A capital americana não tem o corre-corre de Nova Iorque por exemplo, mas tem uma personalidade muito própria Concebida pelo major Charles Pierre L’Enfant para George Washington, com edifícios que não podem ser mais altos que o Capitólio ou que o Monumento a Washington, DC faz com certeza lembrar algumas cidades europeias.

Claro que a primeira coisa que fiz quando cheguei foi correr o Washington Mall, a alameda que fica entre a Avenida da Constituição e a Avenida da Independência e que é passeio obrigatório. Num extremo está o Monumento a Washington, no outro o Capitólio. Mas no Mall estão os principais museus da cidade, da fundação Smithsonian, todos de entrada gratuita.

Do Museu de História Natural, onde somos recebidos pelo elefante Henry, ao Museu do Ar e do Espaço, que aconselho vivamente a visitar, mas não no Verão, devido às longas filas de turistas, garantindo com certeza um espaço na agenda para o Museu de História Americana, onde descortinamos a formação da nação americana, exploramos detalhes presidenciais e deslumbramo-nos com os vestidos de todas as primeiras-damas do país, a paragem no Mall poderá merecer mais do que um dia. Aqui estão pelo menos 14 museus à disposição e de facto difícil é escolher.

Capitólio e Jardim Botânico
Capitólio e Jardim Botânico

O mais recente é o Museu de História e Cultura Africana Americana, que se destaca pela sua arquitetura distinta e oferece uma experiência muito íntima a quem o visita. No lado completamente oposto, já em direção ao Capitólio, estão o Museu Nacional do Índio Americano, que faz recordar o Grande Canyon, e o Jardim Botânico, famoso pela sua exposição anual de orquídeas.

Para os fãs de história e política a Biblioteca do Congresso e o Arquivo Nacional (o equivalente à nossa Torre do Tombo) são lugares em que nos perdemos com prazer.

Apesar de ser dos poucos museus cuja entrada é paga, vale a pena a visita ao Newseum, na Avenida da Constituição. Uma das peças mais interessantes em exibição é um pedaço do muro de Berlim. O seu rooftop maravilhoso, com vista para o Capitólio, é um dos melhores lugares para apreciar o pôr do sol na cidade.

Jefferson Memorial
Jefferson Memorial e cerejeiras em flor

DC é uma cidade especialmente bonita na Primavera, com o seu famoso festival das cerejeiras em flor (Cherry Blossom Festival), tradicionalmente entre Março e Abril, que cobre todo o Tidal Basin em tons de rosa e branco. Para quem gosta de caminhar e fotografar, esta é uma altura bastante convidativa, é também menos quente. O Tidal Basin é um reservatório de água ladeado por memoriais icónicos: Jefferson, Martin Luther King Jr., Franklin Roosevelt e George Mason.

Ao caminhar pelo Tidal Basin há outros pequenos marcos que poderão passar despercebidos: a Biblioteca das Flores, o Pagode Japonês, a Lanterna Japonesa e o lugar onde foi plantada a primeira cerejeira no Tidal Basin.

Depois de toda essa imersão de cultura é quase impossível parar porque já estamos muito perto do Memorial a Lincoln – mais uma paragem obrigatória. Aqui há uma fotografia que toda a gente tira, com o Monumento a Washington no horizonte. Deste Memorial ao Memorial da Guerra Mundial II a caminhada é curta e mais uma vez devo dizer obrigatória.

Lincoln Memorial
Lincoln Memorial

É verdade que a capital americana tem muitos pontos tipicamente turísticos.

Nos primeiros meses aqui as perguntas eram regularmente as mesmas: “já foste à Georgetown Cupcake?”; “que tal o Kennedy Center e a Catedral de Washington?”; “e tomaste um café no Watergate?” – Começo por dizer que sim, vale a pena visitar a catedral de Washington, especialmente se houver um concerto. A agenda de eventos está disponível no site.

Memorial a Lincoln
Lincoln Memorial: vista para o Washington Memorial

Georgetown per si é vibrante, cheio de lojas que dificilmente se encontram noutros pontos da cidade, uma vista lindíssima para o rio e tem certamente cupcakes deliciosos – valem a pena a espera na longa fila? Creio que sim!

O Kennedy Center oferece uma das melhores vistas da cidade para o condado de Arlington e muitas vezes surpreende com os seus concertos gratuitos. Tomar um café no Watergate é aquele ponto pretensioso na “bucket list” mas que tem muita graça e é mesmo já ali ao lado.

Kennedy Center
Kennedy Center visto do rio Potomac

Se houver tempo, a travessia de barco de Georgetown para Old Town Alexandria é uma óptima forma de ver a cidade.

Todas as sextas-feiras, durante todo o Verão, o jardim da Galeria Nacional de Arte despe-se da seriedade política para descontrair ao som de ritmos dançantes do evento anual Jazz in the Garden. É maravilhoso ver tanta cor e boa disposição pairar por ali.

O Verão de DC é bastante quente e húmido e este é um dos poucos lugares ao ar livre em que os washingtonianos podem consumir bebidas alcoólicas. A sangria e a cerveja são vendidas no local e a comida também. Mas festivaleiros melhor preparados chegam com mantas, cestos de farnel e fazem a festa até às 19h00. Os acessos ao jardim são pela Avenida da Constituição e pelo Mall.

Para chegar ao Mall as estações de metro ideais são National Archives, Smithsonian, Federal Triangle e L’Enfant Plaza, nas linhas amarela, verde, laranja e cinzenta.

Jazz in the Garden
Jazz in the Garden

O horário de jantar em DC continua a ser um fator de adaptação para mim. Felizmente, à medida que a cidade se vai renovando já começam a aparecer lugares que servem até mais tarde, mas é muito comum jantar entre as 18h e as 19h.

Um dos meus sítios preferidos é The Capital Grille. Também na Avenida da Constituição, ao lado do Newseum, tem das melhores ostras, serviço, carta de vinhos e um prato de mini preguinhos que são de comer e chorar por mais. A experiência de jantar no bar é perfeita para aquela conversa com o empregado de bar que acaba sempre por dar as melhores dicas sobre a cidade, ou para ouvir as últimas tricas políticas.

Os brunchs continuam bastante na moda. O ideal é usar aplicações como a Open Table para reservas. Na rua 14, na zona noroeste da cidade (NW), está o concorrido Le Diplomate, uma homenagem à cozinha e cultura francesas que satisfaz em pleno alguém que tem saudades de um bom pão português.

Ainda na 14 outra opção a considerar é o Barcelona. Mais uma experiência europeia, que é um verdadeiro charme em qualquer altura do ano, perfeito para happy hours ou para tardes de tábuas de enchidos e queijos.

Na U Street, mesmo ao pé da 14, a cultura urbana e gastronomia casam na perfeição, legitimando todos os dias um dos negócios mais antigos da cidade. Em funcionamento desde 1958 e sobrevivente da revolta de 1968, o restaurante Ben’s Chilli Bowl é de uma das famílias mais respeitadas, não só na capital, mas também em todo o país. O restaurante de DC é o primeiro de todos e mantém muitos dos aspectos originais.

As suas paredes estão entre as dezenas de murais em graffiti de DC que prestam homenagem a figuras da política e cultura americana que vão desde os Obamas, a Prince, passando por Muhammad Ali. Este é um dos poucos lugares, senão o único, onde é normal pedir um cachorro quente com feijão, queijo e molho picante!

U Street
Parada na U Street

Por todo o corredor da rua U, chegando até ao Shaw, DC vibra entre a sua velha arquitetura, de casas vitorianas, geminadas, em tijoleira e muitos murais surpreendentemente coloridos que abordam a política, a música, a comédia, a literatura, ativismo social e muito mais.

Ainda na U, está outro dos meus lugares preferidos, o Marvin. Com música ao vivo regularmente, o edifício de dois andares tem um restaurante no rés-do-chão e um bar no terraço. Inspirado na vida no exílio do cantor Marvin Gaye na Bélgica, partilha o mesmo conceito do Eigtheenth Street Lounge, na rua 18, NW. Ambos são do mesmo dono. No Marvin, no entanto, há uma conexão mais forte com a cultura americana no que toca à culinária, que faz uma fusão entre a gastronomia do sul dos Estados Unidos e as influências dos vários lugares por onde Gaye passou.

A melhor forma de chegar à rua 14 ou à U é usando o metro. A estação é U St/African-American Civil War Memorial/Cardozo, nas linhas verde e amarela.

Casa Branca
Casa Branca

As happy hours em DC são um óptimo escape à tensão que a cidade parece impor por ser a capital da nação americana. O rooftop W, com vista para a Casa Branca, parece um contrassenso quando falamos em relaxar, mas a vista é impagável!

Ah, e claro, não podemos deixar DC sem aquela foto da praxe em frente à Casa Branca. Se nos esquecermos, podemos sempre voltar, basta reservar bilhetes para Washington na TAP. E ainda há mais para explorar!

Texto: Beatriz Moreno