente da Junta, conseguiu levar um traço modernista para o interior das igrejas.
Nesta região há pinturas de Artur Bual nas igrejas das Faias, Pegões e em Bombel que já pertence ao concelho de Vendas Novas.
Na capela de S. Pedro em Bombel, inaugurada em 1964 e da autoria do arquiteto Trindade Chagas, há várias pinturas de Artur Bual.
As mais expressivas são a figuração do Espírito Santo e de São Pedro que o padre Luís Peralta interpreta como a representação de um homem sereno, simples, experiente e de fé.
Devido à dimensão desproporcionada da imagem, as pessoas que visitam pela primeira vez a capela ficam surpreendidas e perguntam quem é.
Quem transportou várias vezes Artur Bual para Bombel foi Henrique António. Era motorista na Junta de Colonização Interna e andou com Artur Bual para muitos lugares, até visitou o atelier em Lisboa.
Trocava impressões com o artista mas nem sempre estavam de acordo.
Não surpreende, porque Bual tinha uma expressão plástica fortemente influenciada pelo expressionismo e, por vezes, com um registo abstrato como é exemplo o tríptico que está no altar da igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Pegões.
Artur Bual fez também as pinturas no interior da Igreja das Faias, muito próximo de Santo Isidro.
De registar ainda três pinturas para o Centro de Formação Gil Vaz em Canha, uma das quais está desaparecida.
Artur Bual, que foi ainda ilustrador, cenógrafo e escultor, é também autor da Homenagem à Agricultura, uma escultura das mais notáveis da arte portuguesa do séc.XX e foi feita com peças de máquinas agrícolas.
Foi inaugurada em 1967, demorou três meses a ser construída e está agora junto à sede da União das Freguesias de Pegões.
Artur Bual faleceu aos 72 anos na Amadora em 1999. As Câmaras de Montijo e da Amadora desenvolveram várias iniciativas sobre a obra do artista e pode encontrar mais informação no Círculo Artístico e Cultural Artur Bual.
As igrejas da Junta de Colonização Interna faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui. A emissão deste episódio, As igrejas da Junta de Colonização Interna, pode ouvir aqui.
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