Juntos formam o projeto Happyevertravel que começou como uma forma de guardar as memórias das escapadinhas que faziam, mas que se transformou numa comunidade de mais de 100 mil seguidores no Instagram que acompanham as viagens de Carla e Dinis. "Tentamos passar a mensagem de que viajar não é um “bicho de sete cabeças”, nem é só para quem se despediu e tem imenso tempo livre ou muito dinheiro", contam os nossos Viajantes do Mês de julho.
Como/quando começou o “bichinho” das viagens?
Dinis: O bichinho despertou de forma tardia. Desde sempre fui fascinado por história e cultura, principalmente a europeia. Imaginava-me em determinados lugares a ver o que os meus antepassados observaram por séculos ou milénios… No entanto, esse sonho foi sempre adiado, por pensar que viajar era um luxo. E é, mas percebi depois que há várias formas de o fazer à medida de todas as carteiras!
Carla: Eu sempre ambicionei conhecer “outros mundos”, mas não é algo que me tivesse sido incutido na infância. No entanto, recordo-me que sempre que podia procurava “arrastar” os meus pais para algum lado! Quando conheci o Dinis, tinha sofrido uma reviravolta na minha vida e estava determinada a visitar todos aqueles lugares que só tinha visto “nos livros” e que andava a adiar! Pensei até em voluntariado, mas acabei por não o fazer. Tinha vivido um ano em Lyon e a partir de lá conheci algumas cidades/países em redor, mas queria mais! Numa das primeiras conversas que tivemos, falei ao Dinis de uma lista de cidades/países que tinha feito e queria visitar nos próximos tempos. Partia dali a uma semana para Bordéus e Paris, portanto não sei se ele entendeu, mas foi um aviso do que estava para vir se se juntasse a mim no futuro. Comprei a nossa primeira viagem para Madrid e fomos somando cidades e países até a COVID-19 aparecer e nesse momento decidimos explorar mais do nosso bonito Portugal, especialmente lugares menos conhecidos da zona norte! Foi aí também que a nossa página de Instagram começou a crescer.
De que forma tentam inspirar os seus seguidores no Instagram?
Tentamos passar a mensagem de que viajar não é um “bicho de sete cabeças”, nem é só para quem se despediu e tem imenso tempo livre ou muito dinheiro!
Sabe muito bem ir, mas também sabe muito bem regressar, ter uma base
Quando começamos a página em 2018, apenas queríamos guardar digitalmente as memórias das nossas escapadinhas a dois, mas começamos a partilhar dicas de como o fazíamos, especialmente porque havia muita curiosidade em perceber como um casal com empregos ditos "comuns" conseguia viajar “tanto”. Queremos que entendam que se isso acontece é porque é a nossa prioridade no momento (embora o pudesse ser ainda mais), mas (apesar de já nos ter passado pela cabeça) nunca quisemos realmente despedir-nos para viajar pelo mundo a tempo inteiro e não é preciso fazê-lo para viajar da mesma forma que nós! Invejamos (de forma saudável) quem o faz e até podemos chegar a um momento da nossa vida em que isso efetivamente aconteça, mas pensamos que o equilíbrio entre trabalho e viagens é o melhor! A viagem é o sair da realidade, o escape da rotina! Sabe muito bem ir, mas também sabe muito bem regressar, ter uma base.
Além de viajar, gostam muito de…
Eu (Carla) gosto muito de planear viagens, fotografar e filmar lugares, edifícios e pessoas! Todas estas paixões acabam por estar relacionadas entre si e também as partilho com o Dinis que, além disso, tem interesse no design gráfico e no teatro, tendo até integrado um grupo durante alguns anos (curiosamente eu também, mas noutra altura da vida). Não passamos sem café, o que fora de Portugal não dá muito jeito. Já bebemos muitos cafés intragáveis em viagem!
Como conseguem conciliar a vida profissional com as viagens?
Muitas pessoas nos perguntam se trabalhamos com alguma agência de viagens. Não, mas até já recebemos convites nesse sentido. Eu sou arquiteta e trabalho num gabinete com um horário dito “normal” das 9h às 18h. Nos primeiros anos, fizemos uma ginástica hercúlea para conciliar dias livres, porque o Dinis trabalhava numa superfície comercial e portanto domingos e feriados era algo que ele “não sabia o que era”, mas mesmo assim fomos conseguindo fazer pequenas escapadinhas! Como tínhamos muito para explorar, inicialmente o preço da viagem ditava o destino: procurávamos para determinados dias e aquele que estivesse mais “em conta” era o escolhido! Chegamos a comprar uma viagem de regresso de um destino sem ainda ter o voo de ida comprado, porque estava a 9,99€ (tínhamos que aproveitar!).
Hoje em dia já temos que alargar horizontes (em relação ao destino), o Dinis também já está num trabalho diferente que lhe permite usufruir dos feriados e domingos, mas a máxima de poupar mantém-se. Já dormimos em hotéis 5 estrelas (graças à nossa página de Instagram), mas também já dormimos no carro ou no aeroporto. O nosso mote é: tempo livre é tempo de viajar! Por isso aproveitamos todos os dias de folga para o fazer. Seja para fora, seja cá dentro! Temos ambos 22 dias de férias como (quase) toda a gente e fazemos uso deles da melhor forma possível, ao longo do ano. Isso pode dar a ilusão de estarmos sempre de férias, mas não é verdade.
Viagens mais marcantes e porquê?
Gostamos imenso de Marrocos e queremos muito pisar mais países noutros continentes, com culturas diferentes da nossa. Por muito que, às vezes, possa ser desconfortável, aí é que reside “a piada” da viagem.
A Islândia também nos marcou, porque foi o realizar de uma das "viagens de sonho". A forma como exploramos o país também nos permitiu viver mais intensamente um modo de viajar que gostamos, mas que nem sempre temos a oportunidade de experienciar: uma roadtrip de van.
Destino que querem regressar e porquê?
Vai ser difícil dizer só um, mas aquele que nos vem primeiro à cabeça é: Amesterdam. O Dinis já foi duas vezes. Eu só lá estive uma, mas adorei a cidade, não sei explicar, mas é mesmo a nossa cidade europeia favorita até à data. Também adoramos Veneza, mas é diferente…
Em relação a destinos de natureza, gostamos imenso da tranquilidade das Ilhas Cíes e é um lugar aqui tão próximo de nós. Acampar numa ilha onde o único meio de transporte são as próprias pernas, não tem preço! Às vezes não é preciso ir muito longe para ter experiências incríveis.
A Islândia é também, sem dúvida, um país a regressar. Ficou tanto por ver e experienciar.
Maior peripécia, susto ou experiência marcante que já passaram em viagem?
O Dinis não se esquece de uma viagem de "mini-barco" que fizemos para chegar até à St. Peter's Pool, em Malta. O mar estava muito agitado e o barco abanou tanto que ele só temia que as nossas mochilas (com tudo) caíssem à água e ficássemos sem nada. A ajudar está o facto de ele não gostar de sítios onde não tenha pé, mas safamo-nos. Se bem me lembro tínhamos bilhete de regresso ao ponto de partida (também de barco) mas não usamos e fomos de táxi.
Para mim, sem dúvida que subir a Montanha do Pico foi um desafio e chegar ao topo um sentimento de vitória inexplicável! O cansaço que sentimos foi totalmente recompensado. Costumava dizer que não entendia porque é que as pessoas escalavam montanhas… Claro que não se compara a escala nem o nível de dificuldade, mas vemos por exemplo casos extremos como o do Evereste e eu não compreendia o que os movia, mas agora acho que entendo (só) um bocadinho.
Comprem aquela viagem que querem muito. Nunca vai existir uma altura melhor do que agora
Também ficará para sempre na nossa memória o momento em que vimos as auroras boreais na Islândia. Não sabíamos se devíamos fotografar, se devíamos simplesmente apreciar! Por lá também tivemos um momento arrepiante quando o GPS nos encaminhou por uma estrada na montanha, de noite, começou a nevar e estava um nevoeiro muito cerrado. Era muito difícil inverter a marcha porque a estrada era minúscula e estávamos à beira de um precipício! Fizemos o caminho todo com “os nervos em franja”, mas no final correu bem.
Dica de viagem mais valiosa que podem dar.
Não compliquem, só vão, depois vê-se! Comprem aquela viagem que querem muito. Nunca vai existir uma altura melhor do que agora! Ah, mas por favor pesquisem sempre sobre os esquemas que existem no vosso destino de viagem. Algo que nos deixa irritados é quando vemos alguém ser enganado/roubado em viagem e hoje em dia com a internet é tão fácil perceber o tipo de esquemas que existem. Claro que não podemos prever tudo, até porque os esquemas são cada vez mais e mais elaborados, mas uma pequena pesquisa antes de chegar ao destino pode prevenir muitos dissabores.
Lugar preferido em Portugal.
Já conhecemos parte de (apenas) 23 países, sim parte, porque visitar uma cidade, não é conhecer o país inteiro e vemos isso tão bem pelo nosso próprio país. Em Portugal temos de tudo num território relativamente pequeno. O nosso país é incrível e as ilhas complementam muito bem “o pack”. Nesse sentido, é um orgulho ser português!
Facilmente podemos responder que a “Pérola do Atlântico” ganhou o nosso coração. A Ilha da Madeira conta com cenários de cortar o fôlego. Desde as suas levadas às maravilhosas praias de areia negra, da montanha às piscinas naturais. É mesmo um lugar que todos devem conhecer! Sentimos que é um pouco ingrato só falar da Madeira, porque teríamos uma lista imensa de lugares imperdíveis no nosso país para partilhar, alguns até na nossa própria região (região de Basto) que começa agora também a chegar “ao mundo”, mas é mesmo o primeiro que nos “vem à cabeça” quando nos questionam sobre isso.
Comentários